Uma quantidade enorme de perguntas
e dúvidas têm de ser respondidas antes de se decidir exatamente
como esses automóveis sem motorista serão segurados.
Conforme os carros sem motoristas
chegam mais perto da realidade, fica mais evidente o dilema de como
fazer seguro para este tipo de veículo e para seu proprietário. A
indústria de seguro de automóvel encara uma fase de agitação nos
próximos 25 anos conforme ocorre a migração de aparatos de
segurança mais autônomos – e, em última instância, o carro sem
motorista – leva os riscos de acidentes do motorista para o
veículo, dizem analistas.
É esperado que o número de
acidentes caia bruscamente, já que, hoje, mais de 90% dos acidentes
são causados por erros do motorista. Isso poderia baixar o preço do
seguro para os consumidores. O mercado dos Estados Unidos para
apólices de seguro de automóvel, que costuma gerar cerca de US$ 200
bilhões em prêmios por ano, pode encolher substancialmente, preveem
alguns especialistas.
Ocorrerão mudanças dramáticas,
afirma Joe Schneider, diretor na KPMG que faz parte da força-tarefa
da companhia para estudar a questão. Alguns carros já são
preparados com características anti-colisão, como detectores de
pontos-cegos e sistemas de alertas para evitar batidas. A indústria
de automóvel e alguns reguladores concordaram em equipar todos os
carros novos com sistemas de travagem nos próximos seis anos.
Carros de auto condução estão sendo
desenvolvidos por diversos fabricantes de automóveis, especialmente
pela Alphabet Inc’s, unidade da Google.
Mas a indústria de seguros,
reguladores e advogados de defesa dos consumidores alertam que uma
quantidade enorme de perguntas e dúvidas têm de ser respondidas
antes de decidir exatamente como esses automóveis sem motorista
serão segurados.
Por enquanto, apesar de um carro
sem motorista poder diminuir os riscos de acidentes, ele ainda irá
dividir as ruas e estradas com motoristas atrás do volante. Como o
seguro para os dois tipos de veículos serão subscritos e quanto
deverão custar?
Não se deve esperar um corte de
preço no seguro auto tão cedo.
De fato, os preços têm subido nos
últimos anos por causa do aumento do número de acidentes, muitas
vezes causados por motoristas que têm muitas distrações, como as
causadas por envio de mensagem de texto enquanto dirigem, por
exemplo, juntamente com outros fatores. Carros com dispositivos de
segurança autônomos certamente não são a maioria de veículos nas
estradas porque os dispositivos, por si só, ao mesmo tempo em que
são importantes para aumentar a segurança, não são utilizados com
tanta frequência nem capazes de tornar os carros totalmente
automatizados. Até agora, nós não vimos mudanças significativas nas
reivindicações ou experiências que poderiam causar mudanças nas
taxas que envolvem os consumidores, afirma Dave Jones, responsável
pela área de comissionamento da California Insurance.
As contas do seguro ainda não estão
baixando, mas se achamos que com o tempo isso irá acontecer? Sim,
diz Schneider. Chairman da Allstate Corp., Thomas Wilson – que
apelidou o movimento de produção de carros sem motoristas de Os
Jetsons, desenho que trazia carros-astronaves – disse em um
discurso ano passado que a mudança pode ter impacto negativo no
seguro de automóvel e que é preciso lidar com a questão não
queremos esperar para descobrir como será. O bilionário investidor
Warren Buffet, dono da Berkshire Hathaway Corp. que detém a
seguradora Geico, disse em um fórum automotivo que quando os carros
sem motoristas chegarem ao mercado de seguros não seria uma
festa.
Jones tem feito testes no carro sem
motoristas da Google e realizou audiência para ver, como ele dizia,
como isso irá impactar a proteção do consumidor e também o mercado
de seguros na Califórnia. Nós estamos olhando tudo
cuidadosamente.
Na visão de Jamie Court, presidente
do grupo de advogados Consumer Watchdog, tudo isso está cambaleando
pela estrada rápido demais. Essas tecnologias não devem ser levadas
de maneira apressada ao mercado sem que sejam ouvidas as vozes de
todos os lados, disse Court sobre seguros. O carro Robô não deve
ser desenvolvido sem um processo formal para o público pesar quais
são suas preocupações, completou. Por enquanto, Court afirma que
nosso maior temor é que em acidentes com carros sem motoristas, o
ser humano ainda será considerado o causador dos danos porque se
presume que robôs não cometem erros.
De fato, Buffet levantou uma
questão sobre culpa em acidentes que é a chave para o futuro dos
seguradores: Exatamente, como deveria ser feita a responsabilização
por acidentes, tirando-a do motorista e levando-a ao veículo que
estará tomando a maioria, se não todas as decisões Se as montadoras
e seus fornecedores ficarem com a responsabilidade, eles podem
acabar, por eles mesmos, querendo oferecer o seguro, disse Donald
Light, diretor da área de North America property/casualty na
companhia de pesquisa Celent. Eles podem até mesmo adicionar o
seguro ao preço desses novos carros. Essa pode ser uma ameaça ao
mercado de seguros, disse Light.
Enquanto isso, a companhia inglesa
Adrian Flux Insurance Services lançou neste mês o que poderá ser a
primeira apólice de um carro sem motorista no mundo. A apólice
cobriria carros já existentes que utilizam algum tipo de
dispositivo autônomo, como estacionamento automático e sistemas de
piloto automático e cobrir também os motoristas por coisas como
falhas de satélites que interrompem os sistemas ou ataque de
hackers.
Nós queremos ajudar a prover
confiança e clareza em torno do debate em curso sobre quem seria o
responsável por sinistros, afirma o gerente geral da Adrin Flux,
Gerry Bucke. Conforme o debate continua, analistas concordam que
consumidores provavelmente ainda precisarão de seguro mesmo que
eles optem pelo carro sem motorista. Se uma árvore cair sobre o
carro ou for vandalizado, por exemplo, eles precisarão de
cobertura.
E só porque o carro sem motorista
parece próximo à realidade, não significa que os veículos serão tão
comuns, como em Os Jetsons, durante muitos anos. Uma razão, como
bem coloca Whittle, da American Insurance Assn., a simples razão
para isso é que muitas pessoas simplesmente amam dirigir. *conteúdo
publicado originalmente no portal LA Times