Um jogo de empurra coloca em dúvida
o futuro do Seguro Rural da safra 2014/2015. Na divulgação do Plano
Safra, em maio do ano passado, foram anunciados R$ 700 milhões para
subvenções do seguro. Mas somente R$ 400 milhões foram repassados
às seguradoras e ninguém sabe dizer quando os R$ 300 milhões
faltantes serão liberados.
O governo federal paga, em média,
50% dos contratos, o chamado “prêmio”. Caso a subvenção não seja
feita, a conta virá para o produtor, ou seja, 100% do valor da
apólice. A Federação da Agricultura e Pecuária do Paraná (Faep)
estima que 60 mil apólices estejam nesta situação.
Mesmo contando com somente R$ 400
milhões disponíveis para esse fim no Orçamento de 2014, o
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) garantiu
que os pagamentos seriam feitos. Em dezembro, a Frente Parlamentar
do Agronegócio (FPA) e o Mapa colocaram em votação o Projeto de Lei
32/2014, que pedia o crédito suplementar dos R$ 300 milhões
restantes da subvenção.
O PL 32/2014 foi aprovado no dia 17
do mesmo mês e sancionado pela presidente Dilma Rousseff no dia 30.
A publicação no Diário Oficial da União aconteceu no apagar das
luzes do ano fiscal: 31 de dezembro. Teria dado tudo certo não
fosse por um detalhe: segundo fontes do Canal Rural, faltou uma
portaria do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão que
autorizasse a inclusão dos R$ 300 milhões nos “restos a pagar” do
Orçamento 2015, o que empurrou a pendência para este ano.
A Lei 10.823 não autoriza
pagamentos de apólices do ano anterior com verba do ano vigente,
portanto o pagamento da subvenção não poderia ser feito. Uma das
alternativas seria efetuar o repasse este ano e alterar a data das
apólices pendentes para 2015, como forma de garantir o pagamento
dos prêmios.
Segundo uma fonte do Canal Rural,
esse método não seria aceito pela Superintendência de Seguros
Privados (Susep), o que impossibilitaria o pagamento da subvenção.
A Susep afirmou que o assunto não é de sua alçada e empurrou o
esclarecimento para o Ministério da Agricultura.
Fontes dentro do Mapa garantem que
novo pedido foi realizado ao Ministério do Planejamento e que há
conversas para que a questão seja solucionada “o quanto antes”.
Procurado, o Planejamento afirmou que recurso poderá ser utilizado,
mas não disse quando serão liberados os R$ 300 milhões. A aprovação
do Orçamento 2015 seria a pendência.
– O Plano Safra vai de julho de
2014 a junho de 2015. Assim, a dotação prevista no PLOA 2015 para o
seguro rural, no valor de R$ 700 milhões, poderá ser utilizada para
a safra 2014/2015. Os recursos alocados na PLOA 2015, enquanto não
for sancionada a Lei Orçamentária, poderão ser executados até o
limite de um doze avos do valor previsto para esta finalidade
(seguro rural), respeitado o valor global de 1/18 avos mês de cada
órgão, até a publicação da respectiva Lei – diz o Ministério, em
nota.
Solução ainda é possível
Conversamos com o ex-ministro Luís
Carlos Guedes, que possui experiência com Seguro Rural. Guedes
comentou que, em 10 anos, os atrasos nas subvenções sempre
existiram. Embora o contrato diga que o produtor será o
responsável, ele garante que nunca viu produtores rurais arcando
com os custos.
O ex-ministro da Agricultura pontua
que uma solução ainda é possível, mas precisa do entendimento entre
três ministérios: Planejamento, Agricultura e Fazenda. Ele afirma
que é um processo desgastante para todos os envolvidos, mas que o
governo dificilmente deixaria uma conta de R$ 300 milhões para os
agricultores.
Uma fonte do Mapa disse que
acredita ser pouco provável o governo não pagar os R$ 300 milhões,
mas lembrou que o Ministério tem uma equipe nova sendo composta,
com outra filosofia.