Descobrir os mecanismos biológicos usados por bactérias para
infectar as células humanas e driblar o ataque do sistema
imunológico e, com base nesse conhecimento, estudar proteínas-alvo
para o desenvolvimento de novos antibióticos.
Estes são os objetivos de um projeto de pesquisa coordenado pela
brasileira Andrea Dessen de Souza e Silva, atualmente no Instituto
de Biologia Estrutural (IBS) de Grenoble, na França.
Mas a pesquisa vem sendo desenvolvida há cerca de um ano no Brasil,
no Laboratório Nacional de Biociência (LNBio), em Campinas (SP). Na
verdade, acordos com instituições de outros países estão
transformando o LNBio em um laboratório internacional, um pólo de
atração de pesquisadores de todo o mundo.
Bactérias que explodem
Neste projeto específico, denominado Bacwall, a meta é estudar
os mecanismos de virulência que dependem da parece celular
bacteriana para funcionar.
Os pesquisadores têm-se concentrado no estudo de uma classe de
proteínas bacterianas conhecidas como PBPs (proteínas ligadoras de
penicilina), essenciais para a formação da parede celular
bacteriana.
"Ao inibir a síntese dessas proteínas, a bactéria literalmente
explode, pois a parede celular se torna frágil e incapaz de
suportar a pressão interna da célula. Esse é o mecanismo de ação da
penicilina e de seus análogos sintéticos. Mas, graças a mutações,
muitas bactérias já se tornaram resistentes", disse a
pesquisadora.
Segundo Andrea, há um grupo de doenças infecciosas -
especialmente as causadas pela bactéria Staphylococcus aureus - que
ainda mata mais do que a AIDS e a tuberculose juntas.
"Temos uma população que está envelhecendo e um número cada vez
maior de transplantados e de pacientes em tratamento contra o
câncer. Estamos ficando mais sensíveis aos micróbios. Por isso,
esse tema de pesquisa nos interessa", disse.
Biblioteca de bactérias e fungos
Outros alvos pesquisados são as proteínas macroglobulina e as
internalinas.
"[A macroglobulina] existe no sistema imunológico humano e, em
2004, descobriu-se que havia um homólogo nas bactérias. Em nossa
pesquisa, mostramos que a estrutura da macroglobulina bacteriana é
similar à humana, o que nos leva a crer que a proteína tem como
função proteger a bactéria do sistema imune", disse Neves.
Já as proteínas chamadas internalinas são expressadas por
bactérias da espécie Listeria monocytogenes, causadoras de
infecções alimentares.
Estima-se que as internalinas também façam parte da estratégia
bacteriana para fugir do ataque do sistema imunológico.
"Estará disponível ainda, a partir de janeiro de 2014, aqui no
LNBio, uma biblioteca de compostos da biodiversidade brasileira com
cerca de 10 mil cepas de bactérias e fungos. Se os testes com
moléculas compradas forem bem-sucedidos, pretendemos avaliar também
as moléculas da biodiversidade brasileira, em colaboração com
pesquisadores do Laboratório de Bioensaios do LNBio", contou
Andrea.