Alessandro Acayaba de Toledo falou sobre como aprimorar a
solução de conflitos do setor
O número de ações judiciais
relacionadas à saúde aumentou 130% na última década, segundo
pesquisa realizada pelo Insper para o Conselho Nacional de Justiça
(CNJ). Diante desse cenário, a judicialização crescente e as
maneiras de aprimorar a solução de conflitos foram temas de debate
na 6ª edição do seminário A Saúde do Brasil, realizado pela Folha
de S.Paulo nesta segunda-feira (27), em São Paulo. O presidente da
Associação Nacional das Administradoras de Benefícios (ANAB),
Alessandro Acayaba de Toledo, iniciou sua fala destacando que,
“antes de propor soluções, é preciso identificar quais são os
conflitos focados na área da saúde que vivenciamos no Brasil”.
Para levantar quais são os
principais desafios, a entidade encomendou à revista Consultor
Jurídico um estudo inédito – publicado no Anuário da Justiça Saúde Suplementar – que
identificou os quatro principais tipos de conflitos envolvendo
saúde no Estado de São Paulo: cancelamento de contrato, cobertura
contratual, reajuste de mensalidade e inadimplência.
Para exemplificar os litígios
relacionados ao cancelamento de contratos, Acayaba citou a
possibilidade de o Microempreendedor Individual (MEI) contratar um
plano coletivo empresarial, o que tem levado algumas operadoras de
planos de saúde a entrar com ações contra MEIs por fraudes. “Mais
de 1,5 milhão de MEIs tiveram seus registros cancelados junto à
Secretaria da Fazenda. Esse consumidor continua tendo plano de
saúde? As operadoras estão fiscalizando para que haja o
cancelamento?”, questionou o presidente da ANAB. Ele ressalta ainda
que muitas vezes os consumidores são induzidos ao erro por falta de
informação.
O reajuste das mensalidades é outro
assunto que gera polêmica e leva à judicialização, podendo ser
resolvido com normas mais claras e objetivas. “O consumidor tem que
ser informado periodicamente sobre a evolução do seu contrato para
que não seja surpreendido com um reajuste galopante”, defendeu
Acayaba.
O rol de procedimentos e direitos
em saúde também foi apontado pelos debatedores do seminário como um
dos pontos recorrentes em ações judiciais. “Em algumas
circunstâncias, você tem a operadora descumprindo as regras do
contrato, o que enseja a pessoa a buscar o Judiciário. Por outro
lado, algumas vezes o próprio consumidor deseja ir além do que o
contrato prevê. Com isso, o judiciário acaba abarrotado”, explicou
o executivo.
SOLUÇÕES PARA OS
CONFLITOS
Por parte do Judiciário, Henrique
Ávila, conselheiro do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), apontou
que as soluções para diminuir a judicialização da saúde passa pela
especialização e maior conhecimento do tema por parte dos juízes e
pela utilização de métodos alternativos de resolução de
conflitos. “A mediação é um modelo bem-sucedido para evitar a
judicialização”, indicou Bernardete Weber, superintendente de
Responsabilidade Social do Hospital do Coração (HCor).
A uniformização de entendimentos
pelo Judiciário, observando-se os precedentes e estabelecendo
jurisprudência, também é essencial para evitar que os conflitos se
tornem ações ou processos judiciais. “Incentivamos muito os NATs
(Núcleos de Apoio Técnico ao Judiciário), que subsidiam os
magistrados no momento de uma decisão, até porque eles não têm
conhecimento técnico do que está sendo decidido”, disse Acayaba.
Para ele, uma das contribuições da entidade é sugerir a mediação,
que funciona como notificação preliminar com o questionamento do
consumidor para as operadoras.
Na ocasião, Acayaba enfatizou
também a disponibilidade das administradoras de benefícios em
advogar pelos interesses e direitos dos consumidores de planos
coletivos.“Em junho, completamos 10 anos da nova regulamentação dos
planos coletivos e da atualização das atividades das
administradoras”, lembrou.
O seminário A Saúde do Brasil teve
a Associação Nacional das Administradoras de Benefícios (ANAB) como
um dos patrocinadores. Na edição deste ano, especialistas e
entidades debateram também novas estratégias de remuneração e
assistência para a saúde suplementar e como a tecnologia pode
colaborar para melhorar o sistema no Brasil.