Ganhou repercussão nas redes sociais a imagem de um receituário
médico preenchido por um profissional argentino, pertencente ao
programa Mais Médicos, do governo, no qual uma dosagem de um
antibiótico indicada ao paciente é três vezes superior à usual. O
médico Juan Pablo Cazajus está registrado no Conselho Regional de
Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers) com o número 38.128 e tem
atendido numa Unidade Básica de Saúde (UBS) de Nova Tramandaí, em
Tramandaí, no litoral norte do Estado.
Cazajus médico receitou na semana passada a um paciente idoso,
fumante, com infecção pulmonar, o antibiótico azitromicina de oito
em oito horas. A dosagem seria prejudicial. "Dentro da nossa
Farmacologia, esse antibiótico é receitado 500 miligramas por dia,
no máximo por cinco dias. Ou seja, um comprimido por dia. Há uma
superdosagem", afirma o presidente do Cremers, Fernando Matos. Ele,
que é cirurgião gastrointestinal, completa: "Nesse caso, é um
medicamento controlado e tem de ser dado com cuidado,
principalmente para crianças e idosos. Uma superdosagem poderá
acarretar danos, tanto no fígado, como nos pulmões e no sistema
gastrointestinal."
O conselho abrirá uma sindicância para apurar o caso. "Queremos
saber do médico a razão para essa dosagem, que aparentemente não
tem o porquê de se fazer. Assim como ouvimos médicos brasileiros
nesses casos, também temos de ouvir esse médico estrangeiro, pois a
lei é única", afirma. O secretário de Saúde de Tramandaí, Mário
Morita, não atendeu aos telefonemas da reportagem. Já o Ministério
da Saúde afirmou por nota que "um médico supervisor vinculado ao
programa foi encaminhado ao local para acompanhar e avaliar a
atuação do profissional".
De acordo com o Cremers, dados em branco no registro do médico
argentino deixados pelo ministério dificultam a apuração da suposta
irregularidade. "Até agora, o ministério não informou o endereço do
médico na cidade, nem o do seu preceptor e do seu tutor, que seriam
os médicos responsáveis por acompanhar o trabalho desse médico.
Esses dados facilitariam muito para averiguarmos a situação." Esses
dados não constam em nenhum dos 45 registros de médicos do programa
no Estado, diz Matos. Cazajus, assim como o paciente que teve o
antibiótico receitado, não foram encontrados pela reportagem.