Quando a internet comercial
chegou, em 1995, poucos tinham acesso ao serviço. Não
demorou muito e a conexão se popularizou, abrindo espaço
também para as redes sociais. A combinação revolucionou a
comunicação e, de olho na movimentação frenética dos
internautas, as empresas perceberam que não poderiam ficar fora
deste ambiente. “Os usuários determinam a presença das empresas nas
redes sociais por meio de suas publicações em diferentes meios de
comunicação, seja para agradecer ou para reclamar de alguma coisa”,
diz Juan Mazzini, analista sênior da prática seguro da empresa de
pesquisa e consultoria Celent.
E quando se fala do uso crescente
dessas ferramentas pelas empresas, as companhias de seguros, em
especial, se destacam: de acordo com um estudo divulgado pela
própria consultoria, na América Latina 78% das seguradoras
usam alguma rede social e mais de 20 milhões de usuários das redes
sociais seguem a indústria de seguros. O Brasil detém a
maior parte desses internautas (13 milhões), mas não é para menos.
Segundo Mazzini, a participação das seguradoras brasileiras nas
redes é muito ativa.
Para as empresas, os canais
digitais funcionam como a famosa divulgação “boca a boca”. “Os
consumidores são muito céticos e acreditam mais na opinião do
outro, o que é ainda mais evidenciado neste ambiente”, destaca o
especialista em marketing digital, Gabriel Rossi, lembrando que as
ferramentas devem ser trabalhadas em conjunto com os
princípios fundamentais do marketing: bom produto, boa relação
com as pessoas e boa entrega. “Não adianta ter uma
ótima estrutura tecnológica se todos esses quesitos não
forem cumpridos. Ter que haver uma interligação”.
Com a conta garantida nas redes e
um amontoado de informações por todos os lados, as empresas
encontram o desafio de catalisar os dados disponíveis no
ambiente digital e utilizá-los a seu favor. Rafael Terra, consultor
de Marketing Digital e Humanização de Marcas e CEO da Fabulosa
Ideia, afirma que isso pode ser feito de diversas maneiras. A
primeira é entender o seu comportamento na web e produzir conteúdo
relevante que flerte com o usuário, pois assim a aceitação da marca
fica mais fácil. “Quando sabemos a profissão, o comportamento de
consumo de conteúdo de nossos prospects, os
anúncios direcionados se tornam mais assertivos e,
consequentemente, geram mais vendas ou leads”,
explica.
Monitorar a marca e seu segmento,
além de selecionar palavras-chave, também faz com que a
empresa ganhe agilidade para atuar numa crise ou mesmo se
antecipar sobre determinada demanda.
Um caminho sem
volta
As redes sociais somam novos
usuários todos os dias. Consideradas um canal de comunicação
informal e descontraído, também são uma fonte importante de
informações sobre perfil, posses e comportamento dos internautas e,
por este motivo, se apresentam como uma oportunidade para que as
companhias de seguros conheçam melhor seu público alvo e
identifiquem oportunidades de criar ofertas de serviços mais
aderentes aos clientes. “Cada interação, informação, reclamação ou
sugestão deve ser analisada, colocando o cliente no centro dos
processos de pesquisa e desenvolvimento das empresas”,
pontua Guilherme Koch Lerner, Digital Strategy & Innovation
Director na ESV Digital.
Segundo o especialista, elas também
podem ser boas plataformas de testes no processo de desenvolvimento
de uma nova solução. Por ser um canal direto com o público, é
possível compartilhar serviços e testar sua aderência e, assim,
investir tempo e dinheiro somente em soluções comprovadas.
O grande desafio, porém, é
identificar os contextos nos quais as empresas podem
participar das conversas com o público. É preciso saber coletar
dados para realizar segmentações efetivas, aproveitando os momentos
dos usuários e ofertar produtos pertinentes para cada público –
como um seguro residencial àqueles que acabaram de se
casar, por exemplo.
Mas não para por aí. Por conta da
conexão quase ininterrupta proporcionada pelos suportes
mobile, as seguradoras conseguem ainda reforçar seu
posicionamento e contribuir para uma mudança de hábito do
consumidor. “O reforço diário, o reconhecimento e o propósito são
pilares importantes em processos de mudança de hábito.
Que tal aproveitar esse tipo de conexão com o mercado consumidor e
ajudar os segurados a dirigir melhor? Ou a parar de fumar, praticar
atividades físicas ou mudar a alimentação? Hábitos saudáveis
diminuem os sinistros, tornando as operações potencialmente
mais rentáveis”, declara Lerne.
Outra possibilidade é reduzir o
custo operacional, o que pode ser feito reunindo as principais
dúvidas dos clientes registradas nos canais de atendimento
(telefone ou chat online) e postá-las nas mídias sociais. Simples,
o processo pode ajudar as seguradoras a otimizar recursos de
atendimento para tratar dúvidas que sejam realmente únicas e
necessitem de interface humana. No caso do mercado segurador, as
dúvidas ficam acerca cobertura e planos, pontos que muitas vezes
são tratados com um linguajar técnico nos contratos e apólices.
“Aproveite para aproximar o conteúdo técnico de uma linguagem mais
coloquial e mais passível de ser entendida, em um ambiente no qual
isto não é apenas permitido, como incentivado”, frisa
Lernet.
As redes sociais mais
indicadas
Considerando que alguns bancos
permitem, a partir do Facebook, que os clientes consultem o saldo
da conta, Juan Mazzini, da Celent, cita essa rede social como uma
oportunidade para que o segurado veja as informações de sua
apólice. O Youtube também merece atenção, já que os vídeos lá
postados são parecidos com os anúncios veiculados em emissoras de
TV tradicionais. Este, inclusive, é um meio mais adequado para a
publicidade, pois não pode se beneficiar do público de um programa
de TV e deve ir em busca de sua própria audiência, além de ser uma
excelente ferramenta para tutoriais e educação de comunidades para
agentes, corretores e segurados.
No entanto, para o executivo, o
maior desafio – e ao mesmo tempo a maior oportunidade – do mercado
é usar as redes sociais nas atividades principais do
seguro: subscrição, reclamações e criação de produtos.
“Acreditamos que, enquanto as tecnologias puderem automatizar e
fornecer inteligência a análise de informações das redes
sociais, as seguradoras poderão se beneficiar nessas áreas”,
analisa.
Como o cliente chega até
mim?
É possível acompanhar o que meus
clientes fazem para acessar o site da minha empresa? A resposta é
sim. E tudo isso é possível por meio da Jornada Digital (também
conhecida como Jornada de Compra do Consumidor Online ou
Jornada do Cliente): o caminho feito pelo cliente desde o momento
em que ele encontra as primeiras informações sobre o que deseja
adquirir até quando finalmente decide pela compra, que pode ser
realizada ou não na internet.
Estevão Rizzo, diretor de marketing
e expansão da 80 20 Marketeria Digital, explica que essa jornada
pode ter muitas fases e iniciar em pontos de contato diferentes.
“Ela pode começar com um banner em um portal, que leva o cliente
até o site da empresa e gera a venda – o que chamamos de venda
de last click – ou pode começar com uma matéria
que cita o serviço ou o produto, que leva o cliente a buscar
informações em diferentes sites, redes sociais, assinar e receber a
newsletter da empresa diversos meses, depois ir a um ponto de
venda físico para ver e testar o produto, voltar para a internet e
buscar opiniões de outros clientes, pedir opiniões de pessoas em
redes sociais e, após mais de um ano, finalmente adquirir o
produto”, afirma o executivo.
Se o cliente já conhece a marca, a
jornada torna-se mais fácil. Por isso, é importante que a
empresa invista em conteúdo, que neste caso funciona como uma
isca para fisgar o consumidor em sua busca. Sendo assim, é
necessário ver os buscadores, principalmente o Google, como o
início da jornada e lembrar que, nesta página, as pessoas procuram
palavras- chave. Rafael Terra, da Fabulosa Ideia, explica que
cada empresa deve descobrir quais são as suas palavras-chaves e
produzir conteúdo baseado nelas para que os clientes achem a
marca. Em alguns casos, também é necessário o uso de
anúncios.
“Toda empresa pode e deve aderir e,
principalmente, conhecer a jornada digital de seu público. Do
contrário, ele não irá lhe achar e a venda não ocorrerá”, aconselha
Terra. “Imagine que a web é um mar imenso. Se a companhia de
seguro não entender a jornada digital do seu consumidor e
atirar iscas para fisgá-lo, uma futura venda não ocorrerá. Ou pior:
este consumidor irá para a concorrência”, completa, argumentando
que a jornada é um processo de aprendizado que toda companhia deve
passar e que entender este caminho é gerar pontes entre serviço e
consumidor.
O consultor e coordenador dos
cursos de MBA em Marketing Digital da Fundação Getúlio Vargas
(FGV) no Brasil, Nino Carvalho, garante que as empresas conseguem
montar a jornada por meio de pesquisas já realizadas – o próprio
Google divulga estudos sobre o assunto abertamente em seu site.
“Também há como saber isso dentro do seu próprio site, vendo sua
ferramenta de monitoramento [Google Analytics], que acompanha qual
é o caminho que seu cliente percorre até ele cair na página de
compra”, conclui.