Laboratórios, hospitais e
operadoras de planos de saúde de São Paulo têm surpreendido
clientes por cobrar à parte pelo exame laboratorial que detecta
rapidamente a dengue –em valores que variam de R$ 50 a R$ 285.
A cobrança se dá porque esse tipo
de exame, chamado de Antígeno NS1, não está coberto pelo rol de
procedimentos da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar).
A principal vantagem desse exame é
confirmar a dengue em sua fase inicial, já no primeiro dia. O outro
método, a sorologia para pesquisa de anticorpos (IgG e IgM),
detecta a doença principalmente a partir do sexto dia.
Esse modelo mais demorado é
recomendado pelo Ministério da Saúde e adotado em toda a rede
pública e parte das instituições particulares.
Para pacientes com suspeita de
dengue (febre alta mais sintomas como dor atrás dos olhos e nas
articulações) que se submetem a ele, a orientação é de que sejam
tratados imediatamente –antes, portanto, do resultado do exame.
“Com situação de epidemia, qualquer
paciente com manchas, febre alta e dor no corpo é dengue até prova
em contrário”, disse Ricardo Sartim, superintendente médico do
laboratório SalomãoZoppi, que não faz o teste rápido.
No laboratório, a quantidade de
exames de sorologia aumentou 222% no primeiro trimestre em relação
ao mesmo período do ano passado.
VANTAGEM
“É pressuposto básico da medicina:
quando se estabelece o diagnóstico rápido, fica mais adequada a
condução do caso”, diz o infectologista Artur Timeman, do Hospital
Edmundo Vasconcelos.
No hospital, 1.351 casos de dengue
foram detectados por meio do exame rápido –mas, segundo ele, lá
nenhum paciente teve que pagar. “O laboratório tem que peitar o
convênio.” Ele sugere a pacientes que tiveram negados pedidos para
o exame rápido que recorram à Justiça.
Analista de treinamento, Alexandro
de Castro, 30, foi em março a um laboratório em Amparo (interior de
São Paulo), onde mora, com suspeita de dengue. Lá, ouviu que teria
que pagar R$ 50 pelo exame rápido da doença.
“Não paguei. Eu estava com todos os
sintomas: dores, vermelhidão pelo corpo, febre alta. Acabei indo ao
pronto-socorro, onde fui medicado. O que o meu plano cobria levaria
seis, sete dias para fazer”, disse. O diagnóstico confirmou a
doença.
VALORES
O valor do exame rápido é variável.
No Hospital Sírio-Libanês, sai por R$ 284,77; no Albert Einstein,
por R$ 94,92 e no Fleury, por R$ 143.
A FenaSaúde (Federação Nacional de
Saúde Suplementar), que representa as operadoras de planos de
saúde, limitou-se a dizer que o teste rápido não é coberto e que a
sorologia é o procedimento incluído e feito pela maioria dos
laboratórios.
A mesma posição deram a Yasuda
Marítima e a Unimed Paulistana, duas das operadoras que a Folha
consultou. A Bradesco Seguros informou que cobre o exame
rápido.
As operadoras de plano de saúde
estão liberadas para cobrar pelo exame rápido, mas devem informar o
paciente antes, segundo a ANS.
O rol de procedimentos obrigatórios
para cobertura mínima é revisado a cada dois anos, diz a agência, e
a inclusão de um novo exame depende de itens como articulação com
políticas de saúde.