“Uma portaria do Ministério
da Saúde nos obriga a fazer isso [as cirurgias], mas isso não
significa que vamos aceitar pacificamente", diz o presidente da
Abramge, Arlindo de Almeida
Os planos de saúde poderão cobrar do governo
brasileiro os custos das cirurgias feitas para a troca das próteses
de silicone das marcas Poly Implants Prothese (PIP) e Rofil.
Durante audiência pública nesta terça-feira (14) no Senado, o
presidente da Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge),
Arlindo de Almeida, disse que um parecer jurídico da associação
prevê que as operadoras poderão ingressar com ações na Justiça para
reaver os valores gastos nos procedimentos.
“Uma portaria do Ministério da Saúde nos obriga a fazer isso
[as cirurgias], mas isso não significa que vamos aceitar
pacificamente. O mais importante em primeiro lugar é o paciente.
Não vamos contestar nada. O paciente vai ser tratado, porque ele é
o que tem menos responsabilidade. Depois, podemos reverter essa
ação para a Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária], por
exemplo, responsabilizando-a por esse custo. Se o custo for muito
elevado, podemos fazer isso”, disse Almeida.
Na semana passada, o Ministério da Saúde publicou portaria com
as diretrizes para a troca, pela rede pública de saúde e pelos
planos de saúde, de próteses mamárias das marcas PIP e Rofil.
Segundo o documento, a retirada e a troca das próteses, seja de uma
ou das duas mamas, serão feitas em uma única cirurgia.
A remoção e a substituição ocorrerão somente quando for
comprovada a ruptura do implante por meio de ultrassonografia,
ressonância magnética ou indicação médica. Pacientes com histórico
de câncer de mama terão os implantes retirados e trocados,
independentemente do exame de imagem.
O diretor-presidente da Anvisa, Dirceu Barbano, que também
participou do debate, argumentou que estão sendo feitos testes nos
implantes para identificar se houve realmente fraude das
fabricantes. Caso isso seja comprovado, acrescentou, o Estado
poderá responsabilizar os importadores. De acordo com Barbano,
foram importadas 34,6 mil próteses das duas marcas, sendo que 24,6
mil foram usadas e mais 10 mil foram recolhidas e passam por
testes.
“Se ficar comprovada a fraude da empresa, a União pode
acionar e pedir o ressarcimento para esse ente privado, que são os
importadores. Certamente, as empresas serão penalizadas pelas
infrações que cometeram”, disse Barbano.
“Essa é uma questão que mobilizou muitos setores da
sociedade e impôs responsabilidade a todo mundo. Claro que o
primeiro passo é cuidar das pessoas. A partir daí, temos o grande
responsável por essa ação que foi o importador, que trouxe um
produto fraudado ao país e a cadeia de responsabilidades será
discutida na Justiça. Do ponto de vista da Anvisa, entendemos que
qualquer ação que se proponha na Justiça o nosso dever e
respondê-la”, acrescentou.
Estima-se que cerca de 20 mil
brasileiras tenham implantes PIP e Rofil. As empresas usaram
silicone não autorizado para uso médico na fabricação das próteses,
elevando o risco de vazamento do gel. Com o rompimento, o silicone
pode ficar envolto em uma cápsula fibrosa (intracapsular) ou
extravasar a cápsula e chegar ao sistema linfático (extracapsular).
Os sintomas da ruptura são inflamação e deformidade da mama, além
de nódulos nas axilas e dor.