O
otimismo manifestado pelo superintendente da Susep, Roberto
Westenberger, durante almoço do CVG-SP, no final agosto, é um bom
motivo para se acreditar que, desta vez, o VGBL Saúde chegará ao
mercado. Segundo ele, o Ministério da Fazenda tem dado todo apoio à
autarquia e, portanto, a Receita Federal e os demais órgãos
vinculados à pasta estariam mais propensos a aprovar a isenção
fiscal para o produto. Com essa crença, a Susep colocou em consulta
pública, entre agosto e setembro, a minuta de resolução com as
regras para a operacionalização do produto.
Se a
expectativa de Westenberger se confirmar, será uma grande conquista
para o mercado e, principalmente, para o consumidor. Faz quase uma
década que se fala no Brasil sobre a criação de um produto híbrido
de previdência e saúde, que ofereça ao trabalhador a possibilidade
de constituir reservas para custear os gastos com saúde na fase da
aposentadoria. Gastos estes que, de acordo com pesquisa do
Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), já comprometem
entre 40% e 70% do orçamento de idosos de baixa renda.
Apesar dos bons propósitos, o VGBL Saúde – que já
foi chamado de PrevSaúde e de PGBL Saúde – sempre esbarrou na
questão tributária. Mas o presidente da Federação Nacional de
Previdência e Vida (FenaPrevi), Osvaldo Nascimento, apresenta um
argumento que poderá vencer a resistência do governo. Ele cita o
risco de instabilidade social gerado por eventual agravamento da
crise na saúde. “Esse risco pode ser minimizado com o VGBL Saúde,
uma poupança com vantagem tributária”, afirma.
Outros obstáculos
A
isenção fiscal é o maior desafio à implantação do VGBL Saúde, mas
não o único. A advogada Ivy Cassa, presidente do Grupo de Trabalho
de Previdência Privada da Associação Internacional de Direito de
Seguro (AIDA), ressalta a necessidade de aprovação de uma lei que
permita essa isenção e que também torne o produto interessante do
ponto de vista fiscal para as empresas que queiram oferecê-lo como
mais um benefício aos seus empregados.
Nesse
sentido, o Projeto de Lei 7052/14, de autoria do deputado Armando
Vergílio (SD-GO) poderá oferecer o amparo legal ao VGBL Saúde. Mas,
até que o projeto seja aprovado, Ivy considera um tanto prematuro
acreditar que o produto nasça no curto prazo. “Sem o ajuste da
legislação tributária, o produto não se sustenta”,
avalia.
Do
ponto de vista jurídico, a advogada levanta outras questões
importantes sobre o funcionamento do VGBL Saúde. Uma é a
possibilidade de ser considerada “venda casada” a comercialização
do produto por empresas cujo grupo possua operadoras de saúde e
seguradora de vida. “Estas empresas não poderão condicionar a
contratação do VGBL Saúde à de um plano de saúde ou vice-versa. Os
produtos deverão ser contratados de maneira independente”,
adverte.
Outra
questão que pode preocupar no futuro é a possibilidade de
judicialização do produto, caso não fique claro para o consumidor a
diferença entre VGBL Saúde e plano de saúde. “Os juízes terão de
entender que são conceitos distintos e que o fato de um
participante contribuir para um VGBL Saúde não significa, por
exemplo, que seu plano de saúde seja contributário, ou, ainda, que
a mera acumulação de recursos servirá como garantia para uma
cobertura integral”, diz a advogada.
Solvência
Ivy
explica que a natureza da previdência privada é contributiva,
calcada nas reservas acumuladas. “Só há direito àquilo que
efetivamente se contribuiu, sem mágica ou milagre”, diz. Daí porque
ela também chama a atenção sobre a rentabilidade do VGBL Saúde, que
em virtude da inflação médica poderá não acompanhar os reajustes
dos planos de saúde. “É importante que o segurado faça uma
avaliação periódica das suas metas de acumulação, com base nos
reajustes dos planos, para não se decepcionar no futuro”,
orienta.
A
mesma opinião tem a atuária Magali Zeller, diretora de Atuária da
APTS. Ela se preocupa com a possibilidade de “frustração do sonho
de consumo do trabalhador”. Por isso, defende a adoção de regras
bem definidas e transparentes, tanto sobre a fase de acumulação
como a de transferência. No modelo desenhado pelo mercado, os
recursos do VGBL Saúde seriam transferidos da seguradora
diretamente para a operadora de plano de saúde na fase de
acumulação e na de concessão do benefício, sem passar pelas mãos do
segurado.
Mas,
nesse aspecto, a FenaPrevi, que trabalhou junto com a Susep na
construção do modelo do VGBL Saúde, está atenta. Durante sua
participação em almoço do CVG-SP, no final de agosto, o presidente
da FenaPrevi, Osvaldo Nascimento, demonstrou preocupação com a
preservação dos recursos poupados no longo prazo. “Tratam-se de
recursos que serão acumulados pelo cidadão para pagar um plano de
saúde quando se aposentar. É bom que esses recursos existam. Por
isso, não podemos perder de vista a questão da solvência”, disse.
“O nosso propósito é ajudar a resolver a questão da saúde no país
para as pessoas de baixa renda”, reforçou.