Depois de pagar um plano de saúde
por 23 anos, a família de um casal de idosos que mora no bairro da
Madalena, Zona Oeste do Recife, recebeu, na semana passada,
uma notícia inesperada: o serviço de assistência médica aos dois
pacientes será cancelado a partir do dia 31 de agosto. Segundo os
familiares dos idosos, o motivo alegado pela operadora Golden Cross
é o uso excessivo do plano.
Casados há 60 anos, Armando, de 89 anos, e Doralice, de 90, são
completamente dependentes dos cuidados de outras pessoas. Ela tem
Alzheimer e ele tem Mal de Parkinson e esquizofrenia e usa cadeira
de rodas. Por isso, foi montada uma estrutura de hospital no quarto
do casal.
A filha deles, a funcionária pública Matilde Leite Watts, conta que
o serviço sempre foi mantido pelo plano. “Ela (Doralice) tem
nutricionista, tem fisioterapeuta, tem enfermeira, tem um médico
uma vez por mês. Então, tudo isso é por parte do plano”,
lembra.
Dona Doralice é professora
aposentada da Secretaria de Educação do estado, que garante o
serviço por meio de um convênio com a Golden Cross. A mensalidade
de R$ 2.553 para os dois idosos juntos é paga integralmente pela
família.
O genro do casal, o analista de sistemas Roberto Watts, diz que a
decisão da operadora pegou a família de surpresa. “Depois de
contribuir anos e anos, chega uma correspondência dizendo que o
plano vai ser cancelado. [Eles alegam] alta sinistralidade, quer
dizer, [os idosos] estão usando muito o plano. Mas é um plano de um
grupo de idosos. Eles usam realmente o plano. Já era previsto
isso”, ressalta.
Para evitar que os pacientes fiquem sem assistência, o analista de
sistemas pensa em acionar a Justiça. “Estamos perdidos. É entrar
com uma ação, alguma forma de a gente voltar com esse plano, manter
esse plano, pelo menos, ou outro que seja compatível porque a minha
sogra, com o home care, é totalmente dependente e não pode ficar
sem esse plano”, afirma.
Já a funcionária pública diz que, mesmo que quisesse pagar outro
plano, será muito difícil encontrar outra operadora que aceite
cobrir os gastos com saúde para pessoas com 90 anos. “Eu acho que a
Golden Cross, com a Secretaria de Educação, tem que tomar uma
atitude sobre isso. Porque o principal a gente faz, é pagar. Agora
eles têm que assumir”, declara.
Por meio de nota, a Golden Cross confirmou que, desde 1993, tem
convênio com a Secretaria de Educação e que há muitos anos não são
incluídos novos beneficiários. Ainda segundo a operadora, o
contrato é coletivo e conta com a adesão de 260 pacientes.
Além disso, a empresa afirmou que beneficiários e a própria
secretaria moveram ações judiciais contra a companhia para limitar
reajustes previstos no contrato e ampliar a cobertura para
tratamentos não contemplados pela legislação. A Golden Cross disse
ainda que, por causa disso, teve um prejuízo de mais de R$ 10
milhões.
Questionada
pelo G1, a Secretaria Estadual de Educação
informou que desde a edição da Lei Complementar Estadual nº
30/2001, responsável por criar o Sistema de Assistência à Saúde dos
Servidores do Estado de Pernambuco (SASSEPE), a pasta
ficou vedada de renovar ou firmar contratos dessa natureza. Ainda
de acordo com a resposta, uma pequena parcela de servidores
aposentados ainda está vinculada à operadora que, por decisão
unilateral, neincidiu a prestação do serviço com a Secretaria.
A pasta também informou, por meio
da nota, estudar possibilidades legais cabíveis ao caso para
orientar os servidores que foram atingidos pelas medidas.