O setor de planos de saúde
precisa de transparência em relação aos seus reais custos e
resultados para que não haja dúvidas quanto à necessidade ou não de
reajustes das mensalidades. Foi o que afirmaram nesta terça-feira
(4) os participantes de audiência pública da Comissão de Assuntos
Sociais (CAS). Eles também disseram ser preciso encontrar caminhos
para que o setor ofereça serviços de qualidade de maneira
sustentável, que os cidadãos tenham condições de pagar.
O diretor-presidente da Agência
Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Leandro Fonseca da Silva,
afirmou que o desafio da saúde no Brasil pode ser até maior que
desafio da sustentabilidade da Previdência. Ele disse que a
população brasileira está envelhecendo, a demanda por saúde está
crescendo e os custos de serviços, procedimentos e equipamentos
está aumentando. O grande desafio em sua opinião é como financiar
uma saúde de qualidade de maneira sustentável. O custo de um plano
de saúde precisa ser suportável pelo consumidor que, por sua vez,
precisa de atendimento de qualidade. Ele cobrou mais transparência
do setor em relação a seus resultados.
A titular da Secretaria Nacional
do Consumidor do Ministério da Justiça, Ana Lúcia Kenickel
Vasconcelos, afirmou que houve mais de 29 mil reclamações de
consumidores contra planos de saúde em 2017 e, em 2018, até julho,
o número já passou de 16 mil. Ela informou que os planos de saúde
coletivos já correspondem a 96% do total de planos no país. Nesse
tipo de contrato, segundo a secretária, o consumidor não tem
qualquer participação nem controle do que é gasto com
procedimentos, exames e consultas.
Ela cobrou mais clareza dos
planos de saúde nos contratos de adesão que, em sua opinião, devem
apresentar ao cliente, na primeira página, de maneira clara e sem
dúvidas, tudo que está sendo contratado e quais os direitos que a
pessoa terá se pagar determinada mensalidade. Ana Lúcia sugeriu
ainda a proibição de que planos de saúde possam rescindir contratos
unilateralmente, a não ser em casos de fraude ou
inadimplência.
Representando o Instituto
Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), o advogado Igor
Rodrigues Britto afirmou que o Tribunal de Contas da União (TCU já
apontou em relatório a incapacidade de a ANS prevenir, identificar
ou corrigir reajustes abusivos em planos coletivos. Ele também
cobrou mais transparência de dados no setor, para facilitar a
regulação pública com controle social e a análise do impacto
regulatório.
Pela União Nacional das
Instituições de Autogestão em Saúde (Unidas), o assessor jurídico
José Luiz Toro da Silva explicou que essas operadoras de saúde são
geridas por grupos de funcionários ou servidores sem finalidade
lucrativa, o que os permite serem mais transparentes e oferecerem
serviços de qualidade a preços justos. Entretanto, ele reclamou que
a legislação e a regulação não incentivam esse tipo de
operadora.
Já o diretor-executivo da
Federação Nacional de Saúde Suplementar (Fenasaúde), José Cechin,
informou que sua entidade congrega 22 operadoras privadas de planos
de saúde. Em defesa delas, argumentou que a inflação no setor de
saúde é maior que a inflação oficial, pois há variações de preços
de serviços, equipamentos, materiais, honorários médicos,
medicamentos e procedimentos. Além disso, disse que o número de
clientes caiu nos últimos três anos, mas o número de consultas e
exames e seus custos continuam aumentando. Cechin garantiu que as
operadoras privadas vêm buscando redução e racionalização de custos
e despesas, com inovação na gestão, diminuição do custeio
administrativo e investimentos contra fraudes.
A reunião foi conduzida pela
presidente da CAS, a senadora Marta Suplicy (MDB-SP), e também teve
a participação do advogado da Central Nacional Unimed José Cláudio
Ribeiro Oliveira e dos senadores Roberto Muniz (PP-BA), Humberto
Costa (PT-PE) e Airton Sandoval (MDB-SP).