Empresários ainda resistem ao produto por causa
da cultura brasileira, que vê a proteção como um custo, e o
desconhecimento da opção, que pode ser mais vantajoso que antecipar
recebíveis
Apesar de pouco conhecido no Brasil, o seguro de
crédito, que garante indenização a um credor em caso de
inadimplência, cresceu 9,2% de 2012 para 2013, fechando o ano
passado com volume de R$ 568,5 milhões em prêmios. Neste ano, até
junho, já foram 313,8 milhões. – Os dados são da Superintendência
Nacional de Seguros Privados (Susep). O mercado para este tipo de
proteção – que é voltado para as empresas -, entretanto, ainda tem
muito potencial a ser explorado, segundo especialistas ouvidos pelo
DCI.
Além
de garantir ao credor o pagamento dos recebíveis em caso de calote
de uma dívida comercial, o seguro de crédito também serve como
gerenciador de riscos nas vendas a prazo das empresas, oferecendo
serviços que ajudam a companhia na escolha dos clientes.
Cultura
Para
a presidente da Compagnie Française d’Assurance pour le Commerce
Extérieur (Coface) no Brasil, Marcele Lemos, o seguro de crédito é
pouco utilizado no Brasil, pois o País não tem uma cultura de
seguro. “O brasileiro vê a proteção como um custo”,
resume.
Ela
defende que os recebíveis são um ativo importante para o caixa das
companhias, e deveriam ser considerados no momento em que o
empresário está resguardando o patrimônio da firma.
“Eu
questiono aos empresários se eles têm seguro para a planta da
fábrica, a frota, o maquinário e a resposta é sim para todos os
itens. Quando questiono sobre os recebíveis, contudo, a resposta é
negativa”, contou. “Nós temos que chamar atenção do empresariado
que, nessa parte, eles estão vulneráveis”, completou.
O
presidente da Comissão de Crédito e Garantia da Federação Nacional
de Seguros Gerais (FenSeg), Rogério Vergara, afirmou que a
resistência dos empresários ao seguro de crédito remonta à época da
hiperinflação.
“O
seguro de crédito só sobrevive em mercado com inflação controlada.
Naquela época, o valor de indenização estava corroído pela inflação
e os empresários ficaram com uma impressão ruim deste tipo de
seguro”, disse.
Desinformação
Os
especialistas ressaltam que outro ponto que contribui para a
resistência ao seguro é a falta de informação sobre o produto.
Segundo Vergara, enquanto na antecipação de recebíveis feita pelos
bancos a empresa recebe 75% do total do crédito, o seguro, em caso
de calote, paga uma indenização que representa, em média, 90% do
valor da dívida.
“As
pessoas ainda não têm noção das vantagens do seguro”, comentou
Vergara.
Lemos
disse que a Conface possui marketing share de 50% no segmento de
seguros de crédito. De acordo com ela, isso representa cerca de 280
firmas. “O número ainda é muito pequeno e 60% dessas empresas são
multinacionais, ou seja, são grupos que já possuem uma expertise do
mercado e levam isso para as filiais do mundo inteiro”,
observou.
Conscientização
O
presidente da Brasilfactors, João Costa Pereira, defende que é
preciso haver uma profissionalização principalmente da pequena
empresa, que, muitas vezes, é familiar.
“As
pessoas têm que perceber que, mesmo se for sólida, uma empresa pode
quebrar. É igual seguro de vida: você faz esperando não usar, mas
pode acontecer”, disse.
Outro
ponto salientado por Vergara para a disseminação do seguro é o
treinamento das seguradoras na relação com os corretores. “É
preciso haver mais divulgação desse produto às corretoras”,
observou.
Na
avaliação de Lemos, a conjuntura econômica atual é positiva para o
produto. “Aumentou muito a sinistralidade do seguro doméstico –
proteção para transações entre empresas do País”,
observou.