Saúde não tem preço, mas cuidar
dela tem custos cada vez mais altos. A situação afeta não apenas a
folha de pagamento das empresas, mas também a cultura
organizacional. Segundo levantamento da consultoria Mercer Marsh
Benefícios, o valor médio gasto por colaborador com o seguro saúde
disparou 19% entre o ano passado e o anterior e mais do que dobrou
nos últimos cinco anos. Essa escalada de preços preocupa as
empresas, afinal a assistência médica, em média, já representa
12,71% dos custos da folha de pagamento, ante os 10,38% verificados
em 2012. Mas há casos de companhias onde essas despesas representam
25% dos gastos com pessoal. A pesquisa da Mercer foi realizada este
ano e envolveu 690 médias e grandes empresas nacionais e
multinacionais de 30 segmentos da economia, que contam com 1,7
milhão de funcionários. "A saúde é o segundo maior peso na folha e
sua curva de preços cresce, no mínimo, duas a três vezes a
inflação." Com a escalada nos valores, muitas companhias buscam
redesenhar seus programas e o cenário de crise facilita a
negociação. "Cabe às organizações buscar alternativas. Se minha
empresa oferece um amplo leque de benefícios e meus concorrentes
não, tenho margem para renegociar contratos e tratar com outras
operadoras", diz a diretora da Mercer, Mariana Dias. Na negociação
entre empresas e operadoras de saúde, vale tudo. Um hospital
retirado da rede ou a alteração do valor de reembolsos já faz
diferença. Se a rede será nacional ou estadual também pode aliviar
custos, assim como o pagamento da coparticipação dos funcionários
em consultas e exames ou a participação em programas de qualidade
de saúde. Nos próximos dois anos, 52% das companhias pesquisadas
disse que investirá em programas de saúde (como gerenciamento de
funcionários com doenças crônicas, gestantes, nutrição, saúde
mental, qualidade de vida) e 50% farão redesenho dos programas de
benefícios, com foco no controle de custos e também para se
equiparar às práticas de mercado. A troca de fornecedor, decorrente
da insatisfação com os serviços, está no radar de 47%. Segundo
Mariana, todas as alternativas são válidas já que, depois do
salário, o plano de saúde é o benefício mais valorizado pelos
empregados. Para os empregadores, da mesma forma, a manutenção de
uma equipe saudável é garantia de produtividade. "Nossos
colaboradores percebem positivamente os benefícios e as faltas da
empresa estão em patamares confortáveis", diz Thiago Moro, médico
do trabalho e responsável por saúde coletiva na fabricantes de
tubos e conexões Tigre. Ela tem 90% dos funcionários segurados e
paga a operadora por procedimentos feitos. "Por isso, precisamos de
uma gestão muito próxima aos colaboradores. Não podemos perder o
controle de gastos", diz Moro. O plano da empresa é compulsório,
sem carências, extensivo a dependentes e de abrangência nacional.
Na Avon, segundo Meire Blumen, gerente de saúde e qualidade de
vida, a empresa paga mensalidade definida em contrato - o chamado
prêmio - e quando ocorre uma despesa médica é gerado o "sinistro".
"Nesse modelo, estabelecemos um limite técnico. Se utilizo até a
meta, é um contrato saudável. É bom para empresa e para a
operadora." No caso de o uso ultrapassar o limite, são acordadas
revisões do prêmio. Além de um leque de opções de médicos e
hospitais mais restrito, entre as alternativas mais adotadas pelas
empresas para reduzir seus custos na área, duas se tornaram
corriqueiras e têm impacto no bolso dos colaboradores: a
coparticipação e o compartilhamento do custo. Na primeira, além do
valor mensal fixo pago pelo empregador, o usuário é cobrado à parte
sempre que faz um procedimento, como consultas e exames. Com isso,
espera-se mensalidades mais baixas e maior conscientização de
funcionários. "O modelo de coparticipação cresceu de 51% em 2015
para 66% em 2017", diz a diretora da Mercer. "Esse número deve
chegar próximo a 100% no futuro. É uma forma de controlar a
sinistralidade e de conscientizar o colaborador de que ele só deve
usar quando precisa." Outra alternativa adotada pelas empresas é o
compartilhamento da mensalidade nos planos sem coparticipação. "Nem
todas as empresas conseguem financiar 100% do custo. Hoje, o
subsídio médio está em torno de 80%." Segundo a executiva, no ano
passado, 43% das empresas adotavam a divisão da mensalidade. O
número era de 51% em 2016. A queda, diz Mariana, ocorre porque
muitas empresas não querem arcar com o passivo do colaborador que
deixa a empresa. A legislação garante que o demitido possa
continuar no plano, dependendo do tempo de casa.