A
realização de uma Copa do Mundo de Futebol é uma lição para quem
lida com seguros. Com bilhões envolvidos, não há como não ter uma
rede protegendo o capital investido
Agora
é Copa do Mundo de Futebol. Não tem como, com todas as ameaças que
pairam sobre a competição, o Brasil está no coração da população e
a seleção brasileira é o assunto da vez.
A
realização de uma Copa do Mundo de Futebol é uma lição para quem
trabalha com seguros. Com bilhões de dólares envolvidos na
construção da infraestrutura para os jogos, além dos interesses em
lucro e retorno de imagem, não há como não criar uma rede de
seguros altamente sofisticada, destinada a proteger o capital
investido, a realização do evento e a responsabilidade dos
organizadores.
Imaginar que a FIFA não tem o que existe de mais
moderno garantindo a realização do evento é não saber como as
grandes organizações internacionais operam. Está tudo segurado e os
valores devem atingir patamares significativos, principalmente no
que diz respeito às responsabilidades da própria FIFA, de seus
sócios, associados e prestadores de serviços.
Imagine o valor das indenizações se acontece um
acidente num estádio ou no seu entorno, seja pela razão que for.
Com certeza, o desmoronamento do estádio e os danos que podem advir
de acidentes em volta estão segurados com capitais bastante
elevados. Mas não é só isso que precisa de seguro. A transmissão
pela televisão, geração de imagens via satélite, internet, rádio e
todo o sistema de comunicações envolvendo uma Copa do Mundo
significa muito dinheiro. Por isso um acidente no meio do percurso
pode comprometer até mesmo a sobrevivência da entidade responsável,
caso ela não tenha a proteção exigida para fazer frente a um
acidente de grande porte.
Quando se pensa que metade da população da terra
deve assistir aos jogos da Copa do Mundo no Brasil, fica claro o
tamanho da encrenca e que não dá para deixar ao Deus dará ou
construir um programa de seguros para inglês ver ou dizer que tem.
Há muito em jogo e este muito está bem segurado. A questão que se
coloca é se o Brasil também fez a lição de Casa e as obras sob
nossa responsabilidade, especialmente os grandes projetos de
mobilidade urbana, estão também segurados de acordo com os
patamares internacionalmente aceitos.
Confesso que tenho algumas dúvidas. Não por conta
da incúria das grandes empreiteiras brasileiras. Deforma alguma.
Elas são reconhecidamente empresas altamente sofisticadas e não
correriam o risco de fazer mal feito, ou sem proteção, as obras sob
sua responsabilidade. Mas não são apenas as grandes empreiteiras
que devem contratar seguros. Empresas contratantes das obras e o
governo, em todos os seus níveis, têm responsabilidades claras, que
podem causar danos de monta, que, não tendo a proteção de apólices
de seguros, pode custar muito caro para a nação.
Além
disso, a desaceleração da economia começa amostrar sinais de haver
afetado o desempenho do setor de seguros ao longo do ano. O
crescimento na casa de dois dígitos pode não acontecer e isso quer
dizer que estão contratando menos seguros.
Não
as grandes empresas, mas a população em geral, notadamente a nova
classe média e a classe média tradicional, ambas responsáveis pelo
real crescimento do setor ao longo das últimas duas décadas. Menos
seguros significa maior potencial de perdas não recuperáveis. Em
outras palavras, menos seguros quer dizer o empobrecimento do país
em função da ocorrência de perdas que não serão repostas pelas
seguradoras, mas terão que ser suportadas pela
sociedade.
Ninguém discute que as pessoas não estão
contratando seguros apenas porque não querem. A desaceleração da
economia trouxe junto a queda nas vendas de uma série de produtos
que puxam consigo a comercialização de seguros, começando pelos
veículos zero km e pelos imóveis novos. A retração nas duas áreas é
nítida e tende a se agravar. Como se não bastasse, os produtos
chamados da linha branca também já não vendem como antes, afetando
seguros populares, como as garantias estendidas. Entre secos e
molhados, é hora de uma reflexão mais profunda sobre a realidade
nacional e o cenário para os próximos anos. Se não se fizer nada
para modificar o quadro atual, não é apenas o setor de seguros que
vai amargar tempos de vacas magras.