As experiências bem sucedidas de
seguradoras e os principais obstáculos para a evolução do seguro
auto popular foram debatidos em evento da APTS.
Criado para conquistar o mercado de
mais de 30 milhões de veículos que não têm seguro, fatia
correspondente a cerca de 70% da frota nacional, o seguro popular
de automóvel ainda está longe de atingir esse objetivo. Dia 29 de
agosto, a Associação Paulista dos Técnicos de Seguro (APTS)
realizou debate, no auditório do Sincor-SP, para discutir as
expectativas do setor e os problemas que impedem a evolução desse
seguro.
Pesquisa com os sem seguro
Segundo Felipe Milagres, diretor da
Azul Seguros, pesquisas que apontam por que muitos donos de
automóveis não fazem seguro ajudaram a empresa a direcionar a
construção do seu produto. Para a justificativa dos entrevistados
que consideram o seguro caro e que admitem a incapacidade de pagar
em até 4 parcelas, a empresa adotou a solução de um produto enxuto
com preço competitivo (até 30% mais barato que o tradicional) e em
dez prestações fixas.
Em relação à baixa percepção do valor
do seguro e da imagem de burocrática das seguradoras, apurada por
pesquisas, a solução da empresa foi tornar o produto fácil de
entender, com perfil simplificado (apenas cinco perguntas) e
coberturas básicas (colisão, roubo, furto). O Azul Seguro Auto
Popular é destinado a veículos com 5 anos ou mais, importância
segurada de até R$ 60 mil e indenização de 80% ou 90% da tabela
Fipe, além de assistência 24 horas e guincho em até 100 km.
Mas, o seguro auto popular se tornou
viável para a seguradora somente após a publicação da resolução do
CNSP (nº 340), em dezembro de 2016, que permitiu o uso de peças de
desmontagem oriundas de empresas credenciadas e também peças de
reposição novas, que apresentem as mesmas especificações técnicas
do fabricante. Com isso, a Azul pode reduzir o preço do seu produto
a partir do uso de uma cesta de peças, que inclui peças originais,
peças de desmontagem provenientes da Renova Ecopeças, empresa da
Porto Seguro criada há três anos, e peças de fabricantes
homologados e certificados.
Boas perspectivas
O seguro popular de automóvel da Tokio
Marine Seguradora, segundo o diretor de Automóvel da Luiz Padial,
oferece cobertura inicial para colisão e incêndio para veículos com
cinco anos ou mais de uso e pode custar até 50% menos que o seguro
tradicional. Ele explica que a indenização é ajustada entre 80% e
90% da tabela Fipe e o valor da franquia difere no momento do
sinistro se o segurado optar por oficina de livre escolha ou
referenciada. Os serviços de assistência, como carro reserva e
vidros, são flexíveis e o pagamento do prêmio é facilitado em até 6
vezes sem juros ou em 12 parcelas fixas no débito em conta ou
cartão de crédito.
A Tokio Marine optou por utilizar no
reparo de veículos peças novas compatíveis, que são oriundas do
mercado alternativo, com as mesmas especificações técnicas do
fabricante. O produto está disponível para 16 tipos de veículos
(passeio, caminhões e utilitários de carga), cuja combinação pode
atingir mais de mil versões. Ele também destacou a abrangência de
oferta em dez cidades do país, adiantando que a empresa já somou
outras dez cidades à lista.
Em seis meses de operação, a empresa
vendeu mil apólices, somando R$ 1,4 milhão em prêmios, e indenizou
apenas nove sinistros, dos quais somente um por perda parcial.
“Acompanhamos cada venda, até para ter a certeza de que foi uma
venda consciente, e nos casos de sinistros, também verificamos o
serviço da oficina”, diz Padial. A Tokio Marine calcula que no
médio prazo a venda de seguro auto popular represente 15% de sua
carteira.
Reparação
José Nogueira dos Santos,
vice-presidente do Sindicado da Indústria de Reparação de Veículos
e Acessórios do Estado de São Paulo (Sindirepa-SP), e presidente da
Câmara de Estudos de Colisão do Sindirepa Nacional, contou que a
rede independente está presente em 5.572 municípios do Brasil.
Segundo ele, o alto preço das peças combinado com a Lei do
Desmonte(12.977/2014), que ainda precisa ser discutida amplamente
pela sociedade e que demora a ser consolidada, eleva o aumento de
furto de veículos e o comércio ilegal de peças.
Para ele, a lei ainda não oferece
solução para atender toda a demanda, pois a capacidade de
abastecimento dos estabelecimentos legalmente instalados não atende
a 1% da demanda do mercado de sinistro. Nogueira lembrou que nos
Estados Unidos, o trabalho de desmontagem de veículos é realizado
pelas próprias montadoras. Ele destacou a importância do reparador
independente para a consolidação de qualquer projeto de melhoria de
mobilidade, e que o objetivo da Câmara de Colisão é a aproximação
do mercado reparador com o segurador, para que haja mais segurança.
“Pois, somos um dos elos desta cadeia produtiva”.
Garantia da qualidade
Representando a Fenacor, o
vice-presidente na região Sudeste e presidente do Sincor-SP,
Alexandre Camillo, tocou em um ponto crucial para a evolução do
seguro auto popular: a garantia da origem e do estado de uso das
peças recuperadas provenientes de desmanches. De acordo com a Lei
do Desmonte, caberá aos Detrans dos estados regimentar e fiscalizar
as empresas de desmontes para o registro e controle da origem das
peças. “Criou-se a expectativa de usar peças recuperadas para
reduzir o preço do seguro. Mas, o fato é que isso não se tornou
realidade”, afirma.
Segundo Camillo, falta aos Detrans um
sistema informatizado, cujo custo atual está na casa de milhões de
reais. Apenas o Detran de São Paulo adquiriu o sistema. Nos
seminários itinerantes sobre a Lei do Desmonte, realizados pela
Fenacor, ele observou que ficou clara a necessidade de se equipar
os Detrans para a consolidação da lei. “Aí sim pode se pensar no
seguro auto popular. A Fenacor e a CNseg se debruçaram novamente
sobre o assunto. Está se avaliando também a força de contribuição
junto aos Detrans na obtenção destes sistemas. Acredito firmemente
que, em breve, teremos boas novidades”, diz.