O plantio da safra de inverno já
começou, mas agricultores ainda estão sem garantia de pagamento do
governo para subvenção referente à colheita passada
O governo federal ainda não
sinalizou o pagamento atrasado de até R$ 630 milhões em subvenções
para o Programa Seguro Rural (PSR), o que ameaça a renovação de
apólices em todo o País. O montante pode chegar a R$ 690 milhões no
fim deste mês e pode deixar descobertos os produtores que estão
iniciando o plantio da safra de inverno. Somente no Paraná, são 31
mil contratos ao ano que garantem um valor de R$ 3,2 bilhões,
segundo a Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep).
Apesar da demora, a ministra da
Agricultura, Kátia Abreu, tem dito que a pasta está mobilizada para
pagar a fatura, o que acalmaria seguradoras e produtores rurais. No
entanto, a quitação depende de o governo federal conseguir que o
Congresso aprove o Orçamento da União e o ajuste fiscal proposto
pelo Ministério da Fazenda, que têm encontrado resistências em
Brasília.
Por outro lado, a Secretaria de
Estado da Agricultura e Abastecimento (Seab) deve publicar hoje, no
“Diário Oficial do Estado”, qual será o percentual de subvenção
estadual para o seguro rural. A expectativa da Faep é que seja
repetido o índice de 15% do ano anterior.
Economista da federação, Pedro
Loyola afirma que a tendência é que os produtores aguardem para
assinar os contratos até 20 de abril, período em que deve ocorrer a
aprovação orçamentária que facilitaria o estabelecimento de regras
junto às seguradoras para as novas apólices. Após a data, a
tendência é que as lavouras de inverno estejam mais desenvolvidas,
o que dificultaria a obtenção de seguro.
Como houve atraso na colheita da
última safra, entretanto, o setor conta com um tempo extra, ainda
que curto, o que faz com que muitos agricultores já tenham começado
a procurar as instituições financeiras para negociar
financiamentos. “Temos a expectativa que o governo libere a
subvenção, mas a preocupação é com a burocracia”, diz o
economista.
Conforme Loyola, um agricultor que
contrate empréstimo de R$ 100 mil para plantar trigo, por exemplo,
terá custo equivalente ao prêmio do seguro em R$ 15 mil. Desse
valor, R$ 2,5 mil seriam pagos pelo produtor e o resto, dividido
entre subvenção do governo federal (70%) e estadual (15%). “Tememos
que os produtores fiquem sem seguro, porque eles não vão contratar
se tiverem de pagar todo esse valor”, explica o economista.
Outra opção seria procurar o
Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro), que
poderia fazer com que o custo aos agricultores fosse semelhante ao
da subvenção. Porém, Loyola diz que os paranaenses não costumam
aderir ao plano devido à complexidade das regras.
Para o presidente do Sindicato
Rural Patronal de Londrina, Narciso Pissinati, as seguradoras já
estão cautelosas devido ao atraso no pagamento de subvenções por
parte do governo federal no segundo semestre de 2014. “Sem isso, o
produtor terá de assumir o risco e, durante a safrinha, esse risco
é maior”, conta.
Pissinati considera que a situação
ainda possa se prolongar por mais dois meses, quando será anunciado
o Plano Safra. A Faep e outras entidades do setor enviaram no mês
passado propostas para o Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (Mapa), entre as quais a garantia de R$ 1,2 bilhão
para o seguro rural, com R$ 300 milhões para pagamentos retroativos
a apólices da safra anterior.
De acordo com o Tesouro Nacional,
que a subvenção ao prêmio do seguro rural é de natureza
discricionária e, portanto, concorre com as demais despesas do
Mapa, cujo limite de pagamento, até o mês de abril, é de R$ 544
milhões. Dentro desse limite de orçamento, a pasta tem de
escolher.