Com 9 votos favoráveis e 3 contrários,
a indicação do advogado Rogério Scarabel para compor a diretoria da
Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) foi aprovada pela
Comissão de Assuntos Sociais (CAS), nesta quarta-feira (23). A
análise da indicação, feita pelo governo federal, segue agora ao
Plenário do Senado.
Durante a sabatina, Scarabel foi muito
questionado pelos senadores pelo fato de, em sua atividade
profissional, ter defendido os pleitos dos planos de saúde. A
senadora Rose de Freitas (Pode-ES) afirmou que a indicação
aprofunda o processo de captura da ANS pelos interesses privados,
em detrimento dos direitos da população.
Rose disse perceber um "óbvio conflito
de interesses" na presença do advogado na direção da agência,
qualificou a sabatina de constrangedora e chegou a pedir a
suspensão da análise à presidente da CAS, senadora Marta Suplicy
(MDB-SP).
A presidente da CAS lembrou que o
Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) e a Associação Brasileira
de Saúde Coletiva (Abrasco) solicitaram à Comissão de Ética da
Presidência da República uma averiguação sobre potencial conflito
de interesses, pois Scarabel foi sócio, até abril, de um escritório
de advocacia atuante em demandas das operadoras junto à ANS. Marta
Suplicy deu continuidade à análise da indicação, afirmando que
"nenhuma sabatina é vinculada à aprovação, e cada senador deve
votar de acordo com sua consciência".
O indicado Rogerio Scarabel afirmou
que sua atuação como advogado junto à agência reguladora não se deu
"apenas para os planos de saúde, mas muito mais na defesa das
normas nas relações entre beneficiários, prestadores de serviços e
as operadoras".
Questionamentos e
demandas
O senador Hélio José (Pros-DF) ainda
quis saber do indicado porque ele abriria mão de atuar como dos
planos de saúde na condição de sócio de um escritório, para receber
R$ 14 mil por mês na ANS. O senador defendeu que o posto fosse
ocupado por um servidor de carreira.
Na resposta, o indicado afirmou que
aceitou servir na agência por compromisso público, e não comentou
sobre a necessidade ou não de uma CPI. Porém entende que a ANS está
aperfeiçoando seus mecanismos de fiscalização, tanto que no ano
passado pôde repassar mais de R$ 500 milhões para fundos nacionais
de saúde.
Já a senadora Ana Amélia (PP-RS) pediu
a Scarabel que priorize, caso tenha indicação confirmada, o
reajuste da tabela de diversas especialidades no que tange à
remuneração dos prestadores de serviços em suas relações com os
planos de saúde.
O indicado admitiu que este é um
grande ponto de conflito no setor e que tratará o assunto como
prioridade caso assuma o posto. Mas lembrou que a própria ANS
possui normas determinando o reajuste anual das tabelas.
Em sua fala inicial, Scarabel chamou
atenção ainda para o gigantismo da saúde suplementar no Brasil.
Ressaltou que 47 milhões de brasileiros possuem planos de
assistência médica, vinculados a 759 operadoras. Por fim, mencionou
que a receita das empresas foi de R$ 158 bilhões em 2016,
responsáveis por 3,7 milhões de postos de trabalho diretos e
indiretos.
ANS
Ainda durante a sabatina, o senador
Hélio José (Pros-DF) defendeu que o Senado abra uma CPI para
investigar a ANS, devido à "inoperância" da agência que, segundo
ele, "virou uma advogada dos planos de saúde contra os
contribuintes".
— Aqui no Brasil os planos de saúde
deitam e rolam, enquanto dezenas de milhões de pessoas pagam preços
altíssimos para ao final não terem o devido atendimento. Isto
inclusive onera de forma terrível as contas públicas, porque
sobrecarrega o SUS — criticou.