Desde meados da década de 1980, o seguro de veículos é uma das principais carteiras do mercado segurador brasileiro. Ao longo destes anos, as apólices foram se sofisticando, incluíram novos benefícios e serviços, mudou a forma de se calcular o prêmio, o perfil do segurado cresceu de importância, enfim, a concorrência levou ao aprimoramento do produto.
Atualmente, o que distingue o seguro de veículos brasileiro de seus similares internacionais é a rapidez no pagamento das indenizações de perdas totais. Enquanto em vários países este prazo é de aproximadamente 30 dias, no Brasil, em função da concorrência acirrada entre as seguradoras, ele foi severamente reduzido, sendo comum o pagamento em 7 dias depois da entrega dos documentos.
Mas, na essência, o seguro de veículos brasileiro continua o mesmo produto de 30 anos atrás. Em verdade, são três seguros emitidos numa única apólice. Seguro para o próprio veículo, seguro de responsabilidade civil e seguro de acidentes pessoais de passageiros.
O primeiro é um seguro de dano, que indeniza as perdas sofridas pelo veículo segurado, seja em função de colisão, incêndio ou roubo, independentemente de se tratar de dano parcial ou perda total.
O segundo é um seguro de responsabilidade civil, ou seja, um seguro de reembolso das despesas com que o segurado for condenado a arcar em função de danos causados a terceiros. O seguro indeniza essencialmente danos de duas naturezas: os danos materiais e os danos corporais. Além disso, é permitido ao segurado comprar cobertura para os danos morais, desde que decorrentes de outros danos cobertos pelo seguro.
O seguro de acidentes pessoais de passageiros é um seguro de acidentes pessoais causados pela existência e funcionamento do veículo segurado. Ele cobre os danos corporais sofridos pelo motorista e pelos passageiros do veículo em função de estarem dentro dele, o que é diferente de ser necessário um acidente envolvendo outro veículo para gerar a obrigação de pagar.
Como as garantias de cada seguro são diferentes, é importante o segurado conhecer o que cada uma indeniza e quais suas exclusões, sob risco de não receber a indenização em caso de sinistro.
O seguro de veículos tradicional é um seguro desenhado para veículos da classe média. Ou seja, veículos novos ou com até 5 anos de idade. Seu desenho não só não contempla, como espanta sua contratação para veículos mais velhos. É que a relação custo/benefício se torna desinteressante para o proprietário.
O mercado está pronto para comercializar um novo modelo de seguro, desenhado para os veículos mais velhos. Pode ser uma alavanca importante para aumentar o faturamento da carteira ao longo dos próximos anos, melhorando os resultados das seguradoras e o faturamento dos corretores de seguros.
O que não está claro é se as atuais formas de taxação de prêmios se mostrarão adequadas no futuro. O uso dos veículos está passando por transformações radicais. Cada vez mais as novas gerações se questionam sobre a necessidade de terem carros particulares. A pergunta é se vale a pena investir tanto dinheiro num bem relativamente precário, sujeito a danos de monta, quando não a roubos e furtos, em troca de seu uso de forma limitada, seja em função do trânsito cada vez mais intenso das cidades, seja pelo uso de outras formas de locomoção durante as viagens.
A verdade é que o automóvel começa a deixar de ser um sonho de consumo para se transformar numa forma de transporte cara e eventualmente insatisfatória para boa parte da população.
Isto está levando a novos desenhos para a posse e o uso dos veículos. Cada vez mais o uso compartilhado ocupa espaço na vida, principalmente dos jovens. Este uso compartilhado faz com que não haja mais um motorista principal. Mais ainda, não há sequer um proprietário com os dados de quem se possa taxar o risco. O veículo é de uso comum. O cidadão vai a um estacionamento, passa um cartão e escolhe qual carro deseja usar. Usa e devolve em outro estacionamento, com o uso sendo debitado do cartão de crédito.
Na mesma linha, o surgimento do Uber também traz dificuldades para as seguradoras. No mais das vezes, são veículos particulares que passam a ser usados para o transporte pago de pessoas. Quer dizer, muda o risco.
São apenas exemplos do que já está acontecendo. Mas são suficientes para mostrar que as seguradoras terão um cenário novo diante delas, em poucos anos.