Em países de renda média e
baixa, os gastos governamentais com saúde mental são inferiores a 1
dólar per capita. Em nações pobres, o número de trabalhadores na
área é considerado insuficiente: dois profissionais por cada 100
mil habitantes. Números são de novo levantamento da Organização
Mundial da Saúde (OMS).
Ao longo da vida, uma em cada dez
pessoas precisará de cuidados de saúde mental. Mas se depender do
atual ritmo de investimento no setor, muitos desses indivíduos não
terão acesso aos serviços e profissionais de que precisam. É o que
revela o novo Atlas de Saúde Mental
2017 da Organização
Mundial da Saúde (OMS). Publicação defende criação de clínicas
baseadas nas comunidades para universalizar atendimento.
Em países de renda média e baixa, os
gastos governamentais com saúde mental são inferiores a 1 dólar per
capita. Em nações pobres, o número de trabalhadores na área é
considerado insuficiente: dois profissionais por cada 100 mil
habitantes. Em nações de renda alta, o indicador chega a mais de 70
por 100 mil habitantes, e os investimentos são da ordem de mais de
80 dólares per capita.
Mais de dois terços dos países, de um
total de 117 que responderam à pesquisa, informaram que os cuidados
e o tratamento de pessoas com transtornos mentais graves não estão
incluídos nos planos nacionais de seguros de saúde ou de
reembolso.
“Ninguém deveria estar perdendo
cuidados de saúde mental por causa de seu custo”, afirmou o diretor
do Departamento de Saúde Mental e Abuso de Substâncias da agência
da ONU, Shekhar Saxena.
“É por isso que o esforço da OMS para
a cobertura universal de saúde é tão importante: garantir que
todos, em qualquer lugar, tenham acesso aos cuidados dos quais
necessitam, incluindo em relação à saúde mental.”
O Atlas de Saúde Mental é publicado
desde 2000, quando uma primeira avaliação em nível global mapeou os
investimentos dos países neste segmento da saúde. Atualmente, os
dados compilados pelo relatório auxiliam a OMS a monitorar os
avanços dos Estados-membros no cumprimento do Plano de
Ação Integral de Saúde Mental 2013-2020.
As metas do organismo da ONU preveem
que a cobertura dos serviços de saúde mental seja ampliada em 20%
até 2020. Desde a edição anterior do atlas, publicada em 2014, até
a atual, não há dados sobre avanços na expansão do atendimento.
A estratégia também estipula que pelo
menos 80% dos países atualizem ou desenvolvam políticas e planos de
saúde mental baseados em instrumentos de direitos humanos
internacionais e regionais. No caso das leis sobre saúde mental, a
percentagem esperada para 2020 é de 50%. Outro objetivo é que 80%
dos países tenham pelo menos dois programas nacionais de saúde
mental, que sejam funcionais e multissetoriais, voltados para
promoção e prevenção.
O plano de ação visa garantir ainda
que 80% dos países passarão a coletar e divulgar, a cada dois anos,
uma lista de indicadores de saúde mental. De acordo com o atlas
2017, somente 37% dos Estados-membros da OMS recolhem dados
específicos sobre o tema pelo menos no setor público.
“Esta última edição nos fornece mais
evidências de que o aumento de recursos para a saúde mental não
está acontecendo com rapidez suficiente. Nós sabemos o que
funciona. A falta de investimento em saúde mental como uma questão
de urgência terá custos de saúde, sociais e econômicos em uma
escala que raramente vimos antes”, acrescentou Saxena.
De acordo com a OMS, cada dólar
investido na expansão do tratamento de transtornos mentais comuns —
como depressão e ansiedade — resulta em um retorno de 4 dólares em
melhores condições de saúde e capacidade de trabalho.
Uma análise calculou os custos de
tratamento e os resultados de saúde em 36 países de baixa, média e
alta renda para um período de 15 anos — entre 2016 e 2030. A
pesquisa mostrou que baixos níveis de reconhecimento e acesso a
cuidados para depressão e ansiedade provocam uma perda econômica
global de 1 trilhão de dólares por ano.
Do hospital psiquiátrico para
serviços em comunidades e residências
Menos da metade dos 139 países que
instituíram políticas e planos para a saúde mental estão alinhados
com as convenções de direitos humanos que enfatizam a importância
da transição da instituição psiquiátrica para serviços baseados na
comunidade. Marcos internacionais e regionais também defendem a
participação das pessoas com transtornos mentais nas decisões sobre
sua vida.
A taxa global de leitos em hospitais
psiquiátricos é seis vezes maior (11,3 por cada 100 mil habitantes)
do que o número de leitos nas enfermarias psiquiátricas de
hospitais gerais.
Suicídio
Outra meta do plano de ação da OMS é
reduzir em 10% a taxa de suicídio. A agência da ONU estima que
cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano. De acordo
com a nova publicação, em cada 100 mil habitantes no mundo, 10,5
vão a óbito por suicídio.
Apesar de um ligeiro aumento no número
de países que têm uma estratégia nacional de prevenção, na
comparação com o atlas 2014, apenas um terço dos países de média e
renda relatou ter implementado esses programas. Entre as nações de
renda baixa e baixa-média, apenas 10% possuem inciativas de
prevenção.