Epidemia
continua concentrada nas grandes cidades, e a mudança para o
interior é caracterizada por pequenas ou médias subidas e descidas
nos relatórios
No
artigo Geografia social da Aids no Brasil: identificando padrões de
desigualdades regionais, publicado na revista Cadernos de Saúde
Pública da Fiocruz, as pesquisadoras da Escola Nacional de Saúde
Pública (Ensp/Fiocruz), Tatiana Rodrigues de Araujo Teixeira e
Monica Siqueira Malta, e os pesquisadores Renata Gracie e Francisco
Bastos, do Instituto de Comunicação e Informação Científica e
Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), apontam para a aparente
estabilização da mortalidade por Aids, que tende a mascarar
desigualdades regionais. “Os determinantes sociais da saúde e
disparidades regionais devem ser levadas em conta na formulação de
programas e políticas”, indicam os pesquisadores.
O
mais recente relatório do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre
HIV/Aids (Unaids) mostrou uma redução de mais de 50% na taxa de
novas infecções pelo HIV em 25 países de baixa e média renda, mais
da metade da África, a região mais fortemente afetada pela
propagação do HIV. De acordo com o artigo, o Brasil tem um
território grande e extremamente heterogêneo, com a epidemia de
Aids concentrada em determinadas regiões e subpopulações. Os
autores esclarecem, no entanto, que homogeneidade e estabilidade
aparente da epidemia mascaram uma situação complexa com processos
epidêmicos localizados que afetam determinadas regiões e/ou
populações em maior risco. “De 1980 a junho de 2012, 656.701 novos
casos de Aids foram notificados no Brasil. O Sul foi a região do
país com maior incidência de Aids, com 30,9 casos/100.000
habitantes, seguido por taxas mais baixas nas regiões Sudeste
(21,0), Norte (20,8), Centro-Oeste (17,5) e Nordeste (13,9)”,
explicam os pesquisadores.
A
pesquisa observa que a maior concentração de casos ocorre nas
cidades costeiras e grandes áreas metropolitanas. A epidemia
continua concentrada nas grandes cidades, e a mudança para o
interior é caracterizada por pequenas ou médias subidas e descidas
nos relatórios, exibindo uma combinação heterogênea de
estabilidade, declínio e expansão, que ocorre de forma diferente
nas diversas regiões do país.
Além
disso, muitos municípios com altas taxas de incidência estão
localizados em áreas ao longo das principais rodovias federais.
“Rodovias podem levar a diferentes mudanças no ambiente social e
desempenham papéis distintos na disseminação e manutenção de
doenças e ameaças à saúde, tais como a transmissão e a violência
HIV, uma vez que funcionam como ligações entre locais isolados”,
apontam.
Outros estudos recentes, informa o artigo,
indicam que a mortalidade por Aids no Brasil também é subestimada
pelo Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM). Foram
identificados cinco causas de mortes relacionadas com o HIV/Aids
que apresentaram erros de classificação: pneumonia, sarcoma de
Kaposi, outras imunodeficiências, outras causas de septicemia, e
outras causas de pneumonia.
Os
dados históricos da doença mostram que, desde 1996, houve uma queda
constante da mortalidade por Aids; o aumento da incidência da
doença não foi acompanhado por um aumento proporcional no número de
mortes. Enquanto isso, o Sudeste também apresentou uma queda na
incidência desde 1998, embora menos acentuada do que a diminuição
da mortalidade. De 1999 a 2007, 290.189 novos casos de Aids foram
notificados no Brasil. O ano de 2002 apresentou o maior número de
novos casos (35.463), e tem havido um declínio no número desde
2003. A taxa de incidência nacional aumentou de 16,10 casos/100.
000 habitantes em 1999, para 20.31/100. 000 em 2002.
Segundo os autores, os progressos realizados no
tratamento da infecção pelo HIV incluem o desenvolvimento e uso de
diferentes grupos de drogas anti-retrovirais (nucleosídeo e
inibidores da transcriptase reversa não-nucleósidos, inibidores de
protease e, mais recentemente, os inibidores da fusão e da
integrase). A combinação desses medicamentos na forma de esquemas
definidos de tratamento com base em protocolos clínicos validados
constitui chamado terapia anti-retroviral altamente ativa (Haart),
implementado desde o final da década de 1990, juntamente com várias
medidas de prevenção e controle. “Esse tratamento resultou em
importantes melhorias na expectativa de vida e da qualidade de vida
das pessoas vivendo com HIV/Aids nos países em desenvolvimento e
nas populações marginalizadas nos países desenvolvidos, com uma
redução importante na morbidade e mortalidade”,
destacam.
O
artigo Geografia social da Aids no Brasil: identificando padrões de
desigualdades regionais foi publicado na revista Cadernos de Saúde
Pública, vol. 30 n.2 , de fevereiro de 2014.