Susep prioriza educação
financeira; ANS, diálogo; e Previc, integração na busca do
crescimento
O superintendente da Susep, Roberto
Westenberger, apontou a automação da autarquia e a educação
financeira como duas importantes contribuições para o crescimento
do setor. Ele participou do painel sobre as perspectivas do
mercado, um dos realizados no 20º Encontro de Líderes do Mercado
Segurador, promovido pela CNseg, ao lado do diretor da ANS, José
Carlos Abrahão, e do diretor superintendente da Previc, Carlos de
Paula. Já José Abrahão defendeu um “debate construtivo e
transparente com as operadoras para aperfeiçoar o marco regulatório
da Saúde Suplementar, com foco na sustentabilidade. E Carlos de
Paula garantiu que a sinergia dos órgãos de supervisão desses
mercados é relevante na busca de respostas a desafios comuns
importantes, como a transição demográfica, a longevidade e
limitações orçamentárias. Para Carlos de Paula, estes mercados
podem, juntos, gerar resultados bastante expressivos nos próximos
anos em termos de ampliação da proteção da população e em prol de
sua qualidade de vida.
Na Susep, a automação é essencial
para que a autarquia tenha um funcionamento “regular, eficiente,
republicano”, e cumpra seu papel de indutor do crescimento”,
explica Westenberger. Sem ignorar a preocupação do setor com os
ajustes que terão de ser realizados para acompanhar as mudanças
propostas pela autarquia, o superintendente tranquilizou os
executivos do mercado. “Não podemos conviver com uma carroça
tecnológica, ainda do tempo do mercado fechado.
O FIP, baseado em informação
avulta, tem um aparato antiquado. Por não ser online, real time,
faz que a reação da Susep seja tardia, às vezes. Mas as mudanças
não ocorrerão de forma abrupta, mas vão ocorrer”. Na sua opinião, a
automação fará a Susep contar com um modelo de dashboard (de
monitoramento da solvência). “A Susep precisa ser rápida no gatilho
e tem de contar com uma adequada aferição da solvência medida por
um ponteiro por cada empresa. É um esforço efetivo para que o
ponteiro fique sempre no verde, mas, se passar para o amarelo,
possamos intervir, tentando impedir que chegue ao vermelho”,
afirmou ele, acrescentando que não haverá interesse da autarquia
nas informações comerciais das empresas, mas sim no movimento dos
ponteiros”, declarou ele.
A automação, para ele, é também uma
consequência natural da adesão da Susep ao modelo de supervisão
baseado em riscos, estando em linha com dois dos pilares da
Solvência II: Pilar II (atividade de supervisão) e Pilar III
(transparência e divulgação da informação). “O futuro é remoto”,
assegurou ele. Ele também destacou a importância da parceria com a
CNseg na área da educação financeira, exortando o mercado a adotar
mais ações nesse campo. Para ele, a falta de educação financeira
adequada limita o potencial de crescimento do mercado segurador.
“Não ter uma população educada do ponto de vista financeiro
colabora para que a participação do mercado no PIB ainda patine,
quando já poderia ser bem maior, se as pessoas conhecessem melhor
nossos produtos. Em razão desse quadro, há uma carga muito pesada
sobre o corretor de seguros, que fica encarregado de catequisar os
consumidores, que não conhecem os vários mecanismos de proteção
existentes no mercado de seguros, inclusive entre clientes da
classe A.
Como o seguro é pouco difundido, é
também pouco consumido, portanto”, asseverou ele. No encontro, o
superintendente informou ainda que encaminhou um paper de duas
páginas ao Ministério da Fazenda com sete pontos fundamentais para
o desenvolvimento do mercado. Sem mencionar todas, destacou o
projeto de modernização do marco regulatória da Susep, que
dependerá de aprovação no Congresso Nacional. “E temos de blindar
esse modelo, para que não haja descontinuidade do processo de
gestão profissional, essencial para garantir a solvência e a
transparência das informações”, adiantou ele. O
diretor-superintendente da Superintendência Nacional de Previdência
Complementar (Previc), Carlos de Paula assinalou que há problemas
comuns entre os fundos de pensão e os pares do mercado segurador,
como a falta de conhecimento adequado de seus benefícios. “O nível
de preocupação dos participantes de fundo de pensão só aparece lá
pelos 40 ou 50 anos, quando deveria ser permanente. A educação
financeira é uma contribuição importante para eliminar este gap”,
afirma ele.
Para Carlos de Paula, é também
muito importante para o País que os órgãos de supervisão dos
mercados promovam uma maior integração entre si, para não só criar
mercados fortes, mas instituições de regulação igualmente fortes.
Na sua palestra, ele detalhou o funcionamento da Previc, apresentou
os grandes números dos fundos de pensão e o ambiente regulatório. O
sistema de fundo de pensão hoje conta com 1.099 planos de
benefícios, mais de 3 mil patrocinadores/instituidores, 3,2 milhões
de participantes, 317 entidades fechadas de Previdência
Complementar (EFPC) e ativos totais de R$ 712,1 bilhões-até julho
de 2014.“Só no segmento de previdência fechada, o País ocupa a
oitava posição no ranking mundial. Se incluída a previdência
privada, podemos considerar que nosso mercado tem uma presença
bastante razoável e ainda pode crescer significativamente nos
próximos anos”, destacou ele, lembrando que os fundos de pensão,
tendo em vista o aumento da expectativa de vida, dependerão de
produtos provenientes do mercado segurador para atenuar o risco de
sobrevida, sem recursos suficientes. Já o diretor da ANS, José
Carlos Abrahão, destacou a necessidade de aprimorar a regulação de
saúde suplementar. Para ele, a governança regulatória e gestão de
riscos precisam sair do discurso e virar realidade no mercado de
Saúde Suplementar, porque, do contrário, este setor não será
sustentável.
Ele explica que a ANS não mira só a
sustentabilidade econômica, mas também a assistencial, tendo em
vista a qualidade de vida dos brasileiros. “A nossa regulação,
portanto, tem de ser segura e sólida. A fiscalização não tem de ser
punitiva, mas equilibrada, cabendo aos órgãos reguladores trabalhar
nesse sentido, além de gerar uma competição mais equilibrada”. Ele
defendeu um debate franco de todos os pares da cadeia de saúde, com
a identificação de pontos de convergência para a atualização do
marco regulatório. A seu ver, a revisão deve começar já e ser
pragmática, porque o setor já enfrenta pressões de custos
crescentes. A área de saúde, incluindo o SUS e o braço privado,
responde por algo entre 9% e 10% do PIB, e a maior parte dos seus
investimentos está a cargo da área privada, explicou. Na busca de
maior eficiência e gastos mais racionais, ele prega maior sinergia
entre os pares públicos e privados, redução das ações duplas,
combate aos desperdícios e número mais racional de exames, já que o
País supera com folgas a maioria das nações da OCDE. “Quem paga
essa conta é a sociedade, seja por meio do seguro, seja por meio de
sua contribuição ao governo”
Ele lembra os recursos na área de
saúde, mas as necessidades infinitas. “A saúde não tem preço, mas
medicina tem custo. A sociedade precisa ser incluída no debate
sobre o número excessivo de cesarianas ou cirurgias eletivas, e
estar consciente de seus elevados custos. Ou seja, temos de
repensar onde estamos e onde queremos ir”, destacou. Ainda mais
porque há perspectivas de custos crescentes, em razão do
envelhecimento, combinado com o aumento da sobrevida, e o País não
está se preparando para as mudanças a caminho. “Não preparamos a
estrutura econômica, assistencial, as equipes, e sequer a própria
construção de hospital ou nossas casas para uma população que está
envelhecendo. E não podemos adiar mais isso”, Além da alteração
gradual da demografia e do perfil de patologia, algo que gera gap
no sistema de mutualismo das operadoras, a judicialização hoje é
outro problema sério do sistema nacional de saúde. “Não podemos
continuar com o poder da caneta a assegurar um procedimento não
autorizado, com custo que afeta a todos para privilegiar um pequeno
número de pessoas. Aos poucos, isso torna o sistema
insustentável”.