Diz o ditado que toda moeda tem
dois lados. A regra se aplica à vida, mas na vida as possibilidades
são maiores, é possível se ter vários lados, todos bons e
verdadeiros. Mesmo sendo diferentes, estão todos certos, porque
isso depende de quem vê, de onde está e como interpreta.
É assim que, em meio à tragédia, o
coronavírus trouxe com a pandemia alguns pontos positivos. O
primeiro é a redução da poluição. Não apenas no Brasil, em cidades
como São Paulo, mas no mundo inteiro, em praticamente todas as
cidades onde a qualidade do ar dependia das emissões dos veículos
circulando por elas. Com o isolamento social adotado por quase
todos os países, diminuiu a circulação de veículos. Com isso
diminuiu a emissão de gases poluentes e, consequentemente, houve
uma mudança significativa na qualidade do ar que respiramos.
Esta redução tem efeito
extremamente positivo na saúde das pessoas. Com ar mais puro
melhora a condição de oxigenação e diminui a quantidade de veneno
ingerida pelos pulmões ao longo do dia. O resultado é que, se as
novas taxas se mantiverem, deve acontecer uma redução importante
nos totais de doenças respiratórias, alergias, doenças
cardiovasculares, câncer de diferentes tipos e outras decorrentes
do aumento da poluição.
Em outras palavras, estaremos
assistindo ao aumento da expectativa de vida dos moradores das
grandes cidades e melhorando os índices nacionais, até porque,
atualmente, há muito mais moradores nas regiões urbanas do que nas
regiões rurais. Isto leva a outro dado bom: pessoas com melhores
condições de vida tendem a ser mais saudáveis e, portanto, com
menores necessidades de assistência médico-hospitalar, o que leva à
diminuição dos custos crescentes e insuportáveis da saúde
pública.
O ar mais limpo tem outro aspecto
economicamente importante. Com menos elementos agressivos na
atmosfera haverá uma redução do desgaste de imóveis, máquinas, bens
e equipamentos de todas as ordens. A pintura durará mais, os
motores terão vida útil maior, diminuirá a corrosão dos mais
diversos materiais, etc.
De outro lado, o isolamento social
– ainda que no Brasil em patamares abaixo dos indicados pelos
especialistas em saúde–, que reduziu a quantidade de veículos
trafegando por ruas e estradas, reduziu também, de maneira lógica,
o número de acidentes de trânsito. Consequentemente, houve uma
redução no número de vítimas fatais, de inválidos e de pessoas
necessitando internação hospitalar ou tratamento nos
prontos-socorros. Aí, as vantagens são de duas ordens, uma de curto
prazo, representada pela possibilidade da destinação de um maior
número de leitos para o combate ao coronavírus, e uma de longo
prazo, pela redução de óbitos e invalidezes de todos os graus que
desestruturam as famílias e têm alto custo para a Previdência
Social.
Se até aqui as notícias são muito
boas, elas ficam melhores ainda quando os paulistanos verificam que
está acontecendo a redução do número de crimes contra o patrimônio.
De acordo com a polícia, que, diga-se, tem estado presente na
cidade, há uma nítida diminuição de roubos e furtos de imóveis e
veículos. E como as ruas estão mais vazias, há também a redução de
roubos e furtos de celulares e do ataque contra pessoas.
Finalmente, mas não menos
importante, a diminuição da poluição está criando cenários de
sonhos nos fins de tarde. A cor do céu de outono sempre foi a mais
bela das quatro estações. Sua profundidade e maior transparência,
mesmo com a forte poluição que estreitava os horizontes, fazia a
diferença. Agora, com o ar limpo, os pores do sol se transformam em
verdadeiras obras primas, como se o Criador quisesse mostrar que os
maiores pintores, os mestres das cores e das formas, não passam de
alunos de maternal perto das maravilhas que a natureza expõe
diariamente nos céus de São Paulo.
Pena que estas notícias boas não
consigam contrabalançar o tamanho da tragédia representada pela
pandemia do coronavírus. As milhares de mortes e a recessão
cobrarão seu preço da sociedade e das seguradoras ainda por um bom
tempo.