O Ministério Público (MP) instaurou
inquérito civil para apurar prática abusiva da UnimedPaulistana e
envio indevido de boleto de cobrança por serviços que não poderia
prestar, já que a operadora está proibida pela Agência Nacional de
Saúde Suplementar (ANS) de administrar novos planos de saúde. A
empresa N.A. Fomento Mercantil Ltda. também é investigada pela
Promotoria do Consumidor porque era beneficiária.
Após notificação sobre a ação, o MP
deu prazo de 15 dias para que as empresas se manifestem sobre o
assunto. A Unimed Paulistana informou, em nota, que o caso está
sendo verificado. A N.A. Fomento Mercantil também foi procurada
pelo G1, mas até as 17h não havia se
manifestado sobre o inquérito do Ministério Público.
A Unimed Paulistana faliu após uma
crise financeira afetar a cooperativa. A operadora tinha 744 mil
clientes. A maior parte dos beneficiários morava na cidade de São
Paulo. Desde setembro do ano passado, a operadora está impedida de
vender novos planos e teve prazo, várias vezes prorrogado, para
fazer a transferência de seus beneficiários para as operadoras
Unimed Fesp, Unimed Seguros e Central Nacional Unimed.
Cobrança
ilegal
O inquérito do Ministério Público foi instaurado no fim de janeiro
após a Promotoria tomar conhecimento de que as empresas
encaminharam boleto de cobrança de plano de saúde com vencimento em
novembro de 2015, no valor de R$ 1.235,80, para uma cliente da
Unimed Paulistana. A consumidora, segundo a Promotoria, fez o
pagamento imaginando que se tratava de seu plano de saúde da
Central Nacional Unimed, para onde havia migrado em outubro.
Mesmo sabedora da cobrança ilegal,
a Unimed Paulistana se negou a devolver o valor pago indevidamente
e orientou que a consumidora procurasse a Justiça, segundo relatou
o promotor Gilberto Nonaka. Segundo a investigação, mesmo a Unimed
Paulistana não prestando qualquer serviço de saúde aos
beneficiários de sua carteira, continuou, juntamente com a N.A.
Fomento Mercantil, "enviando boletos de cobrança e obtendo
vantagens indevidas", apontou o MP.
A Promotoria notificou as empresas
investigadas. Após receberam a notificação, a Unimed Paulistana e a
N.A. Fomento Mercantil têm 15 dias para se manifestarem. O promotor
também enviou ofícios ao Procon, à Agência
Nacional de Saúde Suplementar (ANS), à Central Nacional Unimed, à
Unimed do Estado de São Paulo, Federação Estadual das Cooperativas
e à Unimed Seguros Saúde para obter informação de casos
semelhantes.
Saída do
mercado
Em janeiro, a Agência Nacional de Saúde Suplementar determinou a
liquidação extrajudicial da Unimed Paulistana e a saída definitiva
da operadora do mercado de planos de saúde.
A empresa, no
entanto, conseguiu
uma decisão liminar que suspende o decreto. A ação está em
análise na 7º Vara Federal da Secção Judiciária de São Paulo e
depende de decisão final da Justiça Federal.
A Unimed Paulistana alegou que a
medida liquidação extrajudicial era prejudicial ao mercado e que
afetava ainda os 2,5 mil médicos cooperados. A decisão da Justiça
Federal acatou argumento da Unimed de que a suspensão da nova
decisão da ANS não prejudica o processo de transferência dos
clientes.
Além disso, o juiz entendeu ser
correto esperar o fim de ação que tramita no Tribunal de Justiça de
São Paulo em que a Unimed Paulistana tenta repartir o passivo da
crise que vive pelas demais empresas do sistema Unimed. A Unimed do
Brasil afirmou em nota que ainda não há confirmação da ANS, que
conduz as determinações voltadas à operadora, de como fica a
situação dos clientes com a suspensão da liquidação.
Mais prazo
A ANS também prorrogou até o fim de fevereiro o prazo para que os
beneficiários remanescentes da Unimed Paulista façam a
portabilidade para outros planos, sem necessidade de cumprir novos
períodos de carência, independentemente do tipo de contratação e da
data de assinatura dos contratos.
Em janeiro deste ano, a Agência
Nacional de Saúde Complementar já havia ampliado, em 15 dias, o
prazo para que a Unimed Paulistana transfira seus beneficiários
para as operadoras Unimed Fesp, Unimed Seguros e Central Nacional
Unimed. Em novembro de 2015, a ANS havia dado dois prazos para que
a transferência fosse feita, um de 15 e outro de 60 dias.
Migração
Segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar, os consumidores
podem escolher um dos planos disponíveis no Sistema Unimed ou
buscar produtos em qualquer operadora de plano de saúde.
Ainda de acordo com a ANS, o
beneficiário que estiver cumprindo carência ou cobertura parcial
temporária na Unimed Paulistana pode exercer a portabilidade
extraordinária de carências sujeitando-se aos respectivos períodos
remanescentes na outra operadora escolhida.
Caso o plano de destino possua a
segmentação assistencial mais abrangente do que o plano em que o
beneficiário está vinculado, poderá ser exigido o cumprimento de
carência no plano de destino somente para as coberturas não
previstas no plano de origem.
A ANS alerta que, nesta etapa, a
migração deve ocorrer o mais rápido possível, para assegurar o
atendimento em outros planos de saúde, uma vez que a decretação da
liquidação extrajudicial retira definitivamente a Unimed Paulistana
do mercado.
Os interessados devem se dirigir
diretamente à operadora escolhida, sem necessidade de contato com
intermediários, com o documento de comprovação de pagamento de 4
boletos da Unimed Paulistana referentes aos últimos 6 meses, cartão
da Unimed Paulistana, carteira de identidade (RG), CPF e
comprovante de residência.
Em caso de dúvidas ou denúncias, os
beneficiários podem entrar em contato pelo Disque ANS (0800 701
9656), pela Central de Atendimento no portal da Agência
(www.ans.gov.br) ou pessoalmente, nos Núcleos da ANS presentes em
12 cidades.
No estado de São Paulo, são dois
endereços:
- Núcleo da ANS em São Paulo: Avenida Bela Cintra, nº 986 - 9º
andar - Edifício Rachid Saliba - Bairro Jardim Paulista - São Paulo
(SP)
- Núcleo da ANS em Ribeirão Preto: Avenida Presidente Vargas, nº
2121 - 2º Andar - Sala 203 - Edifício Times Square - Ribeirão Preto
(SP)
Crise
financeira
Fundada em 1971, a Unimed Paulistana enfrenta há anos uma crise
financeira e fechou 2014 com patrimônio líquido negativo em R$ 169
milhões e um passivo tributário de R$ 263 milhões, segundo o último
relatório de gestão.
A Unimed Paulistana é a 4ª maior
empresa do sistema Unimed, que reúne hoje 351 cooperativas médicas,
que embora utilizem a mesma marca e modelo de gestão, operam e
comercializam planos de saúde de forma autônoma e independente, sem
oferecer necessariamente uma cobertura nacional.
A Unimed Paulistana informou em seu
último relatório ter fechado o ano de 2014 com
mais de 2.300 médicos cooperados, 231 clínicas e 87 hospitais
credenciados, e um total de mais de 4,2 milhões de consultas
realizadas no ano. A maior parte dos beneficiários mora na cidade
de São Paulo. Segundo dados da ANS, 78% estão em planos coletivos
(empresariais e por adesão).