A Agência Nacional de
Saúde Suplementar (ANS) defende a ampliação da oferta de planos de
saúde com coparticipação, modalidade em que o consumidor tem de
pagar uma taxa para fazer uma consulta, um tratamento ou um
exame.
Atualmente, cerca de metade dos 55
mil planos de saúde disponíveis no mercado incluem o mecanismo,
segundo o presidente da ANS, José Carlos Abrahão.
"Mas eles não podem passar a vender
[mais] com coparticipação?", disse Abrahão, ao iG, em evento da
Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge), na
quinta-feira (27) em São Paulo. "Na realidade, a gente só dá valor
àquilo que [gasta]. Então tem na legislação o mecanismo da
coparticipação. Por que a gente não pode oferecer?"
O presidente da ANS descartou mudar
a legislação para estimular esse mercado, e ressalvou que a
cobrança não pode ser incluída em contratos que tenham sido
firmados sem o mecanismo. Segundo o diretor-executivo da Abramge,
Antônio Carlos Abbatepaolo, a minoria da massa de clientes das
operadoras atualmente paga coparticipação.
"Talvez a gente esteja chegando num
momento em que essa questão tem de ser encarada como uma das opções
viáveis para manter o sistema vivo", disse Abbatepaolo durante
debate no evento. As operadoras estimam gastar mais de R$ 0,80 com
o tratamento dos clientes de cada R$ 1 que arrecadam.
R$ 13,17 por
consulta
Estudo da gestora e consultoria Aon com 423 empresas brasileiras
divulgado nesta semana aponta que 66% delas oferecem aos seus
empregados planos de saúde com coparticipação. Nesse grupo, quase a
totalidade (98%) exige a contrapartida no caso de consultas
eletivas e mais da metade (62%), para terapias.
Segundo o levantamento, para fazer
uma consulta eletiva, os funcionários das empresas onde há
coparticipação têm de desembolsar em média R$ 13,17. Para exames
complexos, o valor é de R$ 26,79 e, para terapias, R$ 12,13.
A Aon alerta entretanto que, ao
mesmo tempo em que a coparticipação pode estimular o uso consciente
do plano de saúde, a coparticipação deve ser adotada com cuidado no
caso de terapias, pois pode inibir a continuidade de
tratamentos.
Essa dissuasão tende a aumentar o
gasto com o sistema de saúde, e não diminuí-lo – como é o
objetivo da coparticipação – avalia Lígia Bahia, integrante da
Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e professora
associada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Isso
porque o paciente deixa para procurar o médico após o agravamento
de um eventual problema.
"O Obamacare [reforma do
sistema de saúde pública feito pelo presidente dos Estados Unidos,
Barack Obama] acaba de proibir a coparticipação. Ela é prejudicial
à saúde", afirma Lígia.
A professora reconhece a existência
de desperdício no uso dos sistemas de saúde, mas afirma que outros
mecanismos poderiam ser utiilizados, como a criação de prontuários
eletrônicos para evitar encaminhamentos e exames desnecessários; e
o atrelamento da remuneração paga a médicos e instituições à
qualidade do serviço prestado.