Investir em ergonomia, programas de conscientização em saúde e
prevenção de acidentes pode parecer desnecessário, se comparado com
outros tantos gastos urgentes que fazem parte do orçamento das
organizações. Mas só parece. Segundo a Associação Internacional de
Seguridade Social (AISS), a cada real investido em prevenção de
acidentes de trabalho, as empresas podem lucrar até R$ 2,20.
O alerta da organização, presente na pesquisa “Os lucros da
prevenção: cálculo dos custos e benefícios dos investimentos na
segurança e saúde no ambiente de trabalho”, só corrobora a máxima
popular de que é melhor prevenir que remediar – inclusive nas
empresas. O estudo, que ouviu 300 companhias de 15 países,
constatou que metade delas que investiu mais em segurança e saúde
no ambiente corporativo obteve a diminuição de seus custos.
Para o proprietário de empresas na área de segurança e medicina do
trabalho e coordenador da Escola Técnica Faculdade Futuro de
Curitiba, Vanderlei do Rocio Borges, a cultura de atuar nas
consequências e não nas causas ainda é predominante entre as
corporações brasileiras. “O conceito de segurança só aumenta após o
empresário ter as planilhas mostrando os benefícios que a sua
empresa obtém quando não há afastamento e acidentes”, afirma.
Segundo o anuário dos Ministérios da Previdência Social e do
Trabalho e Empresa, são 700 mil acidentes de trabalho por ano no
Brasil. Hoje, boa parte da legislação que regula normas sobre
segurança no ambiente corporativo está inclusa dentro da CLT, com o
título Normas Regulamentadoras.
Uma das empresas que auxilia as corporações a identificar problemas
nesta área é a Mednet, que atende cerca de 4500 clientes em todo o
País. O diretor da companhia, Paulo Barbudo, lembra que nos últimos
anos muitas empresas adotaram práticas para melhorar os indicadores
dessa área. O problema é que um número significativo delas atende
às regras de forma parcial e, no caso das pequenas empresas, ainda
falta conhecimento para entender até quais leis regulam o tema.
Barbudo, que também é médico, lembra que investir na saúde
ocupacional não se traduz apenas em evitar que um funcionário sofra
um acidente, como se prega no senso comum. “Para cada empresa
existe um programa específico e riscos diferentes, mas na média
assume-se que para cada R$ 1 investido haverá uma economia de R$ 5
em ações trabalhistas, multas, absenteísmo e queda de produtividade
no trabalho”, projeta.
Acidentes
Segundo o Ministério da Saúde, os acidentes mais comuns são
aqueles que causam fraturas, luxações, amputações e outros
ferimentos. O alerta, nesses casos, é que a prevenção simples e o
investimento em tecnologia poderiam reduzir ou até anular esses
casos.
Depois, estão os casos de Lesões por Esforço Repetitivo (LER) e
também os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho
(Dort), que incluem dores nas costas. Esses problemas são
solucionados com mobiliário adequado e oferta de instrumentos
corretos para atividade.
Em terceiro, estão os mais complexos, como transtornos mentais e
comportamentais, como episódios depressivos, estresse e
ansiedade.
O que fazer
Apesar de se tratar de um problema que provoca milhões de reais
em prejuízo às empresas todo ano, algumas medidas preventivas não
consomem grande tempo ou volume de recursos, e requerem apenas
organização, como lembra o diretor do grupo Mednet. “O empresário
pode fazer pequenos investimentos para minimizar os riscos. Um
deles é a elaboração de dois programas básicos: o Programa de
Prevenção de Riscos Ambientais que irá ‘mapear’ os riscos
existentes no ambiente de trabalho e estabelecer uma prioridade nas
ações. O outro é o Programa de Controle Médico de Saúde
Ocupacional, no qual o médico do trabalho estabelecerá medidas para
averiguar se os funcionários estão adoecendo em função do dia a dia
na empresa”, recomenda.
E além de ficarem atentas aos problemas de rotina – como de audição
em indústrias têxteis e LER, em atividades com digitação, por
exemplo – há uma mudança em curso neste cenário que deve ser
analisada pelas empresas, como lembra o presidente da Associação
Nacional dos Médicos do Trabalho (ANAMT), Zuher Handar. “Vivemos no
mundo uma epidemia de doenças osteomusculares relacionadas ao
trabalho e de transtornos mentais que atingem milhares de
trabalhadores no mundo inteiro. De acordo com a Organização
Internacional do Trabalho vivemos, no momento, com uma pandemia
oculta de doenças relacionadas ao trabalho”, alerta.
E é justamente por isso que a própria associação tem se preocupado
com a notificação que, muitas vezes, deixa de ser feita em diversos
casos pelo temor das empresas em desgastar a imagem. “É desta
maneira que vamos conseguir conhecer melhor o que está acontecendo
e como poderemos intervir neste processo”, diz Handar.
Ele acrescenta que é necessário que os, hoje, 20 mil médicos do
trabalho atuantes no Brasil mudem o olhar com relação à saúde do
trabalhador. “O médico do trabalho precisa ter uma visão que
enxergue o indivíduo por inteiro e entender que os riscos de
adoecimento e agravo à saúde dele não estão somente relacionados
aos agentes físicos ou químicos, mas também aos agentes das
condições do trabalho. Precisamos identificar todos os
determinantes que possam interferir na relação saúde e trabalho
para que possamos atuar no seu controle e buscar, desta forma, uma
condição de vida produtiva no aspecto social ou econômico”,
descreve.
Investimento
A empresa Vulcabras|Azaleia começou, há três anos, um programa
para diminuir os problemas ligados à saúde de seus colaboradores,
em unidade baiana. Foram R$ 20 milhões em proteções de máquinas, R$
6 milhões em equipamentos de proteção individual e coletiva e R$
500 mil em treinamento e capacitação.
“Havia instalações, máquinas e equipamentos que estavam fora das
normas de segurança. Não havia uma cultura voltada para o
cumprimento de normas e padronização de tarefas e qualificação
profissional. Diante disto, foi realizado um planejamento para
adequar 100% de todo o parque fabril. Também se investiu para criar
uma cultura de prevenção”, conta o engenheiro de segurança do
trabalho da Vulcabras|Azaleia, Emílio Frota.
Apenas nos últimos três anos, o grupo recebeu, na unidade baiana,
cerca de 500 mil horas de treinamentos de segurança. Apesar das
conquistas, a ideia é seguir o projeto e continuar sendo
referência. “Queremos nos manter entre as melhores empresas do
Brasil em relação às questões de saúde e meio ambiente e qualificar
nossos funcionários para essa visão de trabalho seguro e saudável”,
revela Frota.
PROBLEMAS MAIS COMUNS
- Fraturas, luxações, ferimentos e até amputações
Solução: criar sistemas de prevenção, investir em tecnologia e
programas para criar procedimentos padrões em sistemas de
trabalho
- Lesões por esforço repetitivo (membros superiores, com lesões
no sistematendíneo, muscular e ligamentar) e Distúrbios
Osteomusculares relacionados ao Trabalho (alterações no pescoço,
braços, punhos em decorrência de atividades corporativas).
Solução: ergonomia, mobiliário adequado e oferta de instrumentos
corretos para atividades. Ginástica laboral pode contribuir para
minimizar os efeitos
- Transtornos mentais e comportamentais, episódios depressivos,
estresse e ansiedade
Solução: levantar causas, realizar pesquisas de clima, compreender
todas as dinâmicas que impactam na atividade diária, relacionamento
no ambiente de trabalho e canais que a empresa abre em seu sistema
de comunicação