Cenas que poderiam facilmente compor
uma obra de ficção extremamente violenta. Essa é a realidade dos
municípios do Espírito Santo, que desde o dia 4 de fevereiro
enfrentam a barbárie que se instalou pelas ruas após o anúncio da
greve da Polícia Militar do Estado.
Embora a paralisação seja considera
ilegal, as famílias dos policiais fazem protesto em frente aos
batalhões impedindo o trabalho do efetivo e pedindo 43% de reajuste
nos salários dos PMs. Não caracterizando, portanto, uma greve
escolhida por eles e sim induzida pelas famílias. Embora a situação
esteja sendo controlada e os policiais estejam voltando às ruas, a
ausência de policiamento gerou uma onda de saques, assaltos,
invasões e registra, até o fechamento desta matéria, mais de R$ 300
milhões em prejuízos para o comércio e 147 mortes.
A Secretaria de Segurança Pública do
Estado pediu reforço de militares e disse que, enquanto houvesse
paralisação, não haveria diálogo com os policiais.
Proteções
A respeito dos seguros, surge a dúvida
se esses acontecimentos seriam encarados como ocasionados por
greve, lockout e vistos como tumultos – o que faria com que
estivessem excluídos das apólices que não tivessem contratação
especial à parte para esses eventos – ou se estariam cobertos como
sinistros previstos em casos comuns: roubo e furto qualificado.
“Estamos sofrendo terrivelmente em
nosso estado devido a greve. Como resultado, toda a população está
sofrendo danos emocionais, perdendo bens materiais e sentindo muito
medo e insegurança”, declarou à Revista Apólice José Marques de
Freitas, corretor da Costa Bela – localizada na capital,
Vitória.
Apesar do clima de estado de sítio, o
corretor afirma que algumas seguradoras têm indenizado os sinistros
apresentados normalmente. “Roubo, furto qualificado, colisão,
incêndio em veículos e imóveis, arrombamento de carros e imóveis
residências e comerciais estão cobertos”, afirma. Segundo ele, não
estão ocorrendo atos de vandalismo, nem tumultos, mas, sim,
criminalidade.
Divergências
Mesmo assim, outros corretores relatam
que há seguradoras se recusando a receber os avisos de sinistros,
conforme nota oficial divulgada pelo Sincor-ES. Elas estão
classificando-os como atos de vandalismo, excluídos das condições
gerais, por serem ocorrências em estado de calamidade pública. Para
resolver esse impasse, a orientação do sindicato capixaba é
bastante clara. “O corretor deve promover o registro de ocorrência
e a seguradora tem a obrigação de recebê-la e, em caso de negativa
fazê-la por escrito detalhando os motivos pelos quais ela nega o
pagamento do sinistro”, diz comunicado.
Entramos em contato também com a
FenSeg e a entidade afirmou que, embora a situação do estado seja
realmente atípica e esteja sob investigação das autoridades, não
deverá ser motivo para descaracterizar os eventos que originam o
sinistro. Mas faz uma ressalva: “importante ainda frisar que a
regulação do sinistro é feita de forma independente por cada
seguradora; as coberturas e exclusões se alteram entre os produtos
oferecidos pelas empresas”, afirmou a federação.
Para ter cobertura é importante que o
segurado esteja com o pagamento do prêmio em dia e toda
documentação solicitada pela seguradora. É importante conhecer bem
sua apólice e o que ela oferece é essencial.
Outros riscos
Fora os bens materiais, outros perigos
emergem da situação. Riscos de morte, invalidez permanente,
sinistros com equipamentos portáteis e até mesmo eventos estão
sendo prejudicados. Portanto, as seguradoras irão ver crescer
também as indenizações nos seguros de pessoas.
Essas orientações são necessárias,
justamente pela individualidade de cada companhia, mas a FenSeg
orienta que o corretor também deve estar preparado para as demandas
que virão.
Mesmo com a aceitação de alguns
sinistros, João afirma que ainda não foi notificado por nenhuma
seguradora que quisesse prestar esclarecimento ou dar orientação
sobre o que fazer diante desse cenário. “Os segurados é que ligam
para a nossa corretora para serem orientados”, explica.
A onda de violência dificulta a plena
contabilização dos danos, já que ainda são sub-notificados por
conta do estado de alerta no qual os moradores se encontravam. Além
disso, a penetração dos seguros no Espírito Santo não é das
maiores. O residencial, por exemplo, tem penetração de apenas 5,8%
no estado, segundo dados da CNseg.
A entidade afirma ainda que medidas
para auxiliar corretores e segurados estão sendo tomadas e que a
Federação disponibiliza informações, cartilhas e dados de contato
em seu site para reforçar o atendimento e ajudar no esclarecimento
de dúvidas quanto aos direitos de ressarcimento.