Segundo o MPF, Glaidson dos Santos colocava o investidor como beneficiário para cliente não perdesse seu investimento caso algo acontecesse com ele. Modalidade só era válida para grandes quantias.
A denúncia do Ministério Público Federal, com base em investigação da Polícia Federal na “Operação Kryptos” contra Glaidson Acácio dos Santos revela detalhes de como o “Faraó dos Bitcoins” atraía novos investidores.
Segundo o MPF, para contratos mais expressivos, e pelo fato do dinheiro investido se tornar inacessível ao cliente – que, na maioria das vezes, desconhecia por completo o paradeiro –, as equipes da GAS Consultoria Bitcoin eram orientadas a oferecer como garantia a possibilidade de contratação de um seguro de vida em nome do próprio Glaidson – com o investidor como beneficiário.
Assim, se algo acontecesse ao “Faraó”, o investidor não sairia de mãos abanando. A oferta só era feita para grandes somas. Os valores não foram especificados na denúncia.
Tentativa de legalizar o negócio
O Ministério Público Federal relata ainda na denúncia aceita pela Justiça que, em maio de 2018, Glaidson e alguns de seus sócios teriam feito contato com um escritório de consultoria jurídico-contábil, na tentativa de conferir uma formatação lícita às atividades que já estariam desempenhando.
A ideia era constituir uma corretora de títulos e valores mobiliários, mas a resposta do escritório indicava a submissão do negócio ao Banco Central, o que nunca teria acontecido.
Como a tentativa de legalizar o negócio saiu frustrada, Glaidson, segundo o MPF, resolveu montar uma rede de empresas para dar aparência de legalidade ao negócio.
Em 2019, ele estruturou a Tronipay Soluções em Pagamento e Cartão LTDA para processar pagamentos e recebimento de valores por diversos meios, inclusive emissão de cartões de crédito, aproveitando-se de uma estrutura já existente da empresa e que contaria com cerca de 11 mil usuários.
Posteriormente, essa empresa teria virado apenas Tronipay para promover a venda de uma criptomoeda própria, a Tronipay (TRP).
Em 2020, outra pessoa jurídica, previamente constituída para gerir recursos de terceiros, foi adquirida sob o nome de Quântico Bank. Ela foi registrada em nome de terceiros, mas o MPF afirma que Glaidson era o verdadeiro dono e que a empresa era um fintech.
Todas essas empresas e negócios, ainda segundo o MPF, ajudavam a “subverter restrições que lhe estariam sendo impostas pelo Sistema Financeiro Nacional, dado o funcionamento pretensamente irregular do grupo GAS”.
O MPF acredita que as estruturas preexistentes da Tronipay e do Quântico Bank davam “progressiva autossuficiência [à GAS] como instituição financeira clandestina”.
Glaidson Acácio dos Santos, dono da GAS Consultoria Bitcoin, foi preso no dia 25 de agosto na “Operação Kryptos”, da Polícia Federal, do Ministério Público Federal e da Receita Federal por suspeita de pirâmide financeira e ludibriar o Sistema Financeiro Nacional.