Método poderá reduzir ainda a dependência em relação aos
métodos convencionais de controle do mosquito
Uma nova estratégia de pesquisa
para o controle da dengue foi apresentada na tarde desta
segunda-feira (24), durante o Congresso Internacional de Medicina
Tropical, no Rio de Janeiro. O projeto ‘Eliminar a Dengue: Desafio
Brasil’ é parte do programa internacional ‘Eliminar a Dengue: Nosso
Desafio’, que traz uma abordagem nova e natural para o controle da
doença, e já está em fase de testes na Austrália, Vietnã, Indonésia
e agora, Brasil. O objetivo do programa é cessar a transmissão do
vírus da dengue pelo Aedes aegypti, a partir da introdução da
bactéria Wolbachia – que é natural e encontrada em insetos – nas
populações locais de mosquitos.
Os cientistas demonstraram em laboratório que, quando a bactéria
Wolbachia é introduzida no Aedes aegypti, atua como uma ‘vacina’
para o mosquito, bloqueando a multiplicação do vírus dentro do
inseto. Como consequência, a transmissão da doença é impedida.
Caso cumpra as expectativas com êxito, o programa de eliminação da
dengue - uma estratégia de longo prazo - poderá beneficiar um
número estimado de 2,5 bilhões de pessoas – ou seja, dois quintos
da população mundial que atualmente vivem em áreas de transmissão
da doença. O método poderá reduzir ainda - de forma significativa -
a dependência em relação aos métodos convencionais de controle do
mosquito, (como o uso de inseticidas). Atualmente, cerca de 100
países estão sob ameaça de contrair o vírus, segundo dados da
Organização Mundial da Saúde (OMS).
Para o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde,
Jarbas Barbosa, a pesquisa é mais uma ferramenta no combate e
controle da dengue. “A dengue é uma doença complexa e o Ministério
da Saúde está apoiando todas as ferramentas de combate à doença. A
pesquisa está no início, mas esperamos que em alguns anos o
resultado positivo possa ser comemorado”, comentou Jarbas
Barbosa.
Naturalmente presente em cerca de 70% dos insetos no mundo, a
Wolbachia é uma bactéria intracelular e não existem evidências de
qualquer risco para a saúde humana ou para o ambiente. “Nossa
expectativa é de que este método possa beneficiar milhões de
pessoas que atualmente vivem em áreas endêmicas, de forma
autossustentável e economicamente viável, sem danos ao ambiente”,
explicou Luciano Moreira, pesquisador da Fiocruz e líder do projeto
‘Eliminar a Dengue: Desafio Brasil’.
DESAFIO BRASIL - O método de controle se baseia na
soltura programada dos mosquitos com a Wolbachia, que, ao se
reproduzir na natureza com mosquitos locais, passam a bactéria de
mãe para filho, através dos ovos. Com o passar do tempo, a
expectativa é de que a maior parte da população local de mosquitos
tenha Wolbachia e seja incapaz de transmitir dengue.
No Brasil, o projeto está em sua primeira fase. Neste momento, o
projeto está focado, em ambiente de laboratório, na manutenção de
colônias dos mosquitos com Wolbachia e no cruzamento com Aedes
aegypti de populações brasileiras. A construção de uma estrutura de
gaiola de grandes proporções no campus da Fiocruz - onde os testes
intermediários serão realizados - está programada para 2013. Além
disso, estão sendo selecionadas as localidades para os testes de
soltura em campo, com previsão para 2014, o que inclui conhecer
dados entomológicos sobre as populações de mosquitos locais.
O projeto estuda uma nova alternativa para o controle da dengue, a
ser utilizada no futuro como medida complementar de controle. Neste
momento, a orientação para a população é de não descuidar da
eliminação dos criadouros preferenciais do mosquito
transmissor.
O projeto conta com financiamento da Fiocruz, Ministério da Saúde,
através da Secretaria de Vigilância em Saúde – SVS e Departamento
de Ciência e Tecnologia da Secretaria de Ciência, Tecnologia e
Insumos Estratégicos – DECIT/SCTIE, Ministério da Ciência,
Tecnologia e Inovação (CNPq) e Foundation for the National
Institutes of Health, com recursos da ‘Grand Challenges in Global
Health Initiative’ da Bill & Melinda Gates Foundation (Estados
Unidos).