Levantamento realizado por nutricionistas do programa Meu Prato
Saudável, coordenado pelo Instituto do Coração (InCor) e pelo
Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da USP, aponta que
66,3% dos 15 mil paulistanos entrevistados estão acima do peso:
28,9% estão obesos e 37,4% com sobrepeso.
Os dados foram coletados em mutirões da saúde promovidos em
outubro do ano passado em estações do Metrô, no Parque Ibirapuera e
no chamado Quadrilátero da Saúde, onde fica o complexo do HC. A
amostra inclui a análise da altura e do peso dessas 15 mil pessoas
para cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC). Todos os
participantes moram na cidade de São Paulo. O sobrepeso é
estabelecido quando o IMC fica entre 25 e 29,9. Quando o IMC passa
de 30, a pessoa é considerada obesa.
Do total de pessoas avaliadas pelo programa, 19% tinham
obesidade grau 1 (forma mais leve); 7,2%, obesidade grau 2; e 2,7%
a grau 3 (obesidade mórbida). Os resultados chamam a atenção porque
dados do Vigitel 2011 (pesquisa telefônica feita pelo Ministério da
Saúde) apontavam que 15,8% dos brasileiros estão obesos e 48,5% com
sobrepeso.
“O Vigitel é um inquérito populacional feito por telefone. A
pessoa diz quanto mede e quanto pesa. E, quando a pessoa está acima
do peso, a tendência é ela dizer que é um pouco mais alta e um
pouco mais magra. Nessa pesquisa, todos os participantes foram
pesados e medidos, resultando em uma amostra fiel”, diz a
nutricionista Lara Natacci, coordenadora do programa Meu Prato
Saudável.
Os resultados surpreenderam o endocrinologista Márcio Mancini,
responsável pelo grupo de obesidade do HC. “Esses dados mostram que
a realidade sobre obesidade no Brasil está muito pior do que
imaginamos”, diz. Para ele, a pesquisa reflete os maus hábitos
da população. “As pessoas se alimentam mal, não fazem atividade
física. Além disso, estamos em um centro urbano, e o ambiente
também contribui para o aumento da obesidade”, avalia
Mancini.
Para o nutrólogo Durval Ribas Filho, presidente da Associação
Brasileira de Nutrologia (Abran), a retirada do mercado de algumas
drogas para emagrecer, além da restrição do uso dos remédios que
restaram podem ser fatores a mais para explicar tantos casos de
obesidade na cidade de São Paulo.
“Acho que esse é um dado que não pode ser desconsiderado. Muitas
pessoas com sobrepeso e tendência a engordar ficaram sem opção de
tratamento. E o uso ou não de medicamento não faz parte do
questionário da pesquisa”, avalia Ribas Filho.
Segundo o nutrólogo, provavelmente essas pessoas estão com níveis
de hipertensão, colesterol, triglicérides e glicemia alterados. “O
porcentual de obesos no Brasil cresce, em média, 2,4 pontos
porcentuais por ano. É muito rápido”, diz.
Além da medição de peso e altura dos participantes, durante a
pesquisa os nutricionistas distribuíram cartilhas com orientações
sobre alimentação saudável e realizaram dinâmicas de montagem de
prato com réplicas dos alimentos. De acordo com a coordenadora, as
pessoas “escolhiam” os alimentos que normalmente comem e montavam o
prato. Com base nisso, as nutricionistas explicavam quais eram os
“erros” e ensinavam a montar um prato saudável. “Criamos
estratégias para fixar esse aprendizado, explicamos a importância
da mastigação e de evitar o jejum prolongado. A ideia é estagnar o
avanço da obesidade”, diz Lara.