As seguradoras vão ter de se
adaptar aos novos tipos de sinistros provenientes de casos de
corrupção e de outras crises vividas pelo País, segundo Pedro
Purm
Falta d’água, risco de apagão e
corrupção. A série de crises vividas pelo País, nos últimos meses,
vem mudando o mercado de seguros. O cliente passa a contar com
novos riscos e sinistros, e as seguradoras precisarão se adaptar a
novos serviços e produtos. “Até um tempo atrás, falar de seguro no
Brasil era ser taxado de pessimista, hoje, os clientes entendem a
importância deste ativo”, diz Pedro Purm, presidente da americana
Argo no Brasil. “O mercado de seguros brasileiro se sofisticou e
agora vive uma nova fase tanto no aspecto cultural, como na questão
de conhecimento técnico.” Não é à toa que, apesar da desaceleração
econômica, o setordeva crescer
50% até 2020, segundo estimativa da consultoria KPMG.
Com mais de vinte anos de
experiência na área de seguros e com passagem por empresas como a
suíça Zurich, Purn está à frente da Argo desde 2011 e falou à
DINHEIRO sobre os desafios do mercado, as perspectivas para 2015 e
os planos da companhia, que emitiu R$ 141 milhões em prêmios no ano
passado.
DINHEIRO – Escândalos
recentes de corrupção estão incentivando executivos a buscarem
seguros de responsabilidade civil?
Pedro Purm
– É um processo de aculturamento que ajuda bastante.
Os executivos acompanham essas repercussões e buscam maneiras de se
proteger. Temos vários casos de seguros financeiros relacionados à
responsabilidade civil de médico, engenheiros, advogados e outros.
Tem outra linha também que envolve eventuais danos ou prejuízos que
podem acontecer na gestão de um executivo. Esse mercado vem se
fortalecendo também pelo aumento da exigência das empresas em
relação a aspectos de governança, algo muito comum nos países mais
desenvolvidos. Os escândalos financeiros reforçam a necessidade de
uma forma de proteção.
DINHEIRO – Também temos
enfrentado outras crises, como a hídrica e a elétrica. De que
maneira o mercado de seguros se beneficia?
Pedro Purm
– É uma modalidade de seguros que também vem ajudando
o mercado a crescer. As empresas começaram a mensurar os eventuais
impactos e prejuízos que essas crises podem causar em equipamentos
e em linhas de produção das companhias. Isso nos ajuda a
desenvolver novas linhas de seguros.
DINHEIRO – Mas é rápido
lançar produtos no Brasil?
Pedro Purn
– O trabalhão dos órgãos reguladores no Brasil
evoluiu e temos um mercado bastante rígido. Por um lado, isso faz
com que o processo seja mais lento. Mas de certa forma essa é a
garantia que temos de um mercado mais sofisticado. De fato, leva-se
um tempo considerável entre o desenvolvimento e a aprovação de um
novo produto.
DINHEIRO – Quando a empresa
chegou ao Brasil, em 2010, a economia estava
muito diferente. Isso influenciou os planos para o
Brasil?
Pedro Purm
– Naquela época, o grupo iniciou uma estratégia de
internacionalização e, naquele contexto, o Brasil era um destino
certo. Era um momento muito positivo. A empresa saiu dos Estados
Unidos, veio para o Brasil e também começou a operar em Londres e
em outras regiões da Europa e do Oriente Médio. Claro que o momento
econômico é bem diferente, mas o grupo é bastante dinâmico e
consegui absorver os desafios do Brasil. Posso dizer que mudamos
nosso planejamento, com certeza, mas iniciamos 2015 muito bem
estruturados.
DINHEIRO – Quanto investiu
no País?
Pedro Purm
– O grupo entrou com um investimento mais alto do que
era necessário. Começamos com US$ 30 milhões e, com os aportes de
capital recebidos desde então, chegamos a US$ 70 milhões investidos
no Brasil.
DINHEIRO – Qual sua
expectativa para 2015?
Pedro Purm
– Crescemos 15% no ano passado e vamos crescer 25%
neste ano, mesmo em um ambiente ruim. Preparamos muito a companhia.
Claro que nossa base é pequena, portanto, crescemos com mais
rapidez. Nosso foco é crescer na área de seguros de transportes,
cujas emissões chegaram a R$ 70 milhões no ano passado, e
desenvolver as áreas de responsabilidade civil e seguro
financeiro.
DINHEIRO – Existe algum
ramo em que a Argo deve entrar neste ano?
Pedro Purm
– Não estamos fazendo investimentos tão fortes em
novos produtos. Mas, sim, temos interesses em novas áreas, mas
antes de tomarmos qualquer decisão precisamos sentir o ano.
Vamos focar nas linhas já existentes e na aproximação com os
corretores.