Em 2016, presenciamos alguns fatos
relevantes na politica e na economia. E dentre aqueles que impactam
diretamente o mercado de seguro de carros, notamos o significativo
aumento do volume de roubos e furtos de automóvel de forma
generalizada em função da grande deterioração da segurança pública,
tendo como expoentes midiáticos os estados do Rio de Janeiro e Rio
Grande do Sul, além de locais que até então não eram tão afetados
como cidades de porte menor em comparação com as grandes
capitais.
A falência dos governos estaduais teve
como uma de suas consequências negativas o aumento de
criminalidade. Praticamente todas as seguradoras experimentaram o
crescimento significativo da sinistralidade na carteira de seguro
de automóvel, com um aumento que variou de 3% a 8,5%, de acordo com
dados da SUSEP no acumulado de janeiro a outubro de 2016.
Observando o cenário macroeconômico
que está se desenhando para 2017, temos alguns movimentos que
impactarão as vendas e os balanços das seguradoras. Julgamos que os
mais significativos serão: o processo de redução da taxa Selic
afetando o resultado financeiro da aplicação das reservas; a demora
para retomada do emprego, impactando negativamente a venda de
veículos novos; e o dissídio salarial trazendo pressão de
custos.
Com relação à indústria de seguros de
automóveis, notamos diversos movimentos. Tais como o lançamento do
Auto Popular por diversas seguradoras, buscando trazer para o
mercado os tão desejados 70% de veículos que não têm seguro. E a
continuidade do desenvolvimento de produtos mais simples, almejando
o cliente que já possui seguro, mas está passando por um momento de
revisão e redução de suas despesas.
O uso intensivo de telemática ainda
está distante e sua eficácia permanece questionável, dado que o
custo de implantação de mecanismos de coleta de dados é elevado e
os benefícios em termos de discriminação de riscos até agora não
são comprovados — além do fato de que o uso de informações do
perfil de crédito do cliente são altamente diferenciadores de risco
e já estão em curso há muitos anos com sucesso.
Espera-se um início de retomada de
investimento na economia em geral, gerando emprego e,
consequentemente, renda e consumo, a partir do 2o Semestre de 2017.
A produção de automóveis já deu um salto de 20% de outubro para
novembro, de acordo com a ANFAVEA. No entanto, grande parte deste
aumento se deve à reposição de estoques para exportação e ao
término de uma greve na cadeia produtiva de uma das principais
montadoras instaladas no Brasil.
A tão falada desintermediação na venda
de seguros não deve vir tão cedo, se vier. Alguns modelos de venda
direta estão sendo testados, mas as reações do mercado não são
encorajadoras. Os consumidores continuam demandando o atendimento
humano feito por um profissional independente, o que garante a
sobrevivência dos corretores, além do fato de este canal de venda
ser mais barato para as seguradoras. No entanto, os corretores vão
encarar o desafio de se provar necessários aos clientes, agregando
valor através da consultoria técnica, especializada e
profissional.
Começamos a ver algumas seguradoras se
movendo no sentido de avaliar a experiência do usuário em todo o
processo e não apenas na navegação em seu site. Os clientes de
seguro ainda não têm uma visão positiva da experiência como um
todo, desde a contratação e a vistoria prévia, passado pela emissão
da apólice, endosso, assistência 24 horas, sinistros, etc. Algumas
atividades já se encontram num patamar de excelência, enquanto
outras ainda podem ser melhoradas.
Neste sentido, a solução dos problemas
passa pela discussão com os corretores a respeito dos principais
pontos que causam desconforto para os clientes, bem como a busca de
otimização de processos que poderiam reduzir o tempo de
atendimento, assim como a redução de custos na cadeia como um todo.
Estas economias poderiam ser transferidas para o preço, ajudando a
aumentar a penetração do produto na base de clientes sem
seguro.
A maior disseminação do seguro na
sociedade continuará com o mesmo desafio da indústria por décadas:
como criar produtos adequados ao perfil socioeconômico dos
clientes, enfrentando aspectos regulatórios não tão flexíveis e, ao
mesmo tempo, rompendo barreiras culturais a respeito da indústria?
Ainda estamos longe do dia em que as pessoas entenderão que ter um
seguro não é um mal necessário, pelo contrário. A maior penetração
de seguros na população ilustra um amadurecimento da sociedade como
um todo, que passa a pensar em como proteger seu futuro em
comparação com o imediatismo que vemos hoje.
Cada vez mais o big data será
importante não apenas em questões de precificação e subscrição de
risco, mas também para a elaboração de estratégias de marketing
mais eficazes. Com relação à cross-sell e up-sell, ainda não
vislumbramos o tão esperado sucesso de diversificação da base de
produtos comprados por nossos clientes que são basicamente
monoproduto (seguro de auto apenas), dado que até hoje nenhuma
estratégia se mostrou vencedora. Acredito que a proximidade das
seguradoras com os corretores avaliando os erros e acertos até o
momento poderia dar pistas para a construção de uma solução
eficaz.
Finalmente, tendo ouvido diversos
líderes do setor, pode-se esperar um crescimento da carteira de
automóvel na faixa de 5 a 10%, dos mais pessimistas aos mais
otimistas, parecendo haver consenso num avanço de 7%.