Quando, 30 anos atrás, criamos o fundo
de pensão da Itaipu, preparava as palestras de convencimento da
necessidade de previdência privada, trabalho difícil numa época de
pouca consciência previdenciária. Um diretor da Itaipu, então, me
chamou e disse: “Follador, o plano é voluntário, mas ponha todo
mundo e quem não quiser que peça para sair”.
O procedimento para quem não queria
permanecer era uma verdadeira maratona. Envolvia entrevistas com a
assistente social, reuniões desta com a família do empregado,
formalização através de carta pessoal ao RH, reuniões com o
superintendente e até com o diretor administrativo. Resumo: 96% dos
empregados, acomodados, permaneceram no fundo. E, hoje, agradecem
de joelhos a garantia da ótima aposentadoria.
“Países europeus já adotaram algumas
medidas de incentivo à previdência complementar”
Países europeus já adotaram algumas
medidas de incentivo à previdência complementar que incluem a
inscrição automática no plano de previdência da empresa, permitindo
ao participante a solicitação de desligamento, se desejar; a
filiação obrigatória; a oferta obrigatória de plano pela empresa,
mesmo que essa não aporte contribuições; além, é claro, dos
incentivos tributários. No Reino Unido, todo trabalhador com mais
de 22 anos que ganhe mais que o equivalente a R$ 24.639 é obrigado
a contribuir para uma previdência privada. A contribuição está
sendo elevada até atingir 8%, sendo 4% do empregador, 3% do
trabalhador e 1% do governo.
Por aqui, um grande incentivo que o
governo poderia usar como moeda de troca na adesão automática ou
mesmo obrigatória seria permitir que o trabalhador aplicasse parte
do FGTS (que rende uma miséria) no plano de previdência de sua
escolha.
Diante de casos de ingerência política
e corrupção em fundos de pensão de empresas públicas brasileiras –
quatro ou cinco em um universo de quase 300 instituições e 2,5
milhões de participantes –, alguns questionam, sem razão, a solidez
de um sistema criado há 40 anos e altamente regulado e fiscalizado.
Essas mesmas pessoas argumentam que preferem administrar sozinhas
suas poupanças previdenciárias. Mas previdência privada não é
aplicação financeira e não se compara a investimentos de curto
prazo. A disciplina para poupar, os incentivos fiscais e os ganhos
de escala nos investimentos são apenas algumas das vantagens com as
quais rebato os argumentos daqueles que ainda não se
convenceram.
Quando não há educação, nem
consciência previdenciária, nem cultura de poupança, só obrigando,
em benefício da própria pessoa desinformada e mal orientada. Por
isso acho que previdência privada obrigatória seria uma forma de
proteger o trabalhador dele mesmo. De sua falta de visão
estratégica de longo prazo. Eu não teria nenhum remorso de fazer
isso, pois determinação é uma atitude praticada por poucos seres
humanos.