Inscritos no programa Mais Médicos do governo federal, os 400
médicos cubanos serão distribuídos em sua maioria (364) em 209
municípios do Norte e do Nordeste e em 13 distritos indígenas. Do
total, 36 deles serão enviados para trabalhar em 30 cidades das
regiões Sudeste e seis na região Sul.
O governo brasileiro espera ainda a chegada de mais 3.600
profissionais cubanos, segundo acordo selado via Opas (Organização
Pan-Americana da Saúde, braço da Organização Mundial da Saúde para
as Américas).
Na segunda etapa do programa, foram inscritos 3.016 profissionais,
dos quais 1.414 com diplomas em instituições brasileiras e 1.602
com diplomas no exterior. Deste total, no entanto, apenas 951
médicos confirmaram a inscrição, sendo 541 com diploma brasileiro e
410 com formação no exterior.
As informações foram divulgadas na manhã desta terça-feira
(3) pelo Ministério da Saúde, em Brasília.
A região Nordeste receberá ao todo 201 médicos, destes a maioria
(45) trabalhará no Estado da Bahia, seguido de Pernambuco (34),
Maranhão (29), Ceará (28), Alagoas (20), Piauí (19), Sergipe (10),
Paraíba (9) e Rio Grande do Norte (7).
No Norte, a maioria vai trabalhar no Pará (56), seguida do Amazonas
(42), Tocantins (15), seis no Amapá, e um em Roraima, em um total
de 123 médicos.
Em menor número, apenas 30 médicos cubanos virão à região Sudeste
(27 em Minas Gerais e três para o Estado de São Paulo) e seis para
a região Sul.
Quanto às cidades contempladas pelo programa, o ministro da Saúde,
Alexandre Padilha, destacou Melgaço (PA), a com pior IDH (Índice de
Desenvolvimento Humano) do país, que receberá dois médicos cubanos.
A cidade estava entre as 701 localidades que não foram escolhidas
por nenhum médico inscrito na primeira fase do programa.
"Melgaço, com o pior IDHM, passa a ter médicos na saúde básica a
partir deste programa Mais médicos. A extrema pobreza foi critério
para levar os médicos para lá", afirmou o ministro.
Boicote é "perversidade"
A respeito da ausência de médicos já constatada ontem em várias
cidades do país, o ministro foi incisivo ao dizer que será vetada
qualquer tentativa de não cumprimento de carga horária dos
profissionais do programa.
"Não será aceito, de forma alguma qualquer tentativa de
profissional ou de secretaria municipal do não cumprimento das 40
horas [semanais] pelo profissional de saúde", afirmou.
De acordo com o ministério, quem não estiver trabalhando
até o dia 12, sem justificativa, será excluído do programa. Os
médicos terão de apresentar seus documentos pessoais, além do
diploma, registro profissional e termo de adesão antes de começar a
trabalhar.
Padilha disse não acreditar que a ausência dos médicos brasileiros
seja uma espécie de "boicote" ao programa do governo federal
em resposta à permissão da inclusão de estrangeiros no Mais
Médicos.
"Se isso aconteceu, é de uma perversidade quase inimaginável",
resumiu em conversa com jornalistas. "[A ausência dos
médicos] Só revela um drama que os municípios têm [em seleções
públicas] de aguardar, às vezes, alguns dias, até a confirmação do
profissional médico", declarou.
Reprovações e desistências
O ministro afirmou, no entanto, que os médicos estrangeiros e com o
diploma no exterior ainda estão passando por seleção e, se não
forem aprovados no final das três semanas de avaliação, serão
excluídos do programa.
"Eles [os médicos cubanos] passam pelo mesmo processo de
avaliação nestas três semanas. Eles só irão para os municípios caso
passem. Os 282 médicos com diploma no exterior e os 400 cubanos,
nós sabemos para onde eles vão. Todos estão passando pelo mesmo
critério [que os médicos brasileiros]. Se não passarem, não vão
para os municípios. Mas precisamos preparar os municípios para
recebê-los", explicou Padilha.
Padilha disse ainda que somente serão informados os casos de
reprovação no fim das três semanas de avaliação, que será feita por
universidades públicas. Mas, segundo ele, as secretarias municipais
de saúde têm até essa quinta-feira (4) para avisar ao ministério
sobre desistências de médicos. Dados os casos, o ministério abrirá
novas vagas.
Com relação ao caso do médico inscrito no programa, que possui
denúncias de mutilar mulheres em cirurgias, o ministro afirmou que
já acionou o CFM (Conselho Federal de Medicina) e aguarda um
retorno.
"Sobre o médico acusado de mutilar mulheres no Amazonas, nós
recebemos a informação ontem (2). Ele entrou no programa porque o
CRM (Conselho Regional de Medicina) está ativo no Estado de
Rondônia. Por isso, ele pode se inscrever", justificou o
ministro.
Balanço
A primeira etapa do programa teve a participação de 1.778
profissionais, dos quais 1.096 com diplomas brasileiros, 282
(brasileiros com diploma no exterior e estrangeiros) e 400 cubanos
que vieram via cooperação com um órgão ligado à OMS (Organização
Mundial de Saúde) para as Américas.
Segundo o ministério, os médicos brasileiros trabalharão em 454
municípios e em 16 distritos de saúde indígena. Cada um deles
receberá uma bolsa mensal de R$ 10 mil, custeada pela pasta e
iniciaram seus trabalhos até o dia 12 de setembro nos locais onde
escolheram, pelo período de três anos. Eles atuarão em unidades
básicas de saúde em cidades do interior e nas periferias de grandes
cidades. Os estrangeiros também receberam o mesmo valor mensal e
terão gastos com alimentação e moradia custeados pelas
prefeituras.
As vagas remanescentes do programa foram oferecidas aos brasileiros
graduados no exterior e, em seguida aos estrangeiros, que atuarão
com autorização profissional provisória. No caso dos cubanos,
eles serão indicados a trabalhar nos locais que não tinham sido
escolhidos pelos brasileiros nem estrangeiros cadastrados.
Concluída a etapa de treinamento, os brasileiros já iniciaram suas
atividades ontem (2). Os estrangeiros e brasileiros com diploma no
exterior, se selecionados, deverão começar a trabalhar no dia 16.
Ao todo, 3.511 cidades aderiram ao programa apontando 15.450
vagas.