Uma
revoada de investidores desembarcou no Brasil desde o ano passado.
Por que? A aprovação de uma lei que permite a entrada de
investimentos estrangeiros nos hospitais brasileiros e as cifras
começaram generosas, dando indícios intensos de consolidação no
setor, a matéria é do Portal Valor.
O
americano Carlyle e o Fundo Soberano de Cingapura (CIG) fizeram
aportes de aproximadamente R$ 5 bilhões na Rede D’Or e a
UnitedHealth comprou o Hospital Samaritano de São Paulo, por R$ 1,3
bilhão.
No
entanto, devido a crise econômica que sucedeu no país e as
barreiras estruturais de entraves econômicas que tem barrado a
conclusão das transações no setor, o movimento não ocorreu até o
momento. Empecílhos são apontados como: carência de hospitais de
grande porte, dependência das Unimeds como fonte pagadora,
principalmente fora do estado de São Paulo, atendimento ao SUS,
gestão pouco profissionalizada e indisposta dos fundadores para
abrir mão do controle do hospital.
Os
investidores estrangeiros demonstraram estar em busca de hospitais
brasileiros de ativos com mil leitos, mas as opções são
limitadíssimas e, ainda assim, são hospitais que já tem sócios
investidores como a Rede D’Or, ou já pertencem a operadoras de
planos de saúde que usam seus hospitais basicamente para atender
seus clientes. Esse foi o motivo apontado como maior entrave, a
média de leitos dos hospitais são de 70 leitos e não são
considerados rentáveis uma vez que os custos fixos de um hospital
são elevados.
A Amil,
dona de 32 hospitais e a NotreDame Intermédica, que tem 845 leitos
e já foi vendida há dois anos ao fundo americano Bain Capital. A
operadora Hapvida, que ainda não tem investidor, deve chegar ao fim
de 2016 com 3 mil leitos, mas voltados apenas aos clientes da
própria Hapvida.
“A Rede
D’Or e o Edson Bueno começaram a consolidação antes e compraram os
melhores ativos”, diz Roberto Schahin, sócio da MTS Health
Partners, banco de investimento americano especializado em saúde.
Bueno é controlador de uma rede com seis hospitais, que juntos têm
1,5 mil leitos, com marcas reconhecidas na comunidade médica como
Santa Paula e Nove de Julho, ambos em São Paulo. Já a Rede D’Or é a
maior do setor no Brasil, com faturamento de R$ 6,5 bilhões e mais
de 30 hospitais, como o paulista São Luiz, o Santa Luzia, em
Brasília, e as unidades D’Or, no Rio.
Segundo
Camila Crispim Bastos, “head” do setor de saúde do Banco Modal,
entre os investidores estrangeiros que analisaram ativos
brasileiros neste último ano, entre 45% a 50% não fecharam negócio
por causa do tamanho do hospital. Nos Estados Unidos, o número de
leitos por hospital é em média três vezes maior em relação ao
Brasil, segundo Anahp e BTG.
No
mercado brasileiro, há 3,8 mil hospitais privados com ou sem fins
lucrativos, ao todo o faturamento dos hospitais somam cerca de R$
50 bilhões de acordo com um levantamento realizado pela MTS Health
Partners. Deste valor, estimam-se que R$ 23 bilhões são
provenientes dos 72 maiores grupos hospitalares do país.
Na falta
de hospitais de grande porte, o movimento mais comum seria de
aquisições de ativos menores para formar grupos, como já ocorreu em
outros setores da saúde como laboratórios de medicina diagnóstica e
operadoras de convênios médico e dental. “Mas a lógica não é tão
simples no caso dos hospitais devido à complexidade e risco
iminentes ao negócio”, diz a sócia do banco Modal, complementando
que o valor do cheque não tem sido o maior problema para os
investidores estrangeiros.
O setor
afirma que sua rentabilidade está sob pressão. “Nos últimos três
anos, a variação dos custos médicos cresceu mais do que a receita”,
disse Francisco Balestrin, presidente da Anahp. A dependência
das Unimed é outro ponto que vem causando insatisfação entre os
estrangeiros. Em muitas regiões do país, são a única fonte pagadora
para os prestadore. Regiões fora do estado de São Paulo e do Sul do
Brasil. Os investidores estão receosos de construir novos hospitais
inclusive nessas áreas brasileiras.
Em meio
à essas dificuldades para fechar grandes transações, os hospitais
filantrópicos privados estão se destacando. No período de um ano, o
Samaritano de São Paulo foi comprado pela UnitedHealth, dona da
Amil o Hospital Bandeirantes mudou sua razão social para fins
lucrativos.
“Os
filantrópicos estão nos procurando para ver os modelos viáveis. Há
interesse deles em expandir com capital estrangeiro. Mas tenho dito
que há outros formatos e não só mudar a razão jurídica”, destaca
Elysangela de Oliveira Rabelo, advogada e sócia da Tozzini Freire,
escritório de advocacia que tem uma área específica para atender o
setor. Elysangela exemplifica como opções aos filantrópicos a
criação de subsidiárias, licença de marcas ou gestão de
hospitais.
O sócio
da MTS Health levanta outro empecilho ainda pouco discutido: a
grande parcela de atendimentos a pacientes da rede pública (SUS)
por alguns hospitais filantrópicos particulares. É o caso da
Beneficência Portuguesa, de São Paulo. “Há uma carência enorme de
leitos SUS no país.
Como eu
vou chegar numa prefeitura e informar que o hospital foi comprado e
aqueles leitos passarão a ser privados? Não dá para fazer isso”,
explica Schahin.
Os
sócios do Modal, da MTS Health e da Tozzini Freire dizem que a
falta de governança corporativa no setor é outro grande problema. É
comum o fundador do hospital acumular as funções de presidente,
médico responsável e ainda ter consultório dentro do próprio
hospital. Outra característica é que muitos hospitais de menor
porte têm vários sócios médicos que estão em busca de aportes
financeiros, mas não querem abrir do controle. “Para o investidor
levar adiante a consolidação ele quer comprar 100%”, diz
Camila.