A Associação Auxiliadora das
Classes Laboriosas, mais conhecida apenas como Classes Laboriosas,
é considerada o primeiro plano de saúde brasileiro. O diretor
comercial e de marketing, Felipe Affonso, fala com exclusividade ao
Portal Multicálculo sobre as mudanças
desta empresa ao longo dos últimos anos e como está a operação
hoje.
Classes Laboriosas não é
uma empresa convencional, é uma associação. Como funciona
isso?
Sim, Classes Laboriosas é o
primeiro plano de saúde brasileiro. É diferente de uma empresa
convencional, é uma associação dos pedreiros e carpinteiros,
fundada 1891. Foi o primeiro plano de saúde a oferecer ambulância,
o primeiro a ter uma farmácia própria. Tinha um anfiteatro chamado
Celso Garcia que era palco dos encontros sindicais e associativos
de São Paulo, até que houve um incêndio em 2009.
Por ser uma associação, a diretoria
executiva – presidente e os dois vices – é eleita pelos associados,
e não tem remuneração. É uma associação mas que corre os riscos de
qualquer empresa. A diretoria não é remunerada mas tem
responsabilidade grande, pois se der algum problema no caixa a
Agência Nacional de Saúde (ANS) faz intervenção.
Há quanto tempo está na
empresa? Qual seu trabalho?
Entrei aqui em julho de 2010, após
trabalhar muitos anos na operadora Avimed.
Surgiu essa oportunidade na Classes
Laboriosas, pois aqui não tinha departamento comercial, tinha um
consultor comercial, que era do ramo de seguros, e hoje é professor
da Funenseg, mas as vendas em si não estavam acontecendo muito bem.
Como eu venho de planos de saúde desde 1994, tenho bom
relacionamento no mercado, quando entrei na Classes Laboriosas me
espantei com muita coisa, principalmente o fato de ela ser encarada
como associação.
Venho de vendas, sou formado em
Marketing e Administração de Empresas, com pós em Marketing. Estava
empolgado com ações para conquistar novos clientes, quando o
presidente me disse para parar, pois já tínhamos problemas para
administrar a carteira de 20 mil associados, e era preciso arrumar
a casa antes de vender mais. Eu argumentei que vim para vender, não
para ganhar apenas o meu fixo, ele disse que precisava de mim para
outras áreas também e fui ficando. Fui lendo e conhecendo outros
departamentos.
Precisei aprender mais do que a
minha área, criar novos planos para serem comercializados e
ganharmos mercado. Conheci a parte atuarial, chamei um consultor
para me ensinar como fazer e fui aos poucos entendendo alguma coisa
para a criação dos planos novos, onde contemplaria além do plano
pessoa física, o plano familiar, empresarial e por adesão.
Quais os problemas que a
carteira enfrentava?
Até os anos 90 a Classes Laboriosas
era uma instituição de elite, riquíssima. O cliente precisava de um
remédio, pegava um carimbo, ia até a farmácia e conseguia. Hoje
ninguém oferece isso, nunca ofereceu. Chegou a década de 90,
e vieram as seguradoras com fôlego para esse mercado, trazendo
conceito de plano empresarial e da faixa etária, o que aqui não
tinha. Como sempre a associação foi comandada por pessoas da
terceira idade, fizeram uma assembleia para decidir se passavam a
segmentar por faixa etária e a maioria foi contra. Então ficou caro
para criança e barato para idoso, a carteira acabou envelhecendo. E
formos perdendo credenciamento nos maiores hospitais. Quando se
começa a tirar os hospitais bons, quem pode pagar outro plano saí
da carteira, quem não pode e está com algum problema de saúde
fica.
Quando entrei em 2010 a carteira
tinha em média 78 anos. A Prevent Sênior, por exemplo, tem foco
nesta faixa, mas ela tem rede própria e aqui não. Idoso gera um
tempo maior de permanência hospitalar, se você tem um recurso
próprio consegue conter isso, senão está na mão da rede de
hospitais.
Uma carteira de planos
individuais complica o processo para a operadora?
Sim, não podemos rescindir o plano
do cliente pessoa física, também não podemos dar o reajuste que
seria necessário, pois a ANS determina limites. Só que o hospital
não tem nenhum órgão regulador, não tem nenhuma agência que
controle e então deita e rola em cima das operadoras, que ficam
reféns porque precisam do hospital. Nisso as operadoras ficam com a
margem cada vez mais apertada e há a fuga das pessoas físicas para
as administradoras, que podem negar entrada, têm um mínimo de
retenção de 12 meses, têm um reajuste por sinistro... Eu não posso
nada disso pois sou regulado pela ANS. Por isso as operadoras não
querem entrar para o produto pessoa física. De 2013 a 2014 o índice
de reajuste hospitalar foi da ordem de 30,8%, e a ANS não liberou
para nós 17%.
Como resolvem a questão dos
hospitais para a carteira de clientes?
Pela riqueza do passado, as Classes
Laboriosas ainda têm bastante patrimônio acumulado. Temos uma
equipe, comandada pelo Dr. Davi Braga, que é focada em tratamento
da carteira. A equipe vem fazendo um trabalho de sublocação
hospitalar, arrendamento de áreas em hospitais que venham a ter
algum espaço ocioso. Por exemplo, Hospital Monte Magno, do grupo
Santamália, tinha uma área ociosa, porque o Santamália não
conseguiu ocupar aquele hospital com sua carteira, então nós
sublocamos um andar, colocamos uma equipe médica de pronto
atendimento próprio. Além desse hospital, temos equipe própria
também no Hospital Adventista, na liberdade; Doutor Alvarenga, na
Av. Nazaré; Hospital Presidente, na Zona Norte; Hospital Alvicena,
Hospital Premier; e estamos em negociação com o Beneficência de São
Caetano do Sul.
Em geral, um paciente sai tratado
de um hospital da rede em 21 dias; porém nesses hospitais
específicos eu consigo fazer a mesma alta em oito dias. Eu uso 40%
do número de diárias para dar alta para o paciente, isso me reduziu
o custo hospitalar. Nos hospitais de rede, onde caberia um
antibiótico de 2 g de dosagem, colocava-se 250 ml e aí ia segurando
o paciente e demorando mais tratar. Esse é uma de nossas
estratégicas que fez com que essa carteira fosse tratada sem ter
rede própria.
Quantos clientes tem a
empresa hoje?
Quando entrei eram 20 mil, mas
tinha uma perda, pois morriam 100 por mês, em razão da idade
avançada – temos 17 clientes com idade acima de 100 anos, chegamos
a ter 25. Quando o presidente quis frear o crescimento é
porque ele não estava seguro, não acreditava que pudéssemos fazer
alguma venda satisfatória. Então como ele é o presidente e tem dois
vices, embaixo tem quatro gerências e eu sou uma delas, me reuni
com os outros gerentes e resolvi trabalhar, assinar até onde dava,
então chamei esse atuário, já tinha tudo calculado, tudo pronto,
calculei a comissão, margem, coloquei um nível de segurança, criei
os produtos, implantei sistema, treinei a empresa inteira, eu
pessoalmente coloquei nesta sala 120 funcionários em quatro turnos
de 30, durante dois dias, expliquei o beabá da comercialização de
planos de saúde para que tivesse um mínimo de impacto nossas ações,
pelo menos entrar gente nova, aumentar os planos empresariais,
tirar a média da terceira idade.
No primeiro mês nós tivemos uma
venda razoável, no segundo mês o presidente me questionou o
aumento, eu disse que era de planos novos, ele ficou surpreso, mas
entendeu que precisava mesmo. Nesse meio tempo recebemos visita da
ANS, tanto fiscal como técnica, o que ajudou bastante a
melhorarmos. Aqui é uma associação e não uma corporação, então
fazer uma análise gerencial é complicadíssimo, as representantes da
ANS solicitavam relatórios de sinistros, por produto, por faixa por
região, e aí precisávamos criar. Critérios para credenciar um
hospital, todos esses dados precisamos levantar. As diretoras
vieram com diversas instruções normativas, e perguntas, para
entender se estávamos atendendo bem, e com isso aprendemos
muito.
Agora temos uma operação rentável
com um passivo ainda preocupante, mas o que não dava era para o
funil ficar de ponta cabeça, entrando pouco e saindo muito. Há dois
anos já passa a entrada da saída. A carteira então aumentou para 30
mil associados, hoje metade da carteira tem 34 anos em média e a
outra metade 80, já está melhor. Tínhamos pessoas que pagam mais,
enquanto um pagava R$ 700, meu ticket médio hoje é de 180 na venda,
então preciso de quatro para suprir um que sai. Mas tudo bem, como
reflexo de conta médica e despesas isso também é salutar, pois os
mais jovens têm problemas de saúde menos complexos.
E as perspectivas são
boas?
São boas, já refizemos tudo, a
operação hoje é rentável. Hoje nossa realidade são os planos para
as classes C e D, nós mudamos as características. Consegui uma
verba de mídia, estou investindo em mídia de massa, vou iniciar
spots de 30 segundos na rádio Band FM para que o consumidor jovem
que não conhece a empresa. Estou na ANS com mais 18 produtos a
serem lançados, inclusive produtos com coparticipação.
Estamos com foco voltado a uma campanha de pequena e micro
empresa com dois novos profissionais gabaritados da área que
acabaram de ser contratados, que vêm um buscar negócios nas
corretoras e outro buscar negócios próprios. As corretoras já têm
domínio das empresas, mas pouco me solicitam na cotação. Vamos
investir em ações para elas também lembrarem e perceberem que
voltamos fortes.