No dia cinco de agosto acontece a
abertura dos Jogos Olímpicos de 2016. Nunca na história recente uma
edição das Olimpíadas esteve tão ameaçada. Nem mesmo Munique, que
assistiu chocada o trágico atentado contra a delegação israelense,
ao começar, sabia de ameaças como as do Rio de Janeiro.
O Brasil teve sete anos para tomar
as medidas necessárias para fazer um evento exemplar. Não
aproveitamos a chance quando o país ia bem e tinha dinheiro em
caixa. Ao contrário, as coisas foram atrasando e, quando olhamos,
os jogos estavam aí, sem que tivéssemos feito parte importante da
lição de casa.
O resultado é que já passamos
vexames constrangedores. Muito antes da queda da ciclovia, os
atrasos já apontavam problemas eventualmente sérios, capazes de
comprometer os Jogos. Muito do que deveria ser feito sequer
começou. O melhor exemplo é a limpeza da Baía de Guanabara, onde as
coisas não foram feitas nem no papel. Não há notícia de uma única
ação significativa para ao menos minimizar a poluição das águas.
Continua tudo como sempre, com dejetos, esgoto e lixo sendo jogados
na baía como se fosse uma enorme cloaca a céu aberto, feita
especificamente para armazenar a poluição do Rio de Janeiro e de
seu entorno. Mas o quadro vai muito mais longe. De verdade, ninguém
coloca a mão no fogo pela Lagoa Rodrigo de Freitas. Como ninguém
coloca a mão no fogo pela qualidade e resistência das obras que
foram feitas para sediar osJogos.
Os problemas, se Deus quiser, se
limitarão aos atrasos. Um acidente causado pelo desmoronamento
parcial ou total de uma das instalações pode ter consequências
dramáticas para os atletas, o público e, principalmente, a imagem
do Brasil.
Mas o quadro negativo vai além: as
epidemias de zika, dengue e chikungunya continuam aí, correndo
soltas, nas asas e ferrões dos mosquitos, que não diminuíram porque
as ações do Governo deram certo, mas porque no inverno o frio mata
parte deles, diminuindo a quantidade final de mosquitos voando e
zunindo sobre as cabeças dos milhões de pessoas que estarão no Rio
de Janeiro durante as três semanas das Olímpiadas.
De outro lado, a violência está
solta. O Governo não conseguiu pacificar a cidade. Ao contrário,
comunidades anteriormente ocupadas pelas “polícias pacificadoras”
foram retomadas pelo crime organizado. Balas perdidas em tiroteios
entre policiais e bandidos matam pessoas que não têm nada com o
assunto. Arrastões acontecem com enorme regularidade. A venda de
drogas acontece praticamente sem repressão e por aí vamos.
Como se não bastasse, o sistema de
saúde pública está superlotado e reconhecidamente despreparado para
um evento como as Olímpiadas.
Para completar, ao contrário do que
afirmou o Ministro da Justiça, o fato dos 10 aprendizes de
terroristas presos serem amadores não melhora em nada o quadro de
um atentado durante as Olimpíadas. Não porque o Brasil seja um alvo
importante, mas porque o terrorismo necessita visibilidade para ser
eficiente. Mais de um bilhão de pessoas ao redor do planeta estarão
assistindo os jogos do Rio de Janeiro, ao vivo e em cores, pela
televisão. É uma oportunidade rara para levar pânico e horror para
o mundo. Então, a ameaça de um ataque é concreta e precisa ser
levada a sério.
É neste cenário complicado que a
partir de 5 de agosto acontecem os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos
do Brasil. Sem uma ampla e sofisticada rede de seguros eles não
seriam possíveis. Os valores atingem a casa dos bilhões de dólares
apenas em investimentos diretos. Além deles, há todo o custo com
sua realização. Os custos de transmissão. De eventual não
acontecimento de provas e competições. De danos a terceiros.
Terrorismo. Epidemias e surtos de doenças. Intoxicações e
envenenamentos coletivos. Acidentes com atletas, delegações,
espectadores, turistas, funcionários, etc.
Provavelmente não acontecerá nada,
mas se acontecer, os jogos estão protegidos por programas de
seguros altamente sofisticados. O ideal é que não seja necessário
utilizá-los, mas eles estão aí para isso.