Depois de desbancar concorrentes de
peso com uma oferta bilionária e arrematar a carteira de seguros de
grandes riscos do Itaú Unibanco, a seguradora americana Ace vai
incorporar suas operações no Brasil. A "nova" empresa possui mais
de R$ 1 bilhão em prêmios, tem foco no segmento empresarial e será
comandada por Antonio Trindade, até então presidente da Itaú
Seguros Corporativos.
Ainda no primeiro semestre, a
seguradora vai submeter a incorporação à Superintendência de
Seguros Privados (Susep), que regula o mercado. Como praticamente
dobrou seu quadro de funcionários com a chegada da equipe que era
do Itaú, totalizando cerca de 700 pessoas, também vai mudar de sede
até o mês que vem. A companhia, que será rebatizada para Ace
Seguradora, vai transferir seu escritório na Avenida Paulista, em
São Paulo, para um espaço maior no Eldorado Business Tower, em
Pinheiros.
"As operações de Itaú e Ace são
absolutamente complementares. Isso facilita e agiliza o processo de
integração. Queremos ser a seguradora de pessoas jurídicas, das
grandes, mas também das pequenas e médias empresas no Brasil", diz
Trindade, em entrevista exclusiva ao Broadcast, serviço de notícias
em tempo real da Agência Estado, a primeira desde que assumiu o
comando da Ace no Brasil.
Não há sobreposição em segmentos
nem na parte de back office, conforme o executivo. Enquanto a
seguradora do Itaú tinha foco somente em grandes riscos, a Ace é
forte, segundo ele, em afinidades, canal que customiza apólices
para o varejo ou empresas, vida, patrimônio e responsabilidade
civil (P&C) e também em grandes riscos, mas com atuação mais de
nicho como em transportes, garantia e linhas financeiras.
Ao unificar as operações, a
companhia ganha musculatura não só no País bem como em dimensões
globais. Passa a ser a primeira operação na América Latina do grupo
com patrimônio de mais de R$ 2 bilhões e ativos que ultrapassam os
R$ 7 bilhões. Galga ainda o posto de terceira maior operação da Ace
no mundo, atrás somente de Estados Unidos e Reino Unido. Antes,
ficava entre as "top 15".
Sem revelar números, Trindade diz
que os planos da Ace para o País são de crescimento em 2015 ainda
que as expectativas macroeconômicas apontem para mais um exercício
de recessão e um ano "morno" em grandes riscos. "As grandes
empresas vão continuar funcionando e segurando os seus ativos",
observa ele.
Além da expansão natural por conta
da unificação das duas operações, há ainda, segundo o executivo, o
estímulo que deve vir de novos segmentos como seguro garantia,
liderado por JMalucelli e BTG Pactual, e a abertura de fronteiras
para programas de apólices globais, seguindo empresas brasileiras
que se expandem internacionalmente. Como parte da sua estratégia de
crescer em garantia, a companhia vai trazer para o Brasil, de
acordo com Trindade, a plataforma da seguradora mexicana Fianzas
Monterrey, adquirida pela Ace em 2012 e líder neste segmento.
"Temos muita disposição e, mais do
que isso, conhecimento. Pretendemos dar trabalho em seguro garantia
para quem quer que seja. Essa indústria tem espaço para crescer e
para vários players", afirma Trindade.
Por outro lado, a seguradora vai
descontinuar carteiras que não façam sentido estratégico como
seguro de automóvel, conforme o executivo. Ele explica que além de
pequeno, a carteira não traz vantagem competitiva para a operação
da Ace no Brasil e, portanto, a partir deste mês já não fará mais
parte do portfólio da companhia.
Em relação aos rumores de redução
da carteira de grandes riscos após migração do Itaú para a Ace, o
executivo diz que alguns contratos não foram renovados porque não
eram interessantes para a companhia. Garante ainda que ao unir as
duas operações formará uma seguradora ainda mais criteriosa na
análise e aceitação de risco, processo esse conhecido como
subscrição no mercado, ao integrar ambos os modelos.
O Itaú detinha contratos com
gigantes brasileiras como Petrobras, Vale e Odebrecht que agora
estão sob o guarda-chuva da Ace que segue com apetite para crescer
em grandes riscos, cujo market share é estimado pelo mercado em
cerca de 18%. Questionado sobre a possibilidade de os
desdobramentos da Lava Jato resultarem em sinistros para a
companhia, Trindade diz apenas que não há "tensão". Acrescenta
ainda que a seguradora tem interesse em participar da renovação do
seguro operacional da Petrobras que deve acontecer em breve e do
qual já participa há 15 anos.
A Ace desembolsou R$ 1,515 bilhão
pela carteira de grandes riscos do Itaú e desde novembro está
debruçada na integração das duas operações. Presente em mais de 54
países, a companhia foi mais agressiva que a japonesa Tokio Marine,
a alemã HDI e, por último, a francesa Axa. Sobre novas aquisições,
Trindade diz que o foco, agora, é orgânico.