Mestre em economia e consultor do
Sindseg SP, Francisco Galiza, analisa consequências da pandemia no
Brasil
A pandemia do novo coronavírus
trouxe, de roldão, o “home office” como condição essencial para
garantir um mínimo de normalidade no dia a dia de trabalho, diante
do isolamento social imposto pelo temor de propagação da doença. A
mudança, que a princípio se apresentava como uma solução
emergencial determinada pelas circunstâncias, vai ganhando o status
de solução definitiva em muitas corporações, que constataram na
mudança um conjunto de benefícios para as companhias e para os
trabalhadores.
Beneficiários indesejáveis da
materialização do home office como tendência testada e aprovada
para o trabalho, os ‘hackers’ também vislumbraram, graças à
transferência dos postos de trabalho para as residências, um
terreno fértil para todo tipo de crime cibernético. Fora do
ambiente mais protegido as corporações, os sistemas ficaram mais
vulneráveis a um arsenal de golpes e fraudes cometidos por hackers,
que colocaram o Brasil em posições de destaques dos rankings de
crimes realizados pela internet. Desde que o novo coronavírus
começou a se espalhar por aqui, o País se transformou no líder
mundial de casos de ransomwares, modalidade de ataque cibernético
em que o hacker trava o computador da vítima e cobra um resgate
para liberá-lo. A própria pandemia serviu de mote para as
investidas dos criminosos da internet. Pesquisa realizada pela
consultoria americana Forrester mostrou que 41% das companhias
ouvidas em dez países, com o Brasil entre eles, foram vítimas de
ataques virtuais vinculados à doença.
Outro fator que impulsionou os
crimes cibernéticos foi o crescimento do e-commerce, outra
consequência do isolamento social. Várias empresas migraram para o
ambiente virtual procurando atender ao aumento da demanda das
famílias em isolamento social. Especialistas lembram que nem todas
as empresas estavam preparadas para essa transição, nem para o
crescimento do volume de compras online proporcionado pela
pandemia. O resultado foi um aumento substancial do número de casos
de roubo de dados. Um levantamento realizado pela consultoria
Oliver Wyman apontou que os ataques de phishing no mundo todo
aumentaram 700% desde março.
Atentas aos múltiplos
desdobramentos da pandemia do novo coronavírus, as seguradoras
souberam se adaptar também a esse cenário em particular, com a
oferta de produtos que garantem a cobertura para ataques
cibernéticos. O seguro para riscos cibernéticos oferece benefícios
variados: a proteção para o caso de roubos de dados não se limita
aos contratantes da apólice, abrangendo também os impactados pelo
crime cibernético. Oferece cobertura para todos os custos
resultantes dos ataques de hacker e dos vazamentos de dados e
coloca à disposição do cliente uma equipe que lhe dará suporte nos
casos de ataques.
O cenário vivenciado em meio à
pandemia vem contribuindo para uma maior conscientização em relação
à importância da contratação de seguros contra ataques cibernéticos
A assimilação desses produtos fizeram com que a arrecadação
apresentasse um crescimento de 72% em relação ao mesmo período de
2019, alcançando R$ 20,8 milhões. Para se ter uma ideia da maior
ação dos hackers nesse período, basta verificar que o montante de
sinistros verificado nos sete primeiros meses deste ano foi de R$
13 milhões. No mesmo período do ano passado, havia atingido a marca
de R$ 267 mil.
A trajetória de evolução do
seguro contra riscos cibernéticos não deve parar por aí. Há novos
componentes no ambiente de negócios do mundo corporativo que
deverão contribuir para que esse tipo de seguro continue a
conquistar importância. A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD),
que entrou em vigor recentemente, é um desses componentes. A nova
legislação responsabiliza empresas pelo vazamento de informações de
seus clientes. Há cálculos que circulam no mercado segurador dando
conta de que, movidas pela necessidade de se protegerem dos efeitos
dessa legislação, as companhias deverão ampliar em até 20 vezes a
demanda por esse produto.
A entrada em vigor do sistema de
pagamentos Pix, prevista para novembro, deverá representar outro
desafio, diante do potencial para a concretização de crimes
cibernéticos. A expectativa é deverá ocorrer uma pulverização desse
mercado, com a participação de empresas com menor poderio
tecnológico, o que poderá oferecer aberturas para a atuação de
hackers.
Assim como vem ocorrendo com
diferentes demandas apresentadas pela sociedade, a indústria
seguradora deverá continuar acompanhando o pulso das necessidades e
oferecendo maneiras de as pessoas e as corporações se sentirem
protegidas.