Só em São
Paulo, tramitam 53 mil ações referentes ao fornecimento de
medicamentos, insumos e produtos hospitalares
Um
encontro entre magistrados, promotores, procuradores, profissionais
e gestores discutiu nesta quarta-feira (14), em São Paulo, a
judicialização de questões relativas à saúde. Segundo dados do
Tribunal de Justiça de São Paulo, um dos organizadores do evento, e
do Conselho Nacional de Justiça, no ano passado, cerca de 53 mil
ações referentes à área estavam em andamento no estado. Elas
tratavam principalmente do fornecimento de medicamentos, insumos,
produtos hospitalares e da realização de tratamentos.
De
acordo com o conselheiro nacional de Justiça, Saulo Casari Baria, o
número pode ser ainda maior, porque há uma imprecisão no
cadastramento das ações que ficam nos tribunais sem códigos
específicos. Ele acrescenta que “O impacto dessas decisões
[jurídicas] nos orçamentos das secretarias municipais, estaduais e
na União é muito alto. Há estados onde 50% do orçamento da saúde é
destinado ao pagamento dessas ações. Isso mostra o efeito da
judicialização da saúde na prática”.
Depois de participar da 1ª Jornada de Direito da
Saúde, Baria disse que isso é resultado da má gestão, mas há ainda
problemas como a eficiência dos medicamentos e tratamentos
prescritos, a pretensão de uso de medicamentos experimentais não
registrados na Anvisa e o desconhecimento da existência de
tratamentos alternativos eficientes.
“Todas essas questões exigem do Judiciário muita
atenção, porque os recursos são limitados e há necessidade de que o
emprego seja feito com maior eficiência possível”, diz. Para ele,
“O varejo Jurídico pode levar ao prejuízo da sociedade”.
O
coordenador do Comitê Executivo Nacional do Fórum da Saúde do CNJ,
Clenio Schulze, explicou que grande parte dos processos está
relacionado a serviços, medicamentos e tratamentos que já estão
incorporados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mas não são
prestados por alguns entes públicos. Outro alvo dos processos são
os medicamentos importados não registrados no país.
“No
primeiro caso, o Judiciário tem sido contundente em corrigir essa
omissão. Hoje discutimos quais são os limites do poder Judiciário
na atuação do controle e desse tipo de demanda, porque o cidadão
entende que tem direito”, explica.
Schulze destacou que o CNJ tem tentado dialogar
com os órgãos de saúde para evitar que os processos decorram de
problemas como falta de compra de remédios e demora nas licitações.
“Os gestores precisam se conscientizar sobre seu papel essencial de
organizar suas listas. O que temos feito é tentar dialogar com eles
para evitar que esses problemas continuem existindo e possamos nos
concentrar na evolução da lista [de serviços obrigatórios], com o
acréscimo de outros tratamentos e medicamentos”,
finalizou.