Pesquisa do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) mostra que
oito entre nove maiores operadoras de planos de saúde com atuação
em São Paulo não cumprem prazos máximos para marcação de consultas
estabelecidos pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).
Feito entre outubro e novembro, o trabalho avaliou a atuação da
central de agendamento de operadoras. “O serviço é geralmente falho
e, em alguns casos, inexistente”, afirmou a advogada do Idec, Joana
Cruz.
Resolução da ANS de dezembro de 2011 fixou prazo máximo para a
marcação de consultas, exames e cirurgias. Para consultas básicas,
como pediatria, ginecologia e obstetrícia, o prazo máximo é de sete
dias, descontado o dia em que a marcação foi feita; para
nutricionista, dez dias; e para outras especialidades, como
endocrinologia, 14 dias.
Desde que a norma entrou em vigor, a agência faz avaliações
periódicas do cumprimento dos prazos. Empresas campeãs em atraso
são punidas com a suspensão de vendas de novos planos e multas
podem ser aplicadas. Em outubro, 38 operadoras foram proibidas de
oferecer 301 planos.
Para Joana, o resultado mostra que as punições, embora
importantes, não foram suficientes para garantir o total
cumprimento dos prazos. “A simples permanência do plano no mercado
não é garantia da marcação de consultas e procedimentos no tempo
determinado pela agência.”
Dificuldades
Para avaliar, o Idec adquiriu planos individuais com cobertura
ambulatorial e hospitalar mais baratos das operadoras Ameplan, Bio
Vida, Dix (do grupo Amil), Ecole (do grupo AMR), Golden Cross,
Santamália, São Cristóvão, Trasmontano e Universal. Usuários
ligaram para a central de atendimento e questionaram a data mais
próxima para consultas com clínico-geral, ginecologista,
nutricionista e endocrinologista.
De acordo com Joana, o usuário que encontrar dificuldade para
marcar consultas, exames ou procedimentos no prazo estipulado pode
recorrer a uma central de atendimento. O serviço, completa, ficaria
encarregado de identificar um profissional para atender o usuário
no tempo considerado adequado. “É essa a recomendação encontrada no
próprio site da ANS. Cabe à operadora fazer a interface entre o
usuário e o prestador de serviço.”
Além de ligar para a central, os pesquisadores tentaram agendar
consultas por conta própria. “No agendamento feito de forma
aleatória, diretamente com prestadores de serviço, a
disponibilidade foi adequada”, avaliou Joana. “O problema ficou no
quesito central de atendimento - algo que precisa ser corrigido o
mais rapidamente possível.”
Dois dos planos adquiridos e avaliados pelo Idec - o da
Trasmontano e da Universal - tiveram sua venda suspensa pela ANS em
outubro, pelo alto número de reclamações. “Vê-se que, apesar da
suspensão, os problemas permaneceram”, diz.
Operadoras
A maior parte das operadoras avaliadas contestou os resultados da
pesquisa do Idec. A Golden Cross, em nota, informou cumprir os
prazos e possuir uma central de atendimento 24 horas para indicar
médicos em caso de dificuldade de marcação. Para o Idec, porém, a
medida não atende o objetivo, porque “a central indica
profissionais, mas não marca a consulta”, diz a advogada Joana
Cruz, do Idec.
A Trasmontano também garantiu respeitar os prazos. Por meio de
nota, afirmou que consultas com nutricionista e endocrinologista
foram agendadas na rede credenciada da operadora.
A Amil disse respeitar os prazos e argumentou que, embora a
marcação de consultas pela central não conste na Lei dos Planos de
Saúde nem nas determinações da ANS, fornece a facilidade.
A São Cristóvão contestou os resultados, dizendo que os usuários
não têm dificuldade para marcar consulta diretamente com
prestadores. Para a empresa, o fato de o prazo exceder o
determinado pela ANS - a consulta com o endócrino ficou para março
- não pode ser considerado. Se o paciente procurasse marcar por
conta própria a consulta, ele certamente conseguiria, diz.