O crescimento da região
Centro-Oeste e em Minas Gerais, como todas as outras regiões,
sofreu impactos nos últimos meses causados pela conjuntura
econômica atual no País. De acordo com informações do Índice de
Atividade Econômica do Banco Central, as vendas de automóveis e
comerciais leves novos na região diminuíram 12,5% no quarto
trimestre de 2015.
A desaceleração da atividade econômica na região Centro-Oeste
refletiu, em especial, a reversão do desempenho da indústria de
transformação, impactada pelo recuo na produção de automóveis, e a
retração de vendas no comércio ampliado.
Mesmo assim, os dados da Susep revelam que a carteira de automóveis
da região Centro-Oeste cresceu 1,82%, um valor relativamente baixo,
mas que não tira a força da carteira nos
estados. Joaquim Mendanha de Ataídes, presidente do
Sincor-GO, reforça que a carteira de automóvel ainda é o
carro-chefe, mas destaca que há espaço para novas apostas no
cerrado, como a maior conscientização sobre o seguro residencial,
por exemplo. “Entendo que os seguros patrimoniais possuem uma
participação expressiva na carteira do corretor de seguros”,
sinaliza.
“A carteira de automóvel individual é sempre um desafio pela sua
volatilidade. Desde 2013 dedicamos muito tempo e esforço para
torná-la rentável. Nos últimos dois anos mudamos nossa forma de
atuação e trabalhamos nesse que, hoje, é nosso maior desafio”,
aponta Alexandre Brum, gerente da filial de Minas Gerais
da Mitsui Sumitomo.
O setor agrícola da região permanece otimista, mas a desvalorização
do real e a projeção de aumento da produção de soja pode causar um
estoque não esperado dos grãos, que precisam ser armazenados de
forma segura para poder ser escoados conforme a demanda do mercado
for melhorando. Ou seja, a dinâmica da região precisará aguardar a
possibilidade melhora econômica para ver seus grãos e outros
produtos agrícolas, que são abundantes, revalorizados.
A safra de grãos do Centro-Oeste totalizou 89,9 milhões de
toneladas em 2015, de acordo com o LSPA de dezembro, do IBGE. O
aumento anual de 8,3% refletiu crescimentos das safras de milho,
segunda maior em termos de valor da produção (14,6%), soja (4,3%),
arroz (2,5%) e feijão (1,2%). Em relação às demais culturas,
destaca-se a expansão de 6,0% na produção de cana-de-açúcar e o
recuo de 18,3% na de tomate. Esses dados mostram a importância da
cultura rural nessa localidade.
Porém, há que se fazer a distinção entre os pontos fortes da
região. Existem os seguros que envolvem o agronegócio – que cuidam
de plantações, máquinas agrícolas, animais etc – e que remetem
constantemente à região, mas que têm uma baixa adesão. Ainda que
seja a maior movimentação do PIB, os dados consolidados em 2015
pelo Ministério da Agricultura mostram que, dentro do Seguro
Agrícola no País, o Estado que tem a maior área segurada na região
é o Mato Grosso do Sul (9%), seguido por Goiás (4%). Os outros
componentes da região não têm valores mais expressivos, somando-se
a outros estados da União em 10% e ficando atrás de outrosestados,
como o Paraná, com 46% de área segurada e Rio Grande do Sul, com
22%.
“A região Minas/Centro-oeste possui vasta diversidade cultural e
econômica, além de suas particularidades. As seguradoras com perfil
corporativo geralmente concentram suas estruturas em Belo
Horizonte, Goiânia ou Brasília. Assim, os estados de Mato Grosso e
Mato Grosso do Sul têm dificuldade maior de acesso e
Felipe Cavalcante, da Berkley
aproximação em relação às
seguradoras que atuam em nichos diferenciados”,
comenta Felipe Cavalcante, superintendente comercial, da
Berkley. Esse fato traz o desafio que se transforma em
estratégia: alcançar mais corretores.Em Minas Gerais,
comenta,“nossa expectativa é interiorizar, estar mais próximos dos
corretores do Triângulo Mineiro, Sul e Norte de Minas, Zona da Mata
e Centro-Oeste Mineiro”. Este mercado possui grande potencial nos
produtos comercializados pela Berkley, neste sentido, investiremos
em treinamentos e visitas nestas regiões.
Na visão da Tokio Marine, os produtos massificados, de forma geral,
tendem a ser mais estáveis. “O automóvel é o principal alvo, apesar
da elevada competitividade. Minas Gerais tem expressiva parcela de
contribuição nessa carteira dentro da seguradora”,
afirma Andreia Padovani, superintendente
Comercial Varejo da companhia em Minas Gerais.O estado, que é o que
possui o maior número de municípios, precisa atender a todos
igualmente. Uma das maneiras que a Tokio encontrou de responder a
isso foi com a realização de treinamentos periódicos via web, para
que os corretores tenham acesso a informações sem precisar se
deslocar. “Utilizamos a tecnologia a nosso favor”, afirma.
Muitas filiais estão sendo abertas. As seguradoras consultadas,
cada uma dentro de sua expertise, têm sucursais disponíveis nessas
regiões tanto para atingir consumidores quanto para estreitar os
laços com corretores. Assim, interiorizar as operações também faz
parte da estratégia, o interior desses estados têm bastante
produção que precisa de profissionais para atingir o escoamento e a
proteção correta.
Mas nem todas as questões se resumem ao contato entre os players.
Mendanha afirma que essa relação é um obstáculo atualmente, não só
pelo contato, mas também por dificuldades técnicas, levantando o
ponto de que seguradoras presentes nem sempre significa ampla
atuação. “Nossa maior dificuldade é no quesito aceitação de riscos
por parte das companhias seguradoras, que alegam que seus contratos
de resseguros limitam a aceitação de alguns riscos presentes em
nossa região. Principalmente na indústria”, destaca. Fábricas de
plástico, tecido, entre outras áreas, também são uma marca desses
estados, o presidente do Sincor-GO completa que “isso limita,
muito, o trabalho dos corretores de seguros, que enfrentam
dificuldades para oferecer esses produtos a seus clientes”,
afirma.
Esses dados mostram dois pontos cruciais para a região Centro-Oeste
e também para o estado de Minas Gerais: há espaço para crescer e
tornar a consciência do seguro presente nessas atividades que são
tão importantes para esses Estados, mas é o seguro do dia-a-dia que
tem sido importante e o verdadeiro responsável por manter a região
com 7,3% do mercado e continuar sua expansão.
Na soma dos quatro estados, a área mais expressiva é a de Seguros
Patrimoniais. Esse ramo teve o maior salto: 40,86% de crescimento,
segundo a Susep. O que, para Mendanha, é natural, já que ao voltar
o olhar para
Júlio Murta, da AIG Brasil
novas oportunidades no
Centro-Oeste, essa é a opção que salta, seguida pelo ramo de Vida,
que apresentou crescimento de 22,67%. “A diversificação das nossas
carteiras é uma realidade de crescimento. E, nessa trajetória,
temos alcançado ótimos resultados”, comemora.
A área de transportes é outra aposta, já que a grande prosução
agrícola precisa de escoamento para portos de outros estados, como
Rio de Janeiro e São Paulo. Junto com ela, vem a preocupação para o
Seguro Ambiental, ainda incipiente em todo o País. Aliado ao
transporte, riscos específicos precisam ser evitados, como descarte
e queda de materiais e resíduos que podem pedir coberturas para
limpezas e danos corporais.
As carteiras já disponíveis precisam ser trabalhadas, por
isso, Julio Murta, gerente regional Minas Gerais
e Centro-Oeste pela AIG, acredita em novos produtos, que deverão
ser levados com mais força à região em sua gestão. Riscos
cibernéticos e os de responsabilidade de gestão estão na mira da
seguradora para essa localidade. “Principalmente o
responsabilidade civil, já que a atuação de profissionais liberais
tem crescido muito em nossa região,
obrigando a todos a uma busca de proteção e
segurança para seu trabalho. Além desses, estou convicto de que o
seguro saúde terá uma participação expressiva na carteira dos
corretores de seguros nos próximos anos”, aposta o
executivo.
Desenvolvimento
A atual crise brasileira tem
impactado o mercado de seguros, assim como qualquer outro. Mas essa
é uma das regiões que têm crescido acima da média nacional. O
Centro-Oeste registra o crescimento mais acentuado nas áreas de
saúde, no qual todos os estados tiveram desempenho positivo,
conforme dados da FenaSaúde.
O reflexo se dá não somente no setor de seguros, mas em vários
outros setores da economia. É um efeito dominó, conforme aponta
Murta.“Por exemplo, uma empresa ao realizar demissões, diminuindo
seu quadro de funcionários, impactará diretamente no seguro de
vida, gerando prêmios menores, ou no caso de seguros de
transportes quando as empresas produzem menos, haverá menor
circulação de mercadorias”, afirma. Desta forma o setor de seguros
é impactado diretamente em diversas carteiras, mas, para Murta, o
atual momento também gera oportunidades em outros negócios, como é
o caso do seguro de crédito, que protege as empresas em relação aos
seus recebíveis. A situação só não pode ser muito estendida, embora
as seguradoras no País sejam bastante saudáveis quanto a sua
solvência, muitos sinistros de crédito podem ser significativos,
especialmente vindo de grandes empresas.
Mesmo com cenário complicado, a região Minas/Centro- Oeste tem
apresentado um importante crescimento, com 14% em 2015 e
aproximadamente 9% no primeiro trimestre de 2016, em relação ao
mesmo período anterior. “Nos momentos de adversidade que
surgem as grandes oportunidades, as empresas começam a pensar “fora
da caixa”, existe um esforço/criatividade maior dos profissionais,
realinhamento das estratégias”, lembra o executivo da Berkley.
Um novo olhar
Existe uma área, ainda pouco
explorada, que desperta olhares dos seguradores: o turismo.
Pantanal, entre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, chapadas dos
Guimarães e dos Veadeiros, em Goiás e até mesmo Brasília, a cidade
arquitetada por Oscar Niemeyer e patrimônio da humanidade, atraem
viajantes. “O turismo, além de movimentar diversos setores da
economia, já é uma realidade para a área de seguros na
região”, acredita Murta, da AIG. Além de serem contratantes dos
produtos tradicionais, também contam com produtos específicos para
o setor, como exemplo o seguro viagem, que protege os seus clientes
de eventos inesperados e doenças, além do seguro de
responsabilidade civil profissional direcionado a agências de
viagens que protege a empresa e os seus profissionais contra
reclamações apresentadas por perdas financeiras resultantes dos
serviços prestados aos clientes. Hoteis, bares e restaurantes
também são clientes assíduos desse tipo de contratação. “Geralmente
é comum hotéis, bares e restaurantes contratem o RC apenas como
cobertura adicional na apólice de incêndio. Esta prática coloca em
exposição estes estabelecimentos, pois a cobertura de RC como
adicional não é tão ampla, como as que cobrem causas de intoxicação
alimentar. Além disso, o turismo também aquece os eventos na
região, trazendo oportunidade para o seguro de eventos”,
indica Cavalcante, da Berkley.
A região menos suscetível a riscos climáticos do País, que tem
desenvolvido seu potencial e tem grande espaço para a penetração de
seguros, parece ser a nova aposta entre as companhias. Minas
Gerais, que geograficamente faz parte da região sudeste, mas, pelas
suas características é colocada junto ao Centro-Oeste dentro do
mercado de seguros, anda desponta quando se fala de amadurecimento
do mercado, mas para Julio Murta, não existe apenas um estado que
deva ser apontado como o mais promissor. “Nós teríamos as melhores
oportunidades no estado de Minas Gerais, porém queremos ser
abrangentes. Um bom exemplo é o seguro de casco para aviação
agrícola. Desta forma não existe uma região onde se encontram
melhores oportunidades ou dificuldades, mas sim o entendimento de
quais produtos devem atender as necessidades da região”,
conclui.