Após seis meses sob direção fiscal, a
Nobre Seguradora teve liquidação extrajudicial decretada pela
Superintendência de Seguros Privados (Susep), em outubro passado.
Com as apólices canceladas, a companhia não pode transferir a
carteira para outras seguradoras. “Cabe aos segurados, por meio de
seus respectivos corretores de seguro, demandarem as seguradoras
que possuem autorização para operar nos ramos de seguro de
interesse”, disse a empresa ao ser procurada pela Revista
Apólice.
A decisão da autarquia afetou
diretamente a carteira de Responsabilidade Civil Ônibus (RCO), da
qual a Nobre era líder de mercado, e impactou o setor – inclusive
os corretores. “Cerca de 80% da nossa carteira estava segurada
através da Nobre”, declara Sheylla Minatto, diretora da Acertcor
Corretora de Seguros. Para normalizar a situação, foi preciso
refazer todos os seguros e explicar para os segurados que
precisariam pagar uma nova apólice, com novos valores.
Ao contrário da Acertcor Corretora, a
Tangará Seguros não teve nenhum caso de seguradora com liquidação
extrajudicial. Contudo, alerta para a importância das corretoras
verificarem a solidez das companhias com as quais trabalham. “O
cliente nos confia a cuidar do seu patrimônio desde a escolha do
melhor produto até o atendimento de uma ocorrência de sinistro.
Precisamos estar atentos às notícias oficiais do mercado, evitando
transtornos para os nossos segurados”, diz a proprietária da
empresa, Aparecida Silva.
Na Tangará Seguros, a carteira de
Responsabilidade Civil Ônibus teve um crescimento médio de 125% em
um ano. Em qualquer que seja a situação, Aparecida lembra que
transportar pessoas é uma grande responsabilidade e por isso deve
se priorizar tanto a contratação do produto em si como suas
garantias complementares, que também são importantes para a
tranquilidade do proprietário do veículo.
Poucas opções no mercado
Devido ao aumento do sinistro das
seguradoras que absorveram os clientes da Nobre, o preço do seguro
RCO saltou, em média, 45% de 2016 para 2017, principalmente na
cobertura de Responsabilidade Civil para Danos Materiais causados a
Terceiros. O quadro se agrava ainda mais ao considerar que apenas
três seguradoras operam com a carteira no momento. “A falta de
opções faz com que o preço aumente e o segurado fique sem muitas
escolhas”, afirma Sheylla.
Entre essas seguradoras está a Essor,
que se estruturou para receber a demanda. “Temos atendido aos
pedidos de cotação destes corretores e emitido as propostas
contratadas. Apesar do aumento nos negócios, continuamos mantendo
nosso compromisso com os corretores, segurados e o mercado,
atendendo com a mesma qualidade e responsabilidade”, pontua Márcio
Feital, diretor técnico de Auto/Transportes da companhia.
Outra companhia que teve um incremento
na demanda foi a Gente Seguradora. “Fomos procurados pelos
corretores que assessoram seus segurados, no intuito de recolocar
estes riscos no mercado. Sendo assim, alguns seguros foram
encaminhados dentro do nosso nicho de atuação”, declara o
responsável pela área comercial/RCO da empresa, Carlos Eduardo
Pinto de Souza, ressaltando a importância da contratação do seguro
de RCO. “É uma proteção para toda a população e os transportadores
de passageiros sentem-se seguros para melhor atendê-los. No Brasil,
existe uma legislação específica em cada estado da federação, onde
a maioria das empresas de transportadores de passageiros tem que
atendê-la.”
O fim da Nobre Seguradora
A empresa, que atuava no mercado
segurador desde 1992, fechou o ano de 2015 com um Patrimônio
Líquido Ajustado em R$ 53 milhões. De acordo com a própria
seguradora, o valor era insuficiente às exigências da Susep. No
mesmo ano, a Nobre apresentou um Termo de Compromisso de
Ajustamento de Conduta (TAC), que foi recusado pela autarquia.
Entrou em direção fiscal em março de
2016, mas a medida não foi suficiente para tirar a companhia do
vermelho. Sete meses depois, a Susep decretou liquidação
extrajudicial. Como houve cobertura para os eventos ocorridos até o
dia 3 de outubro, a Massa Liquidanda da Nobre Seguradora está
apurando o valor a ser restituído com base na relação proporcional
entre o prêmio pago e os dias cobertos para futura restituição. A
empresa pede que os beneficiários dos sinistros mantenham seus
dados (como endereço, telefone e e-mail) atualizados na Massa
Liquidanda.