A
empresa combinada passa a ter 13,6 milhões de usuários de planos de
saúde e dental e uma receita líquida de R$ 18,2 bilhõesO Valor
Econômico relata que, após um mês e 20 dias de negociações, as duas
maiores operadoras de planos de saúde do país, Hapvida e Grupo
NotreDame Intermédica (GNDI), concluíram na noite de sábado o
acordo de fusão que cria uma companhia com valor de mercado de R$
110,5 bilhões.
Trata-se da décima primeira empresa mais valiosa da B3,
considerando as cotações das duas companhias na sexta-feira. A
empresa combinada passa a ter 13,6 milhões de usuários de planos de
saúde e dental e uma receita líquida de R$ 18,2 bilhões, o que a
coloca como uma das maiores operadoras de saúde verticalizadas do
mundo.
A
NotreDame Intermédica conseguiu aprovar seus principais pleitos,
que eram aumentar o prêmio de 10% para 15% e ter uma gestão
compartilhada, com dois CEOs. Cada acionista da Intermédica vai
receber 5,249 ações de Hapvida mais R$ 6,45. Outra demanda da
Intermédica atendida foi o pagamento de R$ 4 bilhões em
dividendos.
Assim, a companhia combinada passa a ter 53,6% de ações da Hapvida
e 46,4% da GNDI. A família Pinheiro, controladora da Hapvida,
seguirá sendo a maior acionista, com posição de 37,6%. A Bain
Capital, maior acionista da Intermédica com 11,2%, reduz sua
participação para 5,2%, podendo se desfazer dessa fatia residual na
bolsa.
A
transação foi fechada relativamente rápido, mas as duas operadoras
já vinham conversando, informalmente, há cerca de um ano sobre a
possibilidade de se juntaram, uma vez que têm um perfil semelhante.
Ambas comercializam planos de saúde para a base da pirâmide, contam
com uma ampla rede verticalizada e não há praticamente
sobreposições de praças de atuação.
A
Hapvida é líder no Norte e Nordeste e a Intermédica, no Sudeste, em
especial em São Paulo.A primeira investida formal partiu da Hapvida
— incentivada por bancos — que enviou uma proposta ao conselho da
GNDI em 22 de dezembro, mas as negociações efetivas só começaram em
8 de janeiro, após a proposta ter se tornado pública. A partir daí,
a Intermédica contratou os bancos Citi e JP Morgan e o escritório
Souza, Mello e Torres Sociedade de Advogados.
O
Itaú BBA, que normalmente trabalha com a Intermédica, mudou de lado
na fusão com a Hapvida. A operadora do Ceará contratou o banco
preferido da concorrente para facilitar a interlocução entre as
companhias.O relacionamento entre GNDI e BTG, banco que assessorou
a Hapvida, não é boa, o que dificultaria o processo, contou uma
fonte.
O
que impulsionou a Hapvida a fazer uma proposta formal no fim do ano
foi a oferta subsequente de ações (follow-on) da Bain Capital,
maior acionista da Intermédica, realizada no começo de dezembro,
que reduziu a fatia da gestora de private equity para cerca de 11%.
A Bain era contra a fusão, mas com uma participação menor, a
Hapvida enxergou uma possibilidade das discussões avançarem.
No
acordo fechado neste fim de semana, não houve alteração na
distribuição do conselho de administração em relação à proposta
original. A Hapvida terá cinco assentos, ficando com o direito de
indicação do chairman. A Intermédica terá dois assentos, um deles
ocupado por Irlau Machado, atual CEO da empresa, e o conselho terá
ainda dois membros independentes. Machado será co-CEO da companhia
resultante, com Jorge Pinheiro, filho do fundador da Hapvida.
Não
há uma amarração contratual de quanto tempo a companhia seguirá com
a estrutura de co-CEOs.Outros membros da diretoria da Intermédica
também já estão confirmados na composição da nova Hapvida – como
Marcelo Moreira Marques, diretor financeiro, e Pedro Calandrino,
diretor de fusões e aquisições (M&A). A companhia também vai
adotar alguns comitês que a Intermédica tinha, e a Hapvida não.
Não
houve sequer uma reunião presencial. A fusão que forma a gigante de
saúde foi toda remota. Os encontros foram pelo Zoom — a Bain a
partir de Boston, Hapvida entre Fortaleza e São Paulo, e
Intermédica em São Paulo.Logo após a proposta de fusão ter se
tornado pública, em janeiro, as ações das companhias dispararam e
as operadoras chegaram a ganhar R$ 32,5 bilhões em valor de mercado
em apenas dois pregões.
Essa
forte valorização foi vista como uma aprovação do mercado para o
negócio. Segundo especialistas, são pequenas as chances de o
Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) reprovar o
negócio porque quase não há sobreposição nas cidades em que atuam,
sendo que a única dúvida é em relação a Joinville (SC).
Com
a união, Hapvida e Intermédica ficam isoladas em primeiro lugar no
mercado brasileiro de convênios médicos, distantes da segundo
colocada Bradesco Saúde. O novo grupo também se aproxima da maior
do setor de planos odontológicos, OdontoPrev.A companhia combinada
passa a deter uma carteira com 8,4 milhões de usuários de planos de
saúde.
A
Bradesco Saúde tem 3,3 milhões. Na sequência, vem Amil com 2,9
milhões de usuários de saúde e 2,21 milhões de clientes de planos
dentais. A SulAmérica, por sua vez, conta com 2,2 milhões de
usuários de convênio médico e 1,7 milhão no segmento odontológico.
Na área dental, Hapvida e Intermédica contam com 5,1 milhões de
usuários, ainda atrás da OdontoPrev, que tem 7,3 milhões. Os
números consideram os dados do terceiro trimestre.Mas a
concorrência se dará mesmo com as Unimeds, que dominam várias
praças e têm cerca de um terço do mercado de planos de saúde.
A
gestão das cooperativas médicas é descentralizada e em vários casos
pouco profissionalizada. Levantamento feito pelo próprio setor de
cooperativas médicas mostra que das 345 Unimeds existentes no país,
26 serão afetadas pela fusão entre Hapvida e Intermédica.As duas
companhias já falaram claramente que pretendem entrar nas cidades
dominadas pelas Unimeds, que estão analisando a possibilidade de
construir mais rede própria para oferecer planos mais em conta.
Mas
não é uma iniciativa simples, uma vez que Hapvida e Intermédica têm
juntas 84 hospitais, 280 clínicas e 257 unidades de medicina
diagnóstica no país.Esse modelo verticalizado é o que mais cresce
no mercado de planos de saúde, por permitir um controle maior dos
custos.O setor vem perdendo usuários devido à crise econômica e
aumento do desemprego, já que a maior parte dos beneficiários
utiliza planos corporativos, pagos por seus empregadores. Entre
março de 2016 e setembro do ano passado, no entanto, Hapvida e
Intermédica acrescentaram a suas carteiras 2,3 milhões de
pessoas.
Além
disso, as duas companhias vêm investindo pesadamente em aquisições.
Somente no ano passado, destinaram mais de R$ 4 bilhões na compra
de operadoras concorrentes, hospitais, clínicas e laboratórios. As
duas operadoras se capitalizaram na abertura de capital em 2018 e
com novas captações no mercado.Para os concorrentes, podem surgir
oportunidades de aquisições. Enquanto durar a análise do Cade, as
duas operadoras não devem promover novas compras.
No
último ano, os múltiplos das transações dispararam, com ativos
sendo adquiridos por até 27 vezes o lucro antes de juros, impostos,
depreciação e amortização (Ebitda). O aumento expressivo dos
múltiplos e concorrência pelos mesmos ativos, mais recentemente,
também foi uma razão para a combinação dos negócios.Os assessores
financeiros da Intermédica foram Citi e JP Morgan, com assessoria
jurídica do Souza, Mello e Torres. Na Hapvida, foram os bancos BTG
Pactual e Itaú BBA e os escritórios Madrona e Pinheiro Neto.