Fórum Permanente de Combate e
Prevenção ao Roubo de Carga busca saídas para o
agravamento
Algumas reflexões importantes podem
ser extraídas do encontro que reuniu especialistas de segurança
pública, nesta terça-feira (24), no Rio de Janeiro, para discutir o
avanço do roubo de cargas no estado, servindo de insights para a
revisão da política de subscrição de riscos das seguradoras de
transporte de mercadorias. No encontro do Fórum Permanente de
Combate e Prevenção ao Roubo de Carga, realizado na Associação
Comercial do Rio de Janeiro, ficou claro que, nos últimos anos, o
roubo de cargas tornou-se o caminho para as quadrilhas de tráfico
de drogas ampliarem seu poder econômico e bélico, ao usar também
mercadorias roubadas como moeda de troca por armamento pesado.
Tal estratégia é ratificada por dados
estatísticos: em 2013, foram 3.534 casos; passando para 5.590 no
ano seguinte; alcançando 7.225 em 2015. No ano passado, as
ocorrências somaram assombrosos 13.603 casos no acumulado até
novembro, demonstrando que esta modalidade de crime esta
descontrolada no estado.
Participante do debate, o
superintendente da Polícia Rodoviária Federal no Rio de Janeiro,
José Roberto de Lima, lembrou que as primeiras quadrilhas do
tráfico de drogas a passarem a atuar no roubo de cargas foram as
que controlam o tráfico nos Complexos do Chapadão e Pedreira, na
Zona Norte da capital fluminense, tirando proveito de o fato desses
comunidades ficarem próximas a vias expressas como a Avenida Brasil
e a Rodovia Presidente Dutra, áreas onde também há galpões de
empresas de logística- muitos abandonados. “A viabilidade econômica
desse crime no horário diurno se tornou algo muito atrativo para o
tráfico e isso está se espalhando. Quadrilhas de outras favelas
estão aderindo”, afirmou Lima, em sua palestra, sobretudo nos
horários matinais, quando a rentabilidade do crime de roubo de
carga supera a receita com o tráfico durante o dia, segundo o
superintendente da PRF no Rio.
O delegado titular da Delegacia de
Roubos e Furtos de Cargas (DRFC) da Polícia Civil, Maurício
Mendonça, diz que o roubo de carga agrava a violência na cidade. “O
trafico está usando a mercadoria roubada para adquirir mais droga e
mais armamento, fortalecendo o tráfico nas comunidades”. Ele
lembra, porém, que este crime não seria tão estimulado se não
houvesse uma rede de receptadores. “As facções conseguiram alianças
com intermediários que alcançam receptadores. Eles são o maior
problema do roubo de cargas, porque, se não houver receptador, não
há roubo”.
Os especialistas falam abertamente de
comerciantes de estabelecimentos formais inescrupulosos, que dão a
seus produtos a aparência de legalidade, sem que o consumidor
desconfie estar adquirindo mercadoria roubada. Os alvos preferidos
dos ladrões, segundo Mendonça, são produtos como carnes, bebidas e
cigarros. “São produtos que podem ser vendidos de forma separada e
fracionada. Isso dificulda a identificação da origem”, afirma
ele.
O presidente da Federação do
Transporte de Cargas do Estado do Rio de Janeiro, Eduardo Rebruzzi,
cobra punições mais duras para comerciantes que sejam descobertos
como receptadores de carga roubada e lembra que muitos empresários
de transporte começam a desistir de atuar na praça fluminense. “É
importante que exista uma mudança na legislação para agravar penas:
como cortar CNPJ (Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas) de
empresas que sejam encontradas com produtos roubados ou cortar o
alvará”, sugeriu.
Segundo ele, “as empresas estão
deixando de vir ao Rio de Janeiro”. “Tenho amigos empresários que
falam que não colocam o pneu no Rio de Janeiro”, diz Rebruzzi, que
antecipa que o setor deve começar a implementar uma taxa
emergencial de risco de 0,3% a 0,5% do valor das mercadorias que
saem ou se destinam à cidade do Rio de Janeiro. O percentual,
considerado uma defesa do setor, teria ainda R$ 10 a R$ 15 de valor
mínimo de cobrança.
Para o superintendente da Polícia
Rodoviária Federal no Rio de Janeiro, existem ações de combate já
adotadas para coibir a prática de roubo de carga nas áreas que
foram mapeadas como mais críticas. O fundamental é que as
autoridades sejam comunicadas rapidamente do ocorrido para dar
resposta adequada, afirma.
Outras ações importantes incluem o
arsenal tecnológico pelas empresas de transporte e mesmo um
procedimento simples: a identificação dos veículos com a numeração
das placas também na parte superior, para que possam ser mais
facilmente reconhecíveis durante o monitoramento aéreo, sugeriu
Rebruzzi.
Todo esforço é válido para combater
quadrilhas cada vez mais preparadas para promover ataques e escoar
com rapidez o produto roubado. “Não estamos falando de um individuo
comum que está roubando apenas com uma arma. Estamos falando de
organizações que se moldaram para aquilo”.