Em 2018, os escorpiões
picaram perto de 30 mil pessoas e causaram a morte de 13, no Estado
de São Paulo. No mesmo ano, a dengue, a chikungunya e a febre
amarela se espalharam pelo território paulista, atingindo milhares
de pessoas. E a sífilis, doença praticamente erradicada e fora dos
radares das autoridades, decidiu voltar e ganhar dimensões de
epidemia.
São notícias ruins
para os gestores de saúde pública no Estado, da mesma forma que são
notícias ruins para as operadoras de planos de saúde privados, em
todo o território nacional, porque os números paulistas se repetem,
grosso modo, nas demais unidades da Federação.
Os planos de saúde
privados, em todas as pesquisas, estão entre os cinco sonhos de
consumo do brasileiro. A alternativa é o atendimento oferecido pelo
SUS. Filas intermináveis, retornos jogados lá para frente, falta de
medicamentos, equipamentos quebrados, etc.
Hoje, o Brasil tem
pouco menos de 50 milhões de pessoas cobertas pelos planos de saúde
privados. É um quarto da população, mas a elas são destinados mais
de 60% de todos os recursos investidos em saúde. Os demais três
quartos devem repartir os pouco mais de 30% destinados ao setor
pelo Governo. É isso que explica porque os planos de saúde são tão
importantes para os brasileiros.
Mas os planos de saúde
privados vivem, faz tempo, na corda bamba. As crises e a
deterioração dos serviços oferecidos pelo SUS levaram à
judicialização dos serviços oferecidos pelos planos de saúde
privados e, atualmente, eles se tornaram, na prática, planos com
coberturas bem mais amplas do que as previstas nos contratos,
comparáveis ao SUS, ainda que a Constituição os defina como planos
suplementares do serviço público e não como prestadores com
responsabilidade ilimitada.
Neste cenário, o maior
problema dos planos de saúde privados é definir o que e como deve
ser atendido por eles. Da forma como estão desenhados eles não são
planos universais, têm limitações de cobertura e de atendimento.
Todavia, no mundo real, elas não são respeitadas, até porque parte
das exclusões foi julgada impertinente pelos tribunais
brasileiros.
Não há nada que impeça
os planos de saúde privados de oferecerem atendimento amplo, geral
e irrestrito. Em vários países isso não só é possível, como os
planos privados atuam lado a lado com o sistema público de saúde,
cabendo ao cidadão escolher entre eles. Só que, para fazer isso, os
planos privados precisam ser remunerados adequadamente, a fim de
evitar que o descompasso entre despesas e receitas comprometa a
capacidade futura de atendimento da operadora.
No Brasil, esta regra
nem sempre funciona e o resultado é que algumas modalidades de
planos desapareceram das prateleiras porque não é possível, dentro
das regras atuais, alcançarem o equilíbrio econômico necessário
para sua viabilidade.
O ideal seria uma
profunda revisão da Lei dos Planos de Saúde Privados, com o expurgo
das travas que limitam a criatividade, a expansão e a melhor
prestação de serviços pelas empresas do setor.
Como isso não está nos
planos do Congresso Nacional, pelo menos no futuro previsível, as
operadoras se defrontam com desafios importantes para continuarem
operando dentro do equilíbrio financeiro indispensável para sua
sobrevivência.
Ainda que a revisão
não aconteça, existem medidas que podem ser implementadas, com
resultados interessantes para todos os envolvidos. As principais
passam pela necessidade de conter o aumento dos custos dos planos
privados.
Várias ações já estão
em andamento, como melhorar os controles de fraudes e pagamentos
indevidos, criar produtos com coparticipação do segurado, rever as
políticas de remuneração, etc.
Além disso, é
fundamental deixar a demagogia de lado e assumir que não há relação
entre a inflação da moeda e a inflação da saúde. Também, em nome da
redução do preço, é preciso colocar limites nas responsabilidades
dos planos. Um caminho seria franquear o resseguro para todas as
operadoras.
ANTONIO PENTEADO
MENDONÇA É SÓCIO DE PENTEADO MENDONÇA E CHAR ADVOCACIA E
SECRETÁRIO-GERAL DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS