RIO - A
Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) fixou em 13,57% o
aumento para os planos de saúde individuais. É o 13º ano
seguido em que o reajuste fica acima da inflação, que foi de 9,28%
nos 12 meses terminados em abril. O aumento anunciado ontem é o
maior já autorizado pela reguladora e está em vigor desde maio. Ele
atinge cerca de 8,3 milhões de beneficiários. O percentual é válido
para os planos de saúde contratados a partir de janeiro de 1999 ou
adaptados à Lei nº 9.656/98. Veio bastante parecido com o teto de
aumento estabelecido pela agência no ano passado, que foi de
13,55%. Em dois anos, os planos já subiram 29%.
Na conta, a ANS considera a média dos aumentos aplicados pelas
operadoras aos contratos de planos coletivos com mais de 30
usuários, que são de livre negociação. De acordo com a ANS, as
operadoras aplicaram reajustes nos planos coletivos que chegaram a
34,36%.
Para Renata Vilhena, advogada especialista em direito à saúde,
os reajustes estipulados pela próprias operadoras para os planos
coletivos são abusivos e acabam se refletindo no percentual
estabelecido para os planos individuais.
— As reclamações na Justiça contra os planos aumentam cada vez
mais: são consumidores insatisfeitos com descredenciamentos
abusivos de hospitais e médicos, negativas de atendimentos e a
demora na autorização de tratamentos emergenciais. O valor é muito
alto para o pouco retorno em qualidade de atendimento que o
paciente recebe — observa a advogada.
REAJUSTE SÓ NA DATA DO CONTRATO
Na avaliação da pesquisadora em saúde suplementar do Instituto
Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), a advogada Joana Cruz,
esse modelo de reajuste é, na prática, uma autorregulação, já que a
intensidade do aumento é ditada pelo mercado de planos de saúde
coletivos. Para Joana, enquanto o teto ficar acima da inflação
oficial, o beneficiário será onerado. Nas contas do economista do
FGV/Ibre André Braz, os gastos com planos de saúde comprometem
3,34% do orçamento familiar, peso similar ao da energia
elétrica.
— Esse ano, a diferença entre o IPCA e o reajuste máximo que
pode ser aplicado diminuiu em relação ao ano passado. O problema é
que o custo de vida como um todo aumentou. A ANS precisa passar a
regular os planos coletivos, e o reajuste dos individuais tem de
guardar relação com o custo de vida do consumidor. Do contrário,
continuará sendo penoso — explica Joana.
O reajuste pode ser aplicado só a partir da data de aniversário
do contrato, que corresponde ao mês em que ele foi assinado. Se
tiver sido em maio, o usuário terá de pagar o aumento
retroativo.
Além da correção anual, os planos podem sofrer o reajuste por
mudança de faixa etária, que ocorre cada vez que o beneficiário
muda de idade e se enquadra em uma nova faixa de cobrança
pré-definida em contrato. Ambos os aumentos podem coincidir no
mesmo mês, e a aplicação dos dois é permitida.
A aplicação do reajuste de forma gradual dilui o impacto desses
aumentos sobre o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA),
explica Braz. Mas, no acumulado de 2016, os planos de saúde serão
responsáveis por 0,45 ponto percentual da inflação do ano, estima o
economista. Em 2015, os planos tiveram variação um pouco menor, de
12,15%, de acordo com o IBGE. A manutenção pela ANS do mesmo
percentual de reajuste aplicado no ano passado surpreendeu o
pesquisador da FGV:
— Eu esperava algo maior, porque a inflação do ano passado
praticamente dobrou em relação ao ano anterior, e os custos das
operadoras seguem pressionados.
A ANS ressaltou que o índice de reajuste dos planos,
diferentemente do IPCA, é um índice de custos dos serviços e da
quantidade de insumos consumidos.
INFLAÇÃO MÉDIA É MAIOR, DIZEM SEGURADORAS
Segundo Braz, historicamente, os serviços sobem acima da
inflação média:
— O setor de saúde é ainda mais afetado por ser um segmento que
incorpora avanços de tecnologia e usa profissionais altamente
capacitados e especializados.
Solange Beatriz Palheiro Mendes, presidente da FenaSaúde,
associação que reúne as seguradoras, disse que a correção definida
pela ANS nos últimos anos não vem cobrindo as despesas
assistenciais dos planos. Segundo a entidade, a inflação médica é ,
em média, duas vezes superior à inflação geral que mede os demais
preços da economia. De 2007 a 2015, enquanto o IPCA acumulou alta
de 64,5%, a despesa assistencial per capita em saúde cresceu
129,2%, diz a entidade. A Abramge, que representa os planos de
saúde, não se manifestou.