O número de beneficiários de planos de saúde continua caindo em razão da crise econômica, da diminuição da renda e do encarecimento das mensalidades dos convênios. De acordo com o Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), em um período de 12 meses, de junho de 2017 a junho de 2018, 66.502 mil contratos de assistência médica foram cancelados no país. Atualmente, o número de beneficiários desses planos, no Brasil, é de 47,2 milhões.
Segundo dados da Nota de Acompanhamento de Beneficiários (NAB), do IESS, o número de beneficiários caiu em todos os meses do primeiro semestre de 2018. Em junho, último mês analisado, também houve queda em comparação ao mesmo período no ano passado.
Inicialmente, a Agência Nacional da Saúde Suplementar (ANS) previa uma ligeira alta, de 0,1%, no setor, na primeira metade do ano. No entanto, acabou por rever a estimativa para recuo de 0,1% no número de beneficiários dos convênios médicos.
Segundo Luiz Augusto Carneiro, superintendente executivo do IESS, a revisão dos dados pela ANS não configura incorreção. “Não se trata de qualquer tipo de erro ou desconfiança no que se refere à ANS. As variações próximas de zero devem ser vistas com cautela, pois, além da baixa oscilação, é comum que a agência reguladora revise os dados de beneficiários periodicamente devido a retificações feitas mensalmente pelas próprias operadoras de seguros e de planos de saúde”, explicou.
De acordo com Rodrigo Araújo, advogado especialista em Planos de Saúde, o encolhimento do mercado dos planos se explica pela crise econômica, que elevou o desemprego e atingiu fortemente a população brasileira. “O número de beneficiários tem caído já faz tempo, desde o início de 2015. Nos últimos três anos, os constantes reajustes das mensalidades foram as maiores queixas dos usuários, já que esses aumentos sempre foram superiores à inflação. Com o aperto no bolso, e novos reajustes anuais consumindo uma fatia maior da remuneração, o brasileiro precisa optar por priorizar gastos com educação, alimentação e moradia”, disse.
É o caso de Paula Silvana, 50 anos, administradora. “Eu já deixei de ter plano de saúde devido à forte alta no preço cobrado. A minha antiga operadora também não era muito aceita na rede hospitalar, o que dificultava ainda mais. Era um gasto desnecessário. No entanto, ontem, tive que contratar novamente um plano por necessidade, e buscando sempre o melhor preço. Encontrei franquias de até R$ 1.300. Como é algo pontual, cancelarei o contrato logo que não precisar mais dele. Está um absurdo”, reclamou.
Quem tem cobertura hospitalar por meio de contratos do tipo coletivo empresarial também contesta o serviço. É o caso de Lúcio Souza, 76, aposentando. “É muito caro, pelo que é oferecido. Às vezes, você precisa esperar um mês para ser atendido”, queixou-se Souza. Ele afirma que, se não possuísse o benefício, continuaria a arcar, individualmente, com a cobertura. “Apesar do altíssimo valor, eu pagaria. Em uma certa idade, é preciso ter cuidado. Para se ter ideia, daria algo em torno de R$ 3 mil para mim e minha esposa. Meus dois irmãos cancelaram o plano de saúde por não terem condições de assumir os gastos”, explicou.
Aumento no DF
No Distrito Federal, em comparação a 2017, houve aumento de 3.720 beneficiários de planos de saúde médico-hospitalares. O tipo coletivo empresarial foi o principal responsável pela alta. Já Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo foram as três unidades da federação que registraram as maiores perdas: 60.272, 52.021 e 48.537, respectivamente.
Carneiro, do IESS, acredita ser possível uma retomada ainda no segundo semestre deste ano. “Claro que as projeções iniciais para 2018 eram mais otimistas, mas o setor ainda espera encerrar o ano com um crescimento em torno de 250 mil novos vínculos”, afirmou.
Para 2019, o IESS prevê um crescimento superior a 1%. No entanto, na visão do advogado Rodrigo Araújo, é necessário cautela na previsão. “Essa expectativa de crescimento de 1% é normal, já havia essa perspectiva. No entanto, o que vai ditar isso será a melhora da economia nacional e a retomada do consumo, que não será algo imediato”, disse.