Reguladora também tornou nulo
contrato de negociação de quotas da operadora a novos
controladores
Em reunião reservada, realizada
nesta sexta-feira, a Diretoria Colegiada da Agência Nacional de
Saúde Suplementar (ANS) decidiu anular definitivamente a
autorização de a transferência de carteira de cerca de 340
mil contratos individuais e familiares da Amil para a APS –
Assistência Personalizada à Saúde, operadoras do UnitedHealth
Group, conforme
antecipou O GLOBO.
Em 4 de abril, a ANS
havia determinado em medida cautelar que a operadora Amil
reassumisse e se mantivesse como responsável pela carteira
que havia sido transferidos para a APS. A decisão desta
sexta-feira, no entanto, é definitiva.
A reguladora também declarou nulo o
contrato de compra e venda de quotas (“share purchase agreement”)
celebrado entre a Amil e o grupo formado por Fiord Capital A,
Seferin & Coelho e Henning Von Koss.
A ANS explica que, a partir da
anulação da autorização de transferência, montará um rigoroso
cronograma, com todas as formalidades e etapas seguidas nos
processos de transferência de carteira, de modo que ocorra de
maneira transparente e ordenada o retorno dos contratos da APS para
a Amil.
Ou seja, no fim desse processo os
340 mil beneficiários voltarão a ser clientes Amil.
Em cinco dias úteis, a partir da
ciência da decisão, explica a agência, Amil e APS devem realizar a
anulação do “contrato de cessão parcial de carteira e outras
avenças” que foi registrado no dia 27 de dezembro de 2021.
A reintegração da carteira
transferida à Amil deve ser comunicada em até 20 dias úteis a cada
um dos consumidores envolvidos na operação individualmente e também
em publicação em jornal de grande circulação.
Após análise de documentação,
a ANS chegou a conclusão de que a a APS “não seria capaz de
administrar de maneira autônoma a carteira adquirida colocando em
risco a continuidade e qualidade da assistência à saúde dos
consumidores vinculados”.
A agência diz que continuará
acompanhando de perto o cumprimento da decisão. E orienta que em
caso de reclamações ou dúvida os beneficiários que tiveram seus
contratos transferidos entrem em contato pelo 0800 701 9656 ou com
a Central
de Atendimento ao Consumidor da reguladora.
Em nota, a Amil diz que “apesar de
divergir dos argumentos técnicos que fundamentaram a decisão da
ANS, acatará a decisão da agência”. Segundo a Amil, a
prioridade “segue sendo garantir que seus beneficiários tenham
pleno acesso aos cuidados de saúde que necessitam”.
Procurado o grupo de investidores
ainda não se manifestou sobre a decisão da agência.
Para especialistas, decisão
acertada
O Instituto Brasileiro de Defesa do
Consumidor (Idec), que havia enviado um pedido para que a ANS
mantivesse a decisão cautelar, celebrou a anulação definitiva da
transferência pela agência reguladora;
– Entendemos que a medida é
acertada e vem para dar segurança a mais de 300 mil consumidores,
sinalizando ao mercado que situações como essa não podem voltar a
acontecer – diz Ana Carolina Navarrete, coordenadora do programa de
Saúde do Idec.
Na avaliação de Rafael Robba,
advogado especialista em direito à saúde do escritório Vilhena
Silva Advogados, a decisão desta sexta-feira corrige um erro
da própria ANS ao autorizar a transferência para uma empresa que
sabidamente não tinha condições de assumir essa carteira de
beneficiários:
– Espero que esse caso sirva de
lição para que antes de autorizar uma transferência de carteira, a
ANS faça uma avaliação mais aprofundada e concreta sobre as reais
condições que o plano de saúde de destino terá para receber e
manter esses consumidores de forma sustentável, sem que eles tenham
que passar por todo o desgaste e transtorno gerados por uma decisão
equivocada – destaca o advogado.
Entenda o caso
Em dezembro do ano passado,
a agência havia autorizado a transferência dos planos
individuais e familiares da carteira da Amil em Rio de
Janeiro, São Paulo e Paraná para a APS, que pertence também o
UnitedHealth Group, dono da Amil.
Em fevereiro, um grupo formado por
Fiord Capital, Seferin & Coelho e Henning Von Koss fechou um acordo
com a Amil para assumir o controle da APS.
Como a solicitação formal para a
transferência de controle da APS aos novos sócios não havia sido
enviada ao regulador, a agência suspendeu, em 8 de fevereiro, a
operação.
Segundo o presidente da agência,
Paulo Roberto Rebello Filho, apenas no dia 14 de março foram
entregues as documentações pendentes pelo grupo que pretende
assumir o controle da APS.
Os novos
controladores da APS planejam dobrar a carteira da
operadora hoje de 330 mil beneficiários num período de dois anos,
perseguindo a meta de transformar a empresa em líder nesse segmento
no país. A transação teria aporte de R$ 2,4 bilhões da Amil,
incluindo ainda a transferência de quatro hospitais.
Usuários dos planos individuais
transferidos da APS para Amil têm se queixado de redução da rede
credenciada, dificuldade na comunicação com a operadora, o que
levou à ANS a pedir a Amil um plano de ação e manter um
monitoramento permanente sobre as demandas dos usuários dessa
carteira.