“Para o setor segurador, a
sustentabilidade sempre foi um pilar insubstituível”, afirma
presidente da CNseg
Em
1987, foi lançado um dos mais importantes documentos sobre a
relação do homem com o meio ambiente. Elaborado sob a coordenação
de Gro Brundtland, primeira-ministra da Noruega e presidente da
Comissão Mundial das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento, ‘Nosso Futuro Comum’ usou, pela primeira vez, a
expressão ‘desenvolvimento sustentável’. Trata-se de conceito
cristalino: é o desenvolvimento que ‘satisfaz as necessidades
presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de
suprir suas próprias necessidades’.
Hoje, parece incrível que essa definição tenha soado para muitos,
há menos de 3 décadas, como ameaça à prosperidade das nações. A
sustentabilidade é um conceito que se firmou como único caminho
para fazer frente não apenas às mudanças climáticas, mas também aos
desafios econômicos e sociais que se multiplicam pelo mundo. Para o
setor segurador, no entanto, a sustentabilidade sempre foi um pilar
insubstituível. Por sua própria natureza, o seguro deve,
obrigatoriamente, atender ao presente sem comprometer o futuro. Por
esse motivo, a CNSeg (Confederação Nacional das Seguradoras) vem
reafirmar que as empresas do setor estão credenciadas a dar sua
colaboração para que o Brasil faça com sucesso a transição para uma
sociedade sustentável.
De
início, vale lembrar que desde 2012, quando a ONU lançou os
Princípios para Sustentabilidade em Seguros, a CNseg incluiu em sua
agenda a integração de critérios ambientais, sociais e de
governança (ASG). O caminho provou-se de acerto inequívoco. Hoje
está amplamente demonstrado que empresas com boas métricas de ASG
são mais resilientes e geram mais valor a longo prazo. Isso
acontece porque elas gerenciam melhor os riscos e oportunidades
socioambientais e possuem governança robusta, o que lhes permite
atravessar com mais tranquilidade períodos turbulentos como os
atuais.
Em
2020, a pandemia de covid-19 poderia ter deixado em 2º plano essa
questão. No entanto, ocorreu o contrário. A crise sanitária global
tornou ainda mais evidente a necessidade de valorizar a
sustentabilidade ambiental e a social de médio e longo prazos. Não
apenas porque evidenciou a enorme desigualdade no acesso à
prevenção e ao tratamento da saúde, mas também porque mostrou como
a desaceleração de alguns setores de atividade poluente foi
benéfica para o meio ambiente. A crescente consciência da sociedade
global sobre os riscos associados às mudanças climáticas
fortaleceu-se ainda mais. Nas empresas, essa é uma preocupação que
vem à frente dos demais desafios desta segunda década do século 21.
A maior gestora de ativos do mundo atesta que nenhuma questão
supera o risco climático na lista de prioridades de seus
clientes.
Por
trás dessa tomada de consciência estão dados alarmantes. De acordo
com a Organização das Nações Unidas, o número de catástrofes
naturais -inundações, incêndios e furacões, entre outras-
decorrentes do aquecimento global dobrou em 4 décadas. De 1980 a
1999, ocorreram 3.656 catástrofes, número que passou a 6.681 de
2000 a 2019. Os prejuízos chegam a US$ 3 trilhões desde 2000, mas o
número real é maior, uma vez que muitos países não calculam o
impacto dessas tragédias sobre a economia.
Para
se ter uma ideia, a quantia equivale à do pacote norte-americano de
estímulo à economia no âmbito da pandemia de covid-19. As
seguradoras têm também nesse aspecto uma importante contribuição a
oferecer: sua experiência em assumir e gerenciar, de forma eficaz,
riscos que lhe são transferidos, identificando oportunidades e
direcionando investimentos apropriados à dimensão de cada risco. O
‘seguro-catástrofe’, largamente utilizado em países como o México,
que garante a cobertura dos prejuízos provocados por terremotos de
intensidade acima da média histórica, é exemplo da importância
dessa expertise.
Muitos avanços foram feitos desde o relatório ‘Nosso Futuro Comum’.
Governos e empresas passaram a levar em conta o impacto ambiental e
social de suas ações e a exigir o mesmo cuidado de seus
fornecedores e clientes. Bancos têm levado em conta esses mesmos
critérios nos financiamentos que concedem. E há um esforço digno de
nota em aumentar a transparência no relacionamento com a
sociedade.
A
CNseg participou da atualização das normas que tornou mais
rigorosos os critérios de governança para as empresas investidas e
a consideração dos critérios ASG nos investimentos das seguradoras.
Atualmente, acompanha a bem-vinda decisão da CVM (Comissão de
Valores Mobiliários) de realizar audiências públicas para
estabelecer regras de ASG.
Como
um dos maiores investidores institucionais do país, com ativos
equivalentes a 27% da dívida pública brasileira, o setor tem
recursos e interesse em investir não só em ativos reconhecidamente
‘verdes’, como a produção de energias renováveis, mas também
naqueles que incentivam transição para um mundo sustentável, como o
saneamento básico.
A
CNseg defendeu a aprovação do marco legal do saneamento porque
entende que melhores indicadores de cobertura de água tratada e
esgoto sanitário são benéficos para toda a sociedade e podem
acarretar a redução dos custos dos seguros de saúde e da pressão
sobre o atendimento em decorrência da diminuição das doenças, além
da redução das taxas de mortalidade e diminuição da frequência e do
impacto de inundações que oneram o custo dos seguros patrimoniais.
Com a atualização do decreto de infraestrutura, o marco legal do
saneamento também amplia o papel do investimento privado que poderá
ser alocado, inclusive pelas seguradoras.
A
CNseg comemora os avanços e orgulha-se de ter contribuído para sua
implementação e consolidação. Lembramos, no entanto, que para que
continuemos a avançar na direção de um futuro sustentável, é
preciso que, no presente, a sustentabilidade esteja no centro de
todas as decisões. Os Princípios das Nações Unidas para o Seguro
Sustentável servem como uma estrutura global para a indústria de
seguros abordar riscos e oportunidades ASG. É indispensável a
obtenção de um acordo internacional que resulte em critérios
adaptados a cada região, que possibilitem comparar e verificar os
indicadores e resultados de cada empresa, assim como estabelecer
parâmetros transparentes para que um investimento seja considerado
sustentável. A padronização das especificações e termos que
classificam atividades ‘verdes’ pode ser de grande valia para
isso.
No
que se refere à regulação, é essencial que os órgãos responsáveis
reconheçam que estamos vivendo um período de transição, que exige
diálogo e flexibilidade, para que o indispensável arcabouço legal
não se torne entrave ao desenvolvimento de novos produtos. Por
último, mas não menos importante, a solidez financeira do sistema
precisa ser preservada, para que o setor possa continuar a
colaborar com o futuro do país.