Contratação do chamado seguro de
Responsabilidade Civil D&O cresceu muito depois da Operação
Lava Jato, mas modalidade não cobre condutas fraudulentas e
dolosas
Empresas de todos os níveis podem ser
impactadas, de alguma forma, pela Operação Lava Jato. A operação da
Polícia Federal abriu os olhos de diretores, administradores e
gestores que buscam proteção contra ameaças judiciais, levando a um
aumento da busca pelo seguro de Responsabilidade Civil D&O.
Sigla em inglês para ‘Directors and
Officers Liability Insurance’, o seguro D&O cobre honorários de
advogados e pagamentos em caso de multas e indenizações em níveis
tributário, fiscal, trabalhista, entre outros.
Paraná é o terceiro estado em
pagamentos de sinistros e prêmios desse tipo de seguro
‘Depois do surgimento da operação Lava
Jato, em 2014, o número de sinistros (quando o seguro é acionado)
aumentou substancialmente. As seguradoras chegaram a reavaliar as
avaliações de cálculos do prêmio (preço do seguro)’, afirma o
presidente da comissão de Direito Securitário da OAB-PR, Reinaldo
Mirico Aronis.
Gustavo Galrão, professor da Escola
Nacional de Seguros (Funenseg) especialista em D&O, explica que
esse seguro é indicado para todos que possuam cargos de gestão ou
função de representação de uma sociedade, seja ela uma Sociedade
Limitada, Sociedade Anônima, Associação ou Fundação. ‘Todavia, é
necessário destacar que o seguro D&O não prevê cobertura para
condutas fraudulentas ou dolosas’, destaca ele.
Até recentemente, a contratação era
mais frequente em grandes empresas. Contudo, pequenas e médias
também estão buscando a proteção. ‘A demanda é observada em
praticamente todos os setores’, constata Rafael Domingues, diretor
da Seguradora Chubb, líder no segmento D&O, conforme dados da
Superintendência de Seguros Privados (SUSEP).
De acordo com números oficiais da
superintendência, em 2015, a incidência de prêmios (preço do
seguro) para a modalidade D&O disparou, com crescimento de
quase 62% comparado ao ano anterior — de R$ 227 milhões para R$ 368
milhões. Em 2016, a importância chegou a R$ 373 milhões.
Quanto ao número de sinistros (quando
o seguro é acionado), em 2013, houve pagamento de R$ 80 milhões
contra R$ 130 milhões no ano passado, uma evolução superior a
60%.
Aronis, da OAB-PR, destaca que ‘as
maiores preocupações dos diretores são, sobretudo, questões fiscais
e trabalhistas. Já é possível, inclusive, individualizar as
coberturas’, completa o advogado.
Exigência executiva:
O Seguro D&O pode ser classificado
como um dos benefícios oferecidos a altos executivos pelas
empresas.
Segundo pesquisa realizada pela
consultoria Page Executive, em 2013, 55% dos diretores do alto
escalão tinham esse seguro de responsabilidade civil incluído no
pacote de benefícios. Em 2016, o número pulou para 66%. Apenas nas
multinacionais, a cobertura chega a 85% dos executivos, contra 56%
das companhias brasileiras. ‘A cultura dessa contratação em países
estrangeiros ainda é muito maior do que no Brasil’, opina Galrão,
especialista da Funenseg.
‘Normalmente, as empresas adquirem o
seguro de D&O para profissionais que respondem pela
administração: diretores, administradores, conselheiros, gerentes e
qualquer outra pessoa física com poder de gestão’, afirma
Domingues, da Chubb. Aronis reforça o pensamento: ‘Faz parte da
política de atração em determinadas companhias’.
O histórico desse tipo de seguro:
Criada nos Estados Unidos após a crise
econômica de 1929, a modalidade D&O chegou ao Brasil apenas na
década de 1990, segundo Gustavo Galrão, professor da Escola
Nacional de Seguros. ‘Em suma, o capital estrangeiro entrava no
país por conta da privatização das empresas públicas e com elas
vinham também executivos estrangeiros que demandavam a cobertura’,
destaca.
Apesar disso, o seguro ganhou força no
Brasil em 2003, com o novo Código Civil Brasileiro. ‘Foi quando
aconteceu a desconsideração da personalidade jurídica. Se o
magistrado entender que houve negligência ou má fé, ele chegar aos
bens do administrador ou sócio da empresa’, ilustra o presidente da
comissão de Direito Securitário da OAB-PR, Reinaldo Mirico
Aronis.
Com o aumento da oferta e dos
sinistros, em outubro de 2016, a Susep lançou uma circular com
novas regras sobre a comercialização do produto e, em fevereiro
desde ano, suspendeu o documento para poder avaliar melhor o
mercado.